Com pessimismo em alta, setor acredita que situação só deve melhorar em 2016. Algumas gigantes como Riachuelo e Magazine Luiza também preveem um biênio complexo no Brasil.
Nem o Natal será capaz de fazer com que os empresários do comércio se animem. A menos de um mês da melhor data sazonal para o setor, o otimismo de executivos recuou 1%. A explicação para essa nuvem negra é a perspectiva fraca para o próximo ano.
O indicador medido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) foi verificado no mês de novembro, momento esse em que as redes varejistas preparavam os estoques para as vendas de final de ano. "Esse indicador tem apresentado uma sequência de quedas [três consecutivas], o que indica que o empresário não está satisfeito com a atual situação do País" afirmou ao DCI, o economista, Fabio Bentes.
O especialista afirmou, porém, que isso não significa que o Natal será ruim, mas que as vendas serão mais fracas devido à conjuntura econômica brasileira. "A nossa projeção é que o comércio feche o ano com 3,2% de aumento nas vendas. Não estamos em crise, mas esse indicador pode ter uma pequena variação para baixo ao fecharmos o resultado deste ano", disse ele.
Vale ressaltar ainda que os 3,2% estimados estão bem acima da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,2%, mas na comparação anual esse será o pior resultado da última década.
Otimismo
Outro ponto destacado pelo economista da entidade foi que há regiões em que o desempenho de vendas está favorável, não sendo consenso nacional esse pessimismo. "Norte e Nordeste têm apresentado crescimento de 2%, o Sudeste é que está na lanterna, com desempenho menor", afirmou o economista em entrevista ao DCI.
Contra-ataque
Na opinião do economista e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Agostinho Celso Pascalicchio, o pessimismo do empresário do comércio perdurará durante o primeiro semestre do próximo ano. "A percepção dos empresários é consistente e está em linha com a postura das autoridades monetárias do Brasil, que estão respondendo de forma rápida as demandas do mercado". Pascalicchio afirmou que fatores como: alta da taxa de juro (Selic) e medidas de combate à inflação, colocadas em destaque pelo presidente do Banco Central, Alexandre Antônio Tombini, e do futuro Ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, surtirão efeito de médio prazo, logo o comércio começará a dar sinais de melhorias apenas no segundo semestre do ano que vem. "Será um momento de paciência e de espera dos reais efeitos das medidas tomadas pelas autoridades", explicou.
Pascalicchio argumentou ainda que não há motivos para alarde e ressaltou que duas datas temáticas - Dia das Mães e Dia dos Namorados - ajudam no desempenho do primeiro semestre.
Futuro
A imagem de um ano devagar é compartilhada pela CNC. A entidade projeta alta de 3,8% nas vendas em 2015, resultado esse tão fraco quando o desse ano. "Nos últimos dez anos o motor que ajudou o crescimento do varejo foi a venda de bens duráveis. Com a alta do juros e a e menor concessão de crédito, tem feito esse motor falhar", argumentou o economista da CNC, Fabio Bentes.
Ao ser questionado sobre uma possível recuperação a partir de 2015, Bentes afirmou que ela pode não vir nem em 2016. "Acho pouco provável vermos um resultado igual ao de 2010 [quando o varejo cresceu 10,7%], pois toda a política econômica foi baseada no consumo e na concessão de crédito. Daqui para frente eles terão de pensar em investimentos para crescer e isso surte efeito no longo prazo", disse.
A previsão da CNC, ao que tudo indica, está em linha com o balanço que a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP).
Até os gigantes do setor mostram-se preocupados com o próximo biênio. "O ano será desafiador e em certa medida isso já está dado", disse o presidente da Riachuelo e do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), Flávio Rocha, à Reuters, ao que concluiu. "A gente tem que ter paciência. Não dá para dizer nem que 2016 será tão melhor que 2015. A presidente do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano (que assumirá o IDV em 2015) mostrou-se menos cautelosa e afirmou ter sentido bom desempenho em "alguns setores".
Veículo: DCI