A forte alta dos preços internacionais do café neste ano turbinou as negociações da commodity no mercado físico brasileiro e transferiu os estoques das mãos dos produtores para exportadores e torrefadores internacionais. Por causa dos reflexos adversos causados pela seca no Centro-Sul às lavouras, os contratos futuros do arábica chegaram a acumular alta de 80% em 2014 na bolsa de Nova York. A disparada perdeu força nos últimos dias (ver página B12), mas a valorização ainda supera 55%.
Segundo Gil Barabach, analista da consultoria Safras & Mercado, os temores em relação ao tamanho da oferta brasileira levaram as torrefadoras estrangeiras a entrar no mercado mais agressivamente para ampliar as compras e reforçar seus estoques, o que deu dinamismo à comercialização da produção do país. Antes do sinal de alerta, quando as estimativas indicavam que a oferta brasileira seria ampla, essas aquisições de matéria-prima vinham sendo feitas da "mão para a boca".
Ainda que a agressividade tenha arrefecido, as compras continuam fortes mesmo com a chegada da primavera no Hemisfério Norte, quando normalmente a demanda recua em relação aos patamares registrados no inverno. Por isso, diz Barabach, a tendência é que o fluxo de exportações do Brasil continue pujante nos próximos meses.
Isso não significa que faltará café no país, esclarece Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC). "Temos café suficiente para abastecer os mercados interno e externo". Segundo ele, a atual conjuntura deverá trazer mais equilíbrio entre a oferta e a demanda.
A recente valorização dos preços acelerou o comércio de safras colhidas em 2013, em 2012 e até 2011. A comercialização da temporada 2013/14 chegou a 77% do total produzido até 28 de fevereiro, segundo a Safras. Na mesmo época do ciclo passado, quando estava em jogo o ciclo 2012/13, o percentual era de 71%. O atual patamar se aproxima da média histórica do período, que é 80%. Depois do Carnaval, as vendas se intensificaram e a saca do café fino chegou a ser vendida por R$ 510. Ontem, em Varginha (MG), o valor caiu para R$ 430. As vendas futuras, de lotes para entrega em setembro de 2014, 2015 e 2016, também subiram no primeiro bimestre do ano.
Levantamento preliminar da Safras aponta que de 13% a 15% da safra 2014/15 (que será colhida este ano) já foi comercializada, considerando uma produção estimada entre 48 milhões e 50 milhões de sacas de 60 quilos. Apenas no Cerrado Mineiro foram comercializas mais de 1 milhão de sacas. Mas o percentual ainda está abaixo da média dos últimos anos, de 20% a 25% para safras que não começaram a ser colhidas.
Barabach diz que a saca do ciclo 2014/15 chegou a ser negociada por R$ 530. Para 2015/16, saíram negócios a R$ 550, e para 2016/17, a R$ 600, valores elevados que ajudaram a alavancar as vendas.
A Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), com sede no Sul de Minas, recomenda que o produtor venda antecipadamente, para entrega em setembro de 2014, cerca de 40% da média de produção entregue à cooperativa nos últimos quatro anos, segundo Carlos Augusto Rodrigues de Melo, vice-presidente do grupo. Na semana passada, o preço fixado para setembro chegava a R$ 510 por saca.
Em janeiro, a cooperativa vendeu 1,565 milhão de sacas, volume recorde para um único mês. No primeiro bimestre, as vendas da Cooxupé totalizaram 2,5 milhões de sacas.
Em fevereiro, afirma Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, foram feitos muitos negócios com café que seria entregue ao governo caso produtores e cooperativas exercessem as opções de venda garantidas nos leilões para 3 milhões de sacas realizados em 2013. No mercado, os preços já superavam os R$ 343 por saca que seriam pagos pelo governo, valor que embute outras taxas.
Veículo: Valor Econômico