A alta de 4% no valor da gasolina e de 8% no custo do diesel deverá impactar diretamente o preço do frete no País. Segundo especialistas e empresários do setor ouvidos pelo DCI, o repasse médio chegará a 5%, enquanto as pequenas e médias de transportes poderão repassar até 8%, perdendo a competitividade no Brasil.
Para Sílvio Freitas, presidente da empresa gaúcha de transportes Caminhos do Sul, o anúncio motivou mudanças bruscas. "O setor não estava esperando alta de 8% no diesel. Marcamos uma reunião de emergência no final de semana com os diretores, para avaliarmos o real impacto para empresa. Concordamos que não há como segurar o repasse, mesmo que isso signifique perder competitividade com as gigantes que atuam no sul do País", disse ele, ao DCI.
Freitas explicou ainda que o impacto será inevitável também para outras empresas, já que o diesel é responsável por entre 35% e 40% da composição do preço do frete. "As grandes conseguirão segurar por mais tempo o repasse, mas em médio prazo será preciso reajustar os preços".
Segundo o professor de logística da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Anderson Vieira Gomes, o impacto principal do reajuste - que afetará diretamente o setor de alimentos e de serviços - será o de transporte. "Dentro da logística, o agronegócio deve ser o principal afetado, já que boa parte do escoamento das produções agrícolas no País se dá por rodovias", afirmou o acadêmico.
No entanto, o professor ressalta que entre os setores de alimentos, produtos e serviços - como o de táxi - o repasse não deve ser de 100%. "Mesmo sendo um processo em cascata, em que a alta atingirá toda cadeia, desde a saída do produto da fábrica até a casa do consumidor, acredito que em função do ritmo fraco da atividade econômica as empresas tratarão de segurar o repasse".
Segundo a consultoria LCA, o impacto para o consumidor deverá ficar ente 2% e 2,5%.
Na opinião do economista da consultoria Adapta, Sérgio Rezende, o potencial de incremento nos preços virá de setores como o aéreo e o automobilístico, em função da baixa concorrência. "As companhias aéreas deverão repassar integralmente o valor. Primeiro, em função da fragilidade econômica que as grandes sentiram este ano. Segundo, porque a concorrência é menor", disse ele, lembrando que as feiras livres e supermercados serão os com menos impacto aos clientes.
Economia informal
Nos setores de comércio e serviços informais e de menor porte, como cabeleireiro, mecânico, chaveiro e eletricista, bares, restaurantes e pequenas lojas virtuais, o repasse pode ser integral, em função dos poucos recursos econômicos para segurar os preços. Exemplo disso é a Carioca Chaves. Com duas unidades no Rio de Janeiro, o executivo Cleonaldo Ferreira, proprietário, projeta repasse. "A alta irá chegar nos produtos que compramos, além de ficar mais caro para a empresa também ir até o cliente".
Para Rezende, da Adapta, as pequenas empresas de serviços e comércio são as que menos planejam o impacto da gasolina na operação, sendo mais inclinadas ao repasse. "Grande parte desses setores não calculam a proporção do combustível no seu negócio. Sendo assim, quando há alta da gasolina o repasse é imediato, mas sem planejamento", disse ele, lembrando que isso pode fazer com que o impacto na inflação também suba ano que vem.
Caos logístico
Afora o impacto no preço do combustível, a lei do descanso dos motoristas e o recorde previsto para a safra 2013 /2014 na agricultura brasileira - que deverá alcançar R$ 112,355 bilhões - são fatores que têm criado perspectiva de caos. "Muitos fatores externos pressionam o frete no País. Com a economia mais fraca, e a segurança do empresário caindo, o cenário será desafiador ano que vem", disse Rezende.
Para Christian Majczak, sócio-diretor da Go4! Consultoria de Negócios, com enfoque em transporte e logística, a nova lei do motorista foi criada sem se pensar em todos os ângulos e consequências, e as organizações do setor tiveram de fazer uma transição lenta, correndo riscos para se adaptarem às novas normas.
Segundo o especialista, o primeiro problema que se evidenciou nesse mercado foi, de fato, o aumento de custos para as transportadoras. "Em um mercado pulverizado como o dos transportes, as empresas do setor têm um poder de barganha muito reduzido e não conseguem repassar a elevação de custos aos clientes. A negociação não é simples, nem rápida, e as margens das transportadoras - que já não são exatamente atrativas - ficaram ainda mais achatadas", explica.
A BBM Transportes é uma das empresas do setor que sente os impactos da regulamentação da atuação dos motoristas nas estradas. Segundo Juares Nicoletti, diretor da BBM, a lei trouxe uma forte pressão nos custos e a empresa precisou contratar profissionais para atender ao processo logístico e se manter competitiva.
Veículo: DCI