Postos de combustíveis vendendo o litro de álcool abaixo de R$ 2 tornaram-se raridade na capital. É o que mostra levantamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) atualizado na última sexta-feira. Segundo o órgão, dos 350 locais pesquisados, em 324 o preço do litro do álcool já havia ultrapassado a barreira dos R$ 2. Em duas verificações anteriores realizadas pelo Jornal da Tarde em março, também com base em informações da ANP, o número de estabelecimentos encontrados com o litro do álcool a R$ 2 ou mais foi menor: 9 na pesquisa de 10 de março e 39 no levantamento publicado em reportagem de 21 de março.
Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria, atribui a alta do combustível à valorização do preço do açúcar no mercado internacional por conta de demanda em países como Índia e China. Na bolsa de Londres, o produto entrou 2011 negociado a US$ 760 a tonelada. No fim de janeiro, o preço bateu nos US$ 828 e iniciou trajetória de queda.
Ontem, a cotação do produto na capital inglesa fechou a US$ 714 a tonelada. A valorização teria levado os produtores de cana-de-açúcar a dar preferência à produção de açúcar em detrimento do álcool.
Segundo números da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) o porcentual do produto destinado à produção do açúcar cresceu de 39% para 45% da produção total entre 2008/2009 e 2010/2011. O aumento da demanda pelo combustível também foi uma das razões da elevação do preço do litro pago pelos distribuidores às usinas. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em 25 de março o preço pago (sem contar os tributos) por litro aos produtores no Estado atingiu R$ 1,63 para cair a R$ 1,46 uma semana depois. Ainda assim, a valorização em relação aos R$ 0,77 pagos em abril de 2010 quase bate nos 90%.
Sérgio Prado, representante da Unica em Ribeirão Preto (SP), garante que os preços devem ceder com o início da safra, entre os meses de abril e novembro. “Algumas usinas começam a intensificar a moagem da cana, o que deve aumentar a oferta do produto”, explica Prado.
O , representante da Unica observa, ainda, que a opção de proprietários de carros bicombustíveis por gasolina à medida em que o preço do álcool aumentou vai mostrar retração no consumo, que leva a redução dos valores cobrados na bomba.
Alcides Leite, economista da Trevisan Escola de Negócios, também acredita em uma acomodação dos preços no período de safra, com os valores chegando perto de R$ 1,80. “Falta ao governo uma política de regulação de estoques do produto para enfrentar eventuais aumentos de demanda”, afirma.
Sylvio Lyra, professor de economia da FMU, também acredita na queda dos preços do álcool nos próximos meses. “As montadoras estão investindo em modelos alternativos, como carros elétricos”, diz.
O motorista Sinval Lopes, 41 anos, tem um veículo flex e há cerca de seis meses trocou o álcool pela gasolina. “Já não compensava mais usar álcool porque o rendimento é menor”, diz, referindo-se ao fato de que, segundo convenção do mercado, um litro de álcool tem desempenho 30% abaixo do que o equivalente em gasolina. Lopes afirma que quando a conta semanal de gasto com combustível atingiu R$ 250, ele decidiu pela troca.
A biomédica Camila Chavier, 29 anos, também mudou de combustível e passou a abastecer com gasolina há cerca de um mês. “O álcool ficou muito caro e deixou de compensar”, avalia.
Já o projetista Laércio Silva, 33 anos, afirma que deixou o combustível renovável de lado definitivamente. “Dificilmente vou voltar a usá-lo porque está muito caro e o rendimento do carro é menor.
Veículo: Jornal da Tarde