Pode ser em São Paulo, em Belo Horizonte, em Santiago, em Roma ou em qualquer outra das cerca de 6 mil lojas da rede espanhola Zara no mundo. Pode ser inverno ou verão. Não importam a geografia e o clima: os suéteres e cardigãs femininos de algodão e tecidos sintéticos sempre estão lá – empilhados, atraentes, em grandes mesas bem no centro das lojas, em diversos cortes, tamanhos e cores.
As etiquetas deixam bem claras as origens daquelas peças tão "necessárias" para qualquer mulher ocidental de classe média que trabalhe e deva estar preparada para as mudanças de temperatura ao longo do dia (e para conviver com os aparelhos de ar condicionado dos escritórios): sempre são "made in" países periféricos, sobretudo Camboja, Vietnã e Bangladesh.
Você, consumidora bem informada, já sabe da situação pouco favorável das pessoas que, nesses lugares, e por muito pouco, costuram os suéteres. Mas aquela voz interna (que nem sempre é boa conselheira) insiste em lembrar que aquelas peças são muito úteis ("serão usadas por um bom tempo", diz a voz) e você decide relevar as origens das roupas e compra mesmo assim – e em grande quantidade. Afinal, como cada uma custa, no Brasil, não mais que R$ 80, dá para fazer um bom estoque com cores e modelos variados. E como esquecer que o funcionário do caixa sempre vai perguntar: "quer parcelar em três vezes sem juros no cartão?"
O consumidor brasileiro que estiver, de fato, disposto a mudar essa situação, deve saber que trocar "as blusinhas de frio da Zara, da GAP, da H&M" por peças semelhantes feitas no Brasil por algumas poucas marcas que ainda têm fabricação própria vai custar pelo menos o triplo: um suéter de tricô de algodão não sai por menos de R$ 300 – custo que, você sabe, inclui salários mais dignos do que os dos trabalhadores do sudeste asiático e encargos trabalhistas das costureiras brasileiras. A mudança de atitude envolve, portanto, aspectos financeiros e até filosóficos e sociais. A pegunta é: "preciso mesmo comprar, muitas vezes, tantas peças, de tantas cores?". Vale a reflexão.
Atenções e cuidados com a imagem
O varejo de vestuário no Brasil é um setor bastante relevante na economia, com poucas grandes empresas que têm faturamento na casa dos bilhões de reais e milhares de pequenos negócios. As gigantes do setor – C&A, Lojas Renner, Lojas Marisa e Riachuelo – trabalham com peças importadas (principalmente nas coleções de inverno) e, portanto, devem estar sempre atentas às origens do que vendem para evitar problemas de imagem. Atenção também é necessária para as peças fabricadas no Brasil, feitas por centenas de confecções de pequeno e médio portes, cujo monitoramento pode ser complexo.
Nesse topo do varejo nacional de vestuário, três empresas têm ações negociadas na BM&FBovespa e, por isso, têm compromissos de divulgação de informações sobre seus negócios e sua cadeia de valor – Lojas Renner e Marisa (ambas no Novo Mercado, nível de maior exigência de transparência nas informações) e Riachuelo (representada pela tradicional indústria Guararapes). Essas redes, nos balanços trimestrais, relatam as condições do trabalho dos fornecedores, mas em níveis diferentes de detalhes. Uma análise atenta dos balanços mostra que a Lojas Renner é a que produz relatórios mais detalhados. Já a C&A, sem capital aberto, não apresenta seus dados (o mesmo ocorre no exterior, já que a rede de origem holandesa continua sendo uma empresa familiar de capital fechado).
Essas redes têm muita força diante de seus fornecedores, de uma maneira geral. Como elas têm faturamentos crescentes, extensas redes de lojas, grande visibilidade no mercado e milhões de clientes fiéis, podem fazer uma série de exigências para os fornecedores, selecionados por critérios como qualidade e preço. A Lojas Renner, por exemplo, afirma no balanço adotar uma rígida política de seleção de fornecedores, que são incentivados a participar de treinamentos que os ajudem a melhorar seus serviços e obrigados a receber auditorias que atestem que as confecções não ferem regras trabalhistas. A Riachuelo tem um trunfo a mais diante das confecções: faz parte de um grupo dono das indústrias Guararapes, que fornecem exclusivamente para suas lojas. Cerca de 50% das vendas da Riachuelo são de produtos saídos das unidades da Guararapes.
Segundo o ranking do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) referente a 2011, por faturamento, as maiores empresas do setor no País são C&A (R$ 3,847 bilhões), Lojas Renner (R$ 2,896 bilhões), Lojas Marisa (R$ 2,450 bilhões) e Riachuelo (R$ 2,444 bilhões).
Veículo: Diário do Comércio - SP