Conab espera colheita de 22,6 milhões sacas; para produtores, projeção é muito otimista
A terceira estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a produção de café, divulgada ontem, mostrou que o volume a ser colhido em Minas Gerais será de 22,62 milhões sacas de 60 quilos na safra 2013/2014, quantidade 1,62% inferior à apontada no levantamento anterior, divulgado em maio. Em comparação à safra anterior, a projeção sinaliza um recuo da produção cafeeira da ordem de 18,22%. Representantes do setor que participavam ontem da Semana Internacional do Café (SIC), no Expominas, em Belo Horizonte, acreditam que os dados da Conab são otimistas, pois a quebra na produção no Estado deste ano será ainda maior, na casa dos 30%.
De acordo com a Conab, o déficit hídrico, provocado pela escassez e irregularidade das chuvas ao longo do primeiro trimestre de 2014, e agravado pelas elevadas temperaturas, causou sérios danos às lavouras de café, atingidas na fase de formação e enchimento de grãos, provocando perdas em rendimento, principalmente nas lavouras mais novas.
Em Minas Gerais está concentrada a maior área de produção cafeeira, com 1,20 milhão de hectares, predominando a espécie arábica, com 98,8% no Estado. A área total estadual representa 54,2% da área cultivada com café no país.
Para diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) e presidente das Comissões de Café da Faemg e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita, a queda na produção mineira deverá ser maior que a estimada pela Conab.
"No mínimo, a Conab foi muito otimista com este terceiro levantamento da safra de café. Através de todos os contatos que a gente fez com as regiões produtoras e representantes de cooperativas e associações, em especial Sul de Minas e Matas de Minas, percebemos que as perdas serão muito maiores ficando entre 25% e 30%. Acreditamos que os reflexos da seca nesta safra, que foi muito mais profundo do que a Conab está divulgando, possam ser retratados no próximo levantamento, que será divulgado em dezembro".
Outro ponto que vem preocupando o setor são os efeitos da seca na próxima safra, conseqüências que ainda não podem ser mensuradas. "Não sabemos qual será o reflexo, mas sabemos que as perdas irão acontecer. O clima ainda não está favorável para a safra 2015, as chuvas ainda não vieram, as floradas não aconteceram e os tratos culturais estão abaixo do recomendado, devido ao longo período de estiagem. A cada dia aumenta nossa preocupação", explicou Mesquita.
Regiões - No Sul de Minas, principal região produtora de café, a safra 2014 do grão foi estimada em 10,73 milhões de sacas de 60 quilos, resultado que vem a confirmar a inversão da bienalidade na região, apresentando uma retração de 19,66%, comparada à safra 2013, e de 21,87% em relação ao primeiro levantamento da safra 2014.
O comprometimento do resultado projetado para a safra 2014 pode ser atribuído, principalmente, aos impactos negativos da estiagem e das altas temperaturas, já confirmados com o avanço da colheita e beneficiamento do café. A produtividade média da região recuou para 21,28 sacas por hectare, volume 16,94% abaixo da safra passada e 21,39% aquém da primeira projeção da safra atual.
De acordo com os dados da Conab, uma pequena parcela da queda se deve à variação da área de café em produção, que caiu 3,26% neste último ano, em decorrência do aumento de podas, manejo que vem sendo cada vez mais utilizado, e que tem contribuído para diminuir a variação entre a produção das safras de bienalidade alta e de baixa.
Na Zona da Mata, a produção de café foi estimada em 5,29 milhões de sacas de 60 quilos. Os levantamentos da Conab apontam para um recuo na produção de 36,34%, equivalente a 3,02 milhões de sacas, quando comparada com a safra anterior. A seca foi a principal causa do recuo significativo. A área em produção está estimada em 284,58 mil hectares, espaço 8,08% inferior em relação à safra passada. A produtividade média será de 18,60 sacas por hectare, frente as 26,86 sacas colhidas no ano anterior, queda de 30,7%. Em relação ao levantamento anterior, a redução foi 4,92% na produção, equivalente a 273,78 mil sacas de 60 quilos.
No Norte de Minas, Jequitinhonha e Mucuri a produção foi estimada em 762 mil sacas de café, uma redução de 1,93%.
Veículo: Diário do Comércio - MG