Os fundos que especulam nos mercados de commodities montaram a maior aposta na queda dos preços do milho desde 2005 diante da expectativa de uma safra recorde nos Estados Unidos.
Conforme relatório divulgado na sexta-feira pela Comissão de Comércio de Futuros de Commodities, os investidores institucionais encerraram a semana do dia 23 com um saldo de 83,36 mil contratos (entre futuros e opções) vendidos na bolsa de Chicago, onde se formam as cotações internacionais do grão.
Trata-se da maior posição vendida desde que a CFTC começou a destacar a posição desses agentes, em junho de 2006. Há um ano, os fundos estavam comprados em mais de 285 mil contratos.
Segundo o relatório tradicional da entidade, cuja série começa em 1995, a posição vendida por parte dos agentes "não comerciais" - aí inclusos os operadores de 'swap' nos mercados de balcão - é a maior desde dezembro de 2005.
Em apenas uma semana, os fundos liquidaram 2,9 mil contratos de compra (com os quais os apostam na alta dos preços) e a abriram mais de 43,1 mil contratos de venda (com os quais tentam lucrar com uma desvalorização).
Desde que começaram a desempenhar um papel preponderante no mercado de grãos, em raras vezes os especuladores apostaram na queda do milho. Nos últimos seis anos, isso aconteceu em apenas duas oportunidades - por duas semanas em abril de 2010 e por três semanas entre fevereiro e março de 2009.
Por enquanto, os gestores de recursos têm acertado em sua aposta. Apenas em julho, o milho caiu 13,5% em Chicago. No ano, a commodity acumula desvalorização de 32,4%. Ontem, os contratos do grão para entrega em dezembro (a posição mais negociada) fecharam em baixa de 0,6%, a US$ 4,7325 por bushel - menor cotação desde 9 de setembro de 2010, segundo o Valor Data.
Segundo o analista de commodities da Jefferies Bache, Stefan Tomkiw, apenas ontem o fundos venderam mais 5 mil contratos de milho durante o pregão. "O mercado segue sob pressão. A janela de maior risco climático para o milho nos Estados Unidos está se fechando, com condições boas em praticamente todo o cinturão agrícola".
Segundo relatório divulgado ontem pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), 63% das plantações estão em condições boas a ótimas. No mesmo período da safra passada, apenas 24% das lavouras se enquadravam nesse perfil. A expectativa é que os americanos colham mais de 350 milhões de toneladas de milho em 2013
Os fundos se mostram, porém, menos encorajados a apostar na queda dos preços da soja diante do maior grau de incerteza neste mercado. De acordo com a CFTC, os fundos chegaram ao dia 23 comprados em 109,6 mil contratos. Ou seja, ainda apostam na alta.
O motivo é que o balanço entre oferta e demanda de soja no mundo ainda ficará relativamente apertado mesmo que os Estados Unidos colham uma safra recorde, na faixa de 92 milhões de toneladas, de modo que a margem para perdas é pequena. Além disso, as lavouras americanas entram em sua fase mais sensível de desenvolvimento apenas em agosto. Por isso, os especuladores ainda especulam com o risco de intempéries.
Ainda assim, a soja acumula queda de 11,1% em julho. Ontem, os contratos do grão para entrega em setembro fecharam em baixa de 0,7%, a US$ 12,20 por bushel.
Veículo: Valor Econômico