O volume de sorvetes vendido no Brasil cresceu 22% em doze meses até agosto, na comparação com um ano antes, segundo a Nielsen. Em valor, o crescimento foi de 30%, para R$ 4,4 bilhões. O avanço se deu após um ano fraco, de verão pouco quente e chuvoso, que resultou em uma queda de 2% no período anterior.
O desempenho do mercado ainda está muito ligado às variações climáticas no Brasil, e a indústria tenta mudar essa realidade. "A gente não pode se preocupar com o tempo, tem que se preocupar em desenvolver o mercado", diz João Campos, vice-presidente de sorvetes e alimentos da Unilever, líder da categoria com a Kibon. Este ano foi a primeira vez que a marca fez campanha em pleno inverno, protagonizada pelo jogador Neymar.
O ano também tem sido positivo para a segunda maior empresa da categoria, a Nestlé. Segundo o diretor da unidade de sorvete da companhia, Rogério Lopes, as vendas da multinacional suíça crescem acima do mercado este ano.
O consumo per capita no Brasil foi de 6,2 litros no ano passado, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Sorvetes (Abis). "O Brasil tem condições de ir para 10, 12 litros", diz Campos. Os europeus consomem de 18 a 20 litros de sorvete ao ano. Apesar de seu extenso litoral e do clima tropical, o Brasil é apenas o 12º maior país do mundo em consumo por habitante, atrás de países como o Chile.
"Estamos tendo um dos melhores anos em sorvetes", diz Campos. No último verão, as vendas cresceram 24% em relação à temporada anterior. A marca representada por um coração passou a ter o Brasil como segundo maior mercado global, após os Estados Unidos. Antes, o país ocupava a quinta posição.
Campos atribui o desempenho não ao tempo quente e seco, mas principalmente a lançamentos, campanhas e à reformulação da linha de potes que a Unilever fez há um ano. A reestruturação incluiu o enxugamento do portfólio: a versão de 2 litros passou de 35 sabores para apenas 4. A companhia também lançou versões menores, de 1 litro e de 1,5 litro, e criou a linha 3 Seleções, mais cara, que mistura três sabores como tipos de chocolate belga e diferentes castanhas. "Passamos de um ponto de preço [o pote de 2 litros] para quatro", conta Campos. Essa repaginação foi o maior investimento feito na Kibon até hoje, de R$ 70 milhões. Em 2014, por exemplo, os investimentos na marca somam R$ 30 milhões.
Além de comercializar potes em supermercados e picolés em pequenos estabelecimentos, a Unilever decidiu vender diretamente ao consumidor. No ano passado, abriu um quiosque Kibon Station em um shopping em São Paulo e agora vai expandir o projeto. Foram abertas cinco unidades no fim deste ano na capital paulista, e o plano é continuar a ampliação em 2015. A companhia também trouxe ao Brasil em setembro a rede americana Ben & Jerry's, comprada em 2000. Uma bola de sorvete da marca custa R$ 10, preço semelhante ao das sorveterias Häagen Dazs. Atualmente há duas unidades em São Paulo.
"Queremos estar onde o consumidor está e acessar novas ocasiões de consumo", diz Campos. A marca americana também terá distribuição seletiva em supermercados. "Estávamos planejando a vinda da marca há cinco anos. Nos últimos anos houve uma abertura do mercado para os sorvetes premium", diz Kátia Ambrósio, diretora de sorvetes da Unilever. Os sorvetes da Ben & Jerry's são importados dos Estados Unidos e da Holanda e são produzidos segundo os critérios de "fair trade" (comércio justo). A Kibon fabrica sorvetes em Valinhos (SP) e em Jaboatão dos Guararapes (PE).
A fábrica da Nestlé em Jacarepaguá (RJ) passou a fabricar, este ano, além dos sorvetes, os potes. "Foi um investimento importante em desenvolvimento de tecnologia, que vai trazer maior eficiência à cadeia", afirmou Lopes, sem informar o valor aplicado. A empresa importou quatro injetoras de plástico e instalou equipamentos para suportar o crescimento das vendas pelo menos nos próximos sete anos.
Segundo Lopes, os lançamentos que ajudam a impulsionar a venda da Nestlé este ano são o picolé da marca Mega inspirado no chocolate Alpino, e o infantil Pega Pop Surpresa, com recheio "surpresa" de chocolate ou baunilha. A companhia também lançou sorvetes em pote da marca La Frutta, que combina dois sabores de frutas. A Unilever trouxe sorvetes inspirados em sobremesas, como pudim de leite condensado e floresta negra, e lançou uma linha de picolés Fruttare com tex$ tura de mousse.
"Há tendências de saudabilidade e de sofisticação do consumidor brasileiro, que busca ingredientes de qualidade", diz Lopes, da Nestlé. Segundo o executivo, não deve voltar a ocorrer a guerra de preços verificada nos últimos anos na categoria. A Nestlé não planeja ir para o varejo, como fez a Unilever, afirma. (Colaborou Juliana Mariz)
Veículo: Valor Econômico