A presidente Dilma Rousseff desembarca hoje na Etiópia para dar um claro recado político aos países africanos: o Brasil quer estreitar as relações com o continente no momento em que a região registra uma crescente demanda por produtos importados e investimentos em infraestrutura. A sinalização será dada no discurso da presidente durante a cerimônia em comemoração aos 50 anos da União Africana.
As relações entre o Brasil e a África ganharam um novo fôlego durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidente brasileira foi convidada pela União Africana para representar a América Latina nas solenidades do Jubileu de Ouro da organização. Estados Unidos, China, União Europeia e Índia também receberam convites semelhantes, e devem enviar representantes de alto nível ao evento. São esperados na cúpula, por exemplo, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.
Esse quadro reflete o esforço das principais potências mundiais em expandir suas presenças na África. O continente registra um crescimento econômico superior à média mundial, apesar dos efeitos da crise financeira global. Com o objetivo de assegurar os meios necessários ao seu desenvolvimento e a infraestrutura logística indispensável a um incremento das trocas comerciais dentro da própria região, a União Africana lançou, em conjunto com o Banco de Desenvolvimento Africano, um ambicioso plano de investimentos em energia, transportes, recursos hídricos e tecnologia. Os 51 projetos prioritários do Programa de Desenvolvimento da Infraestrutura na África (Pida, na sigla em inglês) têm um custo estimado em US$ 67,2 bilhões.
Em outra frente, a África vê surgir uma classe média ascendente. "[A África] É uma força pelo seu consumo", comentou o embaixador Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, subsecretário-geral político do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. "São grandes transformações que abrem oportunidades. O mundo olha a África como a mais nova fronteira do progresso", disse ele.
Além de uma maior participação das construtoras brasileiras em obras de infraestrutura, o governo brasileiro vislumbra diversas oportunidades para os exportadores brasileiros na África. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), as vendas do Brasil para o continente africano cresceram de US$ 2,9 bilhões para US$ 12,2 bilhões entre 2003 e 2012. O continente passou a ser o quinto maior destino para os produtos brasileiros, perdendo apenas para China, EUA, Argentina e Holanda, que é uma porta de entrada da Europa.
A pauta de exportações para a África é formada majoritariamente por produtos industrializados, o que, na avaliação do governo, mostra que o Brasil também passou a atender as demandas africanas por produtos de maior valor agregado. Fazem parte dessa lista, por exemplo, tratores, aviões, máquinas e equipamentos, construções pré-fabricadas, veículos de carga, geradores e autopeças.
Mesmo assim, sobretudo devido à importação de petróleo, a relação comercial com a África é tradicionalmente deficitária para o lado brasileiro. O continente assumiu a condição de principal região fornecedora da commodity ao Brasil. E ganha destaque como fornecedor alternativo de adubos e fertilizantes.
No acumulado entre janeiro e março de 2013, a balança comercial entre o Brasil e a África registra um saldo negativo de US$ 635,5 milhões. O resultado é fruto de US$ 2,6 bilhões em exportações e US$ 3,2 bilhões em importações.
Dilma deve estar acompanhada dos ministros Antônio Patriota (Relações Exteriores), Aloizio Mercadante (Educação), Desenvolvimento (Fernando Pimentel), Marco Antonio Raupp (Ciência e Tecnologia) e Luiza Bairros (Igualdade Racial). Antes de participar da cúpula da União Africana, está prevista para hoje uma reunião entre Dilma e o primeiro-ministro etíope, Hailemariam Desaleg. Eles devem assinar um acordo de cooperação nas áreas de ciência e tecnologia e serviços aéreos, o que pode viabilizar a criação de um voo direto entre os dois países.
Veículo: Valor Econômico