Novo método usado em laboratório gaúcho torna resultado mais rápido e reduz riscos de alimento adulterado ser consumido
Substância com potencial cancerígeno temida por consumidores após denúncia de adulteração de leite no Estado, o formol passou a ser detectado no alimento em 24 horas no Laboratório Nacional Agropecuário no Rio Grande do Sul (Lanagro-RS). A unidade gaúcha implantou um teste rápido, método pioneiro entre os laboratórios oficiais do país, para acelerar a análise de amostras coletadas na inspeção e, assim, reduzir o risco de um produto fraudado chegar ao mercado consumidor.
Desde março deste ano, quando o Ministério Público ainda investigava a fraude de adição de água e ureia com formol no leite entregue às indústrias gaúchas, dentro da Operação Leite Compen$ado, técnicos do laboratório vinculado ao Ministério da Agricultura vinham substituindo o teste tradicional por um método mais ágil no tempo de resultado.
– Antes demorávamos em torno de 15 dias para avaliar 60 amostras, por exemplo. Hoje, conseguimos analisar esse mesmo número de amostras em 24 horas – explica o farmacêutico Fabiano Barreto, um dos supervisores técnicos do Lanagro-RS, localizado na zona sul de Porto Alegre.
Conforme o técnico, a metodologia tem a mesma eficiência e confiabilidade do exame original. A diferença está na eliminação da fase de destilação do leite, com a utilização de uma substância reagente ao formol.
– Temos um ganho de tempo, que nos ajuda a fazer a análise de um número maior de amostras e identificar alguma substância antes do produto ser consumido – explica Barreto.
A demora no resultado dos exames é uma das queixas mais recorrentes entre representantes da indústria de laticínios. Desde a adoção do novo método no laboratório gaúcho, mais de 600 amostras de leite foram analisadas – incluindo provas de outros Estados do país.
– Após aqueles lotes retirados do mercado, não foi mais detectada presença de formol em amostras de leite – diz Milene Cristine Cé, responsável pela inspeção do produto no Estado.
Na fiscalização federal, as amostras de leite cru e seus derivados são coletadas periodicamente pelos fiscais agropecuários em 107 estabelecimentos e levados aos laboratórios credenciados ao Ministério da Agricultura. No caso de análise fisico-química – que detecta a presença de formoldeído –, apenas duas unidades são autorizadas no Estado: o Lanagro e o laboratório da Univates, em Lajeado.
Estado tem poucos fiscais
Com o segundo maior volume de produção de leite do país – cerca de 9 milhões de litros por dia –, o Rio Grande do Sul conta com 34 fiscais federais agropecuários para fazer a inspeção e a fiscalização das exigências sanitárias de todos os produtos de origem animal e vegetal.
– O número de fiscais é muito pequeno para atender à demanda. O ideal era termos um quadro de pelo menos 60 pessoas – aponta Priscila Moser, chefe da divisão técnica do Lanagro e uma das diretoras do Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical).
A região norte e noroeste do Estado, que concentra 80% da produção leiteira, têm apenas quatro fiscais federais para inspecionar indústrias e postos de resfriamento.
– Não temos condições físicas de fiscalizar toda a cadeia, sem contar que não há nem registro oficial dos chamados atravessadores – admite o chefe do Serviço de Inspeção de Produtos Animais do Estado, Marco Antônio dos Santos.
Conforme Santos, após a Operação Leite Compen$ado, o número de reclamações de consumidores e produtores aumentou significativamente. Neste ano, até ontem, foram 134 denúncias – mais do que o ano passado inteiro, quando houve 96 suspeitas comunicadas.
veículo: Zero Hora - RS