Grandes redes varejistas, entre elas Casas Bahia, Grupo Pão de Açúcar e Magazine Luiza planejam diminuir em até 15 dias o volume de mercadorias compradas com os fornecedores, nos segmentos de linha branca (refrigerador, máquina de lavar, fogão) e marrom (televisor, DVD, aparelho de som), com o intuito de reduzir rapidamente os estoques de bens duráveis e enfrentar os primeiros meses do ano, que seguem carregados de incerteza, visto que o setor opera com margens bastante apertadas.
A rede paulista Casas Bahia, maior varejista de móveis e eletroeletrônicos do País, com mais de 530 lojas, tem trabalhado para reduzir seu estoque de 45 para 30 dias. Recentemente, o diretor executivo do grupo, Michael Klein, disse acreditar que a empresa vai repetir este ano o faturamento de 2008, encerrado com R$ 13,7 bilhões, número que ficou um pouco abaixo da meta de R$ 14 bilhões. O executivo prefere seguir com planos cautelosos, ajustando-os ao ritmo menor de crescimento da economia.
Ainda para este ano, a varejista, que estima possuir uma base com 11 milhões de clientes ativos projeta lucro menor, de aproximadamente R$ 100 milhões, frente aos R$ 165 milhões obtidos no ano passado. Klein terá como premissa que 2009 inteiro será igual ao segundo semestre de 2008. Entretanto, está mantida a previsão de abrir 30 filiais, sendo 20 delas no Estado da Bahia, podendo ter suas portas abertas ainda antes do Natal.
A mesma situação se repete na concorrente Magazine Luiza, que há duas semanas achatou suas margens em até 70% ao queimar um estoque 2,3 milhões de produtos que estavam em seis centros de distribuição na Liquidação Fantástica. "Vamos adaptar nosso estoque à perspectiva de um primeiro semestre bastante difícil, reduzindo o estoque de 49 para 40 dias. Isto é importante para preservar a saúde do estoque da companhia", explicou ao DCI Frederico Trajano, diretor de Vendas e Marketing da varejista.
Trajano ressalta que o ideal é realizar compras todos os meses para ter um controle mais efetivo das vendas. "Quanto melhor a frequência, melhor se contabiliza o giro de estoque", diz. Em relação aos produtos com predominância de componentes importados, o executivo afirma que, para fazer volume de vendas, a rede chega a "sacrificar as margens e não repassa a diferença do câmbio para o consumidor", principalmente na linha de informática.
Se o aumento no preço por causa do câmbio fosse transferido, o diretor crê que as vendas cairiam, pois o cliente está cada vez mais atento a este critério. No entanto, a palavra de ordem é exatamente o contrário no Ponto Frio, controlado pela Globex Utilidades S.A e a família Safra. Segundo o diretor Comercial Marcos Vignal, a rede intensificou as negociações com a indústria exatamente para não depreciar suas margens de lucro.
Tendência
O diretor de Inteligência de Mercado da consultoria especializada em varejo Gouvêa de Souza & MD, Luiz Góes, aponta que é apenas nos momentos de turbulência econômica, que as empresas realmente colocam a gestão do estoque como prioridade, pois na época fértil de vendas o assunto era mantido como segundo plano. "Se, enquanto as vendas estavam fortes no varejo em 2008, elas trabalhavam com um estoque médio, tudo bem. Caso o estoque fosse maior que o necessário, essas empresas terão de se adequar à nova realidade", destaca Góes.
Reduzir gradativamente o ciclo de estoque é uma das prioridades nas modificações que Claudio Galeazzi, presidente do Grupo Pão de Açúcar, realiza na gestão da empresa. Ano passado, a supermercadista baixou de 42 para 36 dias o volume de pedidos encaminhados aos fornecedores e para este ano uma das tarefas será alcançar 30 dias.
"A medida ajudou a entrar dinheiro na companhia, visto que administrar estoque é tão importante quanto o caixa. Produto parado no depósito é dinheiro perdido", avalia Galeazzi. De acordo com a rede, para ser eficiente é preciso que o departamento responsável pela gestão do estoque conheça profundamente as necessidades de cada segmento (alimentar e não-alimentar) para atuar de maneira estratégica e contribuir com a geração e fluxo de caixa.
Questionado a respeito de um possível reajuste nos preços de produtos com componentes importados, Galeazzi dispara que "os fornecedores terão de engolir suas margens, pois todos os concorrentes estão praticando a mesma política de preços".
O consultor da Gouvêa de Souza lembra também que o dinheiro ficou mais caro e se faz necessário adaptar os níveis de produtividade em todos os aspectos. "Partirá efetivamente da gestão do estoque e da otimização dos procedimentos logísticos as soluções para economizar os custos", sinaliza Góes. Outro ponto destacado pelo especialista é que as redes esperavam um crescimento maior nas vendas natalinas e fecharam 2008 ainda muito estocadas, fato que culminou em um período maior de liquidações para reduzir o estoque e honrar os compromissos.
Contraponto
Enquanto algumas companhias lutam para reduzir estoques, outras de "eletromóveis", como a mineira Ricardo Eletro e a catarinense Berlanda afirmaram que não têm planos de fazer alterações em suas programação de compra.
Na Ricardo Eletro - cujo faturamento do ano passado foi R$ 1,9 bilhão, valor 18% maior ante 2007-, o vice-presidente Rodrigo Nunes disse que manterá a média de 55 dias para o ciclo de estoque na rede, mantendo a programação de compras executada em relação aos primeiros meses do ano anterior. "Mantemos a projeção do primeiro trimestre ainda positivo para a companhia, principalmente para o Rio de Janeiro, que iniciamos nossas atividades em 2008, com 26 lojas."
O planejamento da Berlanda, que contabilizou ganhos de R$ 190 milhões, é ter um estoque para aproximadamente 35 dias. Nilso Berlanda, que preside a rede presente em Santa Catarine e Rio Grande do Sul, garante que até o momento não tem o intuito de mudar esta programação.
Veículo: DCI