Por Christian Oliver | Financial Times, de Bruxelas
A União Europeia (UE) pretende conversar com países da América Latina, como Brasil e Chile, na tentativa de dissuadi-los de substituir as exportações de produtos agrícolas europeus barrados pela Rússia, disseram ontem autoridades europeias.
Desde que a Rússia proibiu importações de vários alimentos da UE e dos Estados Unidos, na semana passada, em resposta às sanções adotadas pelos países ocidentais, Moscou se voltou para buscar alternativas de fornecimento na América Latina.
Vários países e entidades de classe da América do Sul disseram que as medidas adotadas por Moscou podem representar uma fonte de grandes lucros.
O Brasil autorizou cerca de 90 unidades de processamento de carne a começar a exportar frango, carne bovina e carne suína imediatamente para a Rússia, e o Chile deverá ser um dos principais beneficiários do embargo da Rússia ao peixe europeu.
Seneri Paludo, secretário de política agrícola do Ministério de Agricultura do Brasil, disse que o embargo de Moscou permitirá também que o Brasil exporte mais milho e soja. "A Rússia tem potencial para ser um grande consumidor de commodities agrícolas, não só de carne", disse ele.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou ontem que não recebeu ainda nenhuma manifestação formal da EU sobre o tema e que não iria se pronunciar sobre especulações.
Essa empolgação entre as potências agrícolas da América Latina gerou preocupação na União Europeia. "Vamos conversar com os países que potencialmente substituiriam nossas exportações, para sugerir que nós esperamos que eles não lucrem deslealmente com a atual situação", disse uma alta autoridade da UE numa sessão de informes sobre a situação na Ucrânia.
A autoridade disse entender que empresas individuais podem assinar novos contratos com a Rússia, mas afirmou que seria "difícil de justificar" que países que postulam iniciativas diplomáticas preencham a lacuna deixada pela UE e os EUA, além de Noruega, Canadá e Austrália, também atingidos pelo embargo adotado por Moscou.
Outro alto funcionário da UE disse que as conversações serão "de caráter político" e enfatizou a necessidade da formação de uma frente unida internacional para os assuntos referentes à Ucrânia, em vez de se levantarem objeções jurídicas específicas a exportações de alimentos. (Colaborou a sucursal do Valor em Brasília)
Veículo: Valor Econômico