Rio de Janeiro e Brasília - Os torcedores brasileiros e estrangeiros esquentam as vendas em bares e em lojas de enfeites e de televisores durante a Copa do Mundo. Já os outros segmentos do comércio estimam perdas com a realização do torneio, devido aos feriados, que deixam as ruas vazias, e desviam a atenção dos consumidores para os jogos.
De acordo com o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fabio Bentes, a Copa do Mundo deve movimentar R$ 863 milhões em vendas no varejo, principalmente eletroeletrônicos e artigos de uso pessoal, como camisetas. "Os televisores estão 44% mais baratos que na última Copa. Há um apelo pelo consumo de televisor. Se as taxas de juros não estivessem tão altas, poderia chegar a movimentar perto de R$ 1 bilhão com a Copa", destacou o economista. "Outros segmentos não ganham e alguns até perdem. O problema é que foram decretados feriados em diversas cidades do Brasil e isso afeta a lucratividade", disse Bentes.
Para cada feriado, há perda de 9,2% na lucratividade na comparação com um dia normal, explica o economista. Esse percentual representa perdas diárias de cerca de R$ 600 milhões. A redução nos lucros ocorre porque em dias de feriado o pagamento para quem trabalha é em dobro. "Normalmente, 16% das vendas são usados para pagar salários. Esse custo dobra com o feriado, o que pressiona a margem de lucro", ressalta Bentes. "Também tem que ser considerado os valores dos salários pagos em cada cidade. No Rio de Janeiro e em São Paulo, onde os salários são mais altos, o efeito no lucro é maior", completou.
No Rio de Janeiro, a estimativa do Clube dos Diretores Lojistas (CDLRio) é a de que as perdas cheguem a R$ 1,9 bilhão. A entidade acredita que o faturamento diário das lojas deve cair entre 50% e 70%.
De acordo com o presidente da CDLRio, Aldo Gonçalves, não são apenas os feriados municipais, em dias de jogos, que atrapalham as vendas. Ele culpa a própria Copa, por tirar a atenção dos consumidores. "As pessoas não estão pensando em comprar roupas - um vestido, um terno -, carro. (Elas) estão focadas nos jogos."
Nas ruas movimentados do centro do Rio, mesmo sem partida da Copa, os vendedores dizem que os clientes sumiram. " hora do almoço e veja: loja vazia. Geralmente, é quando vendemos mais", disse o gerente de uma rede varejista, que preferiu não se identificar. Na concorrência, a situação é a mesma. "Vendemos 50% a menos que em um mês normal", um lojista.
Por outro lado, no comércio popular, as lojas cheias mostram que ainda há gente com disposição para comprar. A bióloga Adriana Garcia do Espírito Santo, 37 anos, busca pulseiras do Brasil. Ela conta que já levou para casa cerca de R$ 200 em produtos, desde que a Copa começou. "Comprei camisetas, tiaras, brinco, maquiagem e esmalte. Só umas bobagens."
Nos bares das cidades da Copa, a expectativa de vendas também é positiva. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) estima aumento do faturamento dos bares em 70% nos dias de jogos do Brasil e 30% em partidas de outras seleções. Neste ano, o faturamento do setor deve chegar a R$ 12 bilhões, contra R$ 9 bilhões, em 2013.
Em outros setores, a Copa do Mundo passou longe de ajudar a estimular as vendas. De acordo com Bentes, o setor de comércio está em desaceleração este ano, e o motivo para a redução no ritmo são as taxas de juros elevadas e menor prazo de pagamento do crédito. "As taxas de juros ainda estão subindo tanto para o consumidor quanto para os empresários. E, como os brasileiros olham o valor da prestação, os prazos menores dificultam as vendas. Quando o prazo encolhe, o varejo sente." (ABr)
Veículo: Diário do Comércio - MG