Antes visto apenas como uma tendência, os alimentos saudáveis ganharam definitivamente um espaço na preferência do consumidor brasileiro. Tanto é que, mesmo com a crise econômica, empresas estão investindo - e lucrando - ainda mais com este mercado.
Durante o principal evento de supermercados da América Latina, a Feira Apas, organizada pela Associação Paulista de Supermercados, por exemplo, praticamente todos os estandes das marcas participantes estampavam produtos que auxiliam o organismo ou que evitam prejudicá-lo de alguma forma.
Uma recente pesquisa da consultoria Euromonitor mostrou também que o Brasil pulou, entre 2009 e 2015, do sexto para o quarto lugar no ranking mundial de consumo de alimentos saudáveis (itens que apresentam em sua composição menores quantidades ou restrição total de açúcar, sal e gordura, e maior abundância de fibras, vitaminas e nutrientes), ficando atrás apenas de países como Estados Unidos, Chile e Japão.
Outro dado relevante, dessa vez da Kantar Worldpanel, indicou que 79% dos brasileiros trocaram, de alguma forma, ao menos um item de sua cesta de alimentos por produtos saudáveis durante o ano passado.
"Essa procura por uma alimentação mais saudável foi uma tendência há alguns anos. Hoje ela é, de fato, uma realidade. As pessoas estão preocupadas com a saúde, com o peso, com a qualidade de vida. Agora, as indústrias e as lojas precisam se adaptar ainda mais a esse movimento. Já houve um crescimento considerável nesse sentido, mas é preciso ir além", destaca a sócia fundadora e diretora geral do Grupo Bittencourt, Cláudia Bittencourt.
O grupo realiza consultorias para o mercado de franquias, varejo e redes de negócios.
Ainda segundo a consultora, mesmo nesta época de crise econômica está clara a mudança de comportamento do consumidor brasileiro, em referência a opção pelos saudáveis.
"Todos os setores da economia sentem os efeitos de uma instabilidade econômica como a que estamos vivendo. No entanto, o público que já efetuou esta troca nos itens alimentares costuma ser representado por pessoas que possuem uma renda um pouco mais alta, que sentem menos o impacto no poder de compra", lembra a diretora.
Olhando para essa oportunidade é que o consultor de investimentos Leandro Possacos decidiu abrir mão da carreira econômica e investir na venda de alimentos saudáveis. Há um ano ele criou, então, a Gym Chef Comida Fit e passou a vender marmitas para o público fitness - como são popularmente conhecidas as pessoas que frequentam academias.
O resultado foi além do ele esperava. "Comecei vendendo para os meus conhecidos e amigos. O negócio acabou pegando e decidir montar a empresa. Em um ano, passamos de poucos quilos a uma tonelada de alimentos comercializados", comemora.
O faturamento da marca foi na mesma linha e cresceu dois dígitos constantemente a cada mês de 2015. "Faturava cerca de R$ 6 mil no início. Hoje estamos chegando próximo de R$ 60 mil por mês", afirma Possacos.
Todas as refeições da empresa são produzidas em um espaço montado no bairro do Butantã, na zona oeste de São Paulo.
Entretanto, com o crescimento do negócio, o empresário já está pensando em montar uma fábrica para a produção dos pratos e armazenagem dos insumos.
As vendas, por enquanto, também só podem ser feitas via internet. Mas Possacos diz que não pensa, pelo menos agora, em abrir uma loja ou restaurante.
"Nós temos cerca de mil clientes hoje. A próxima meta é aumentar esse número em até 60% até o final deste ano. É bem possível que a gente consiga", conta.
O prato mais vendido pela empresa é o tradicional frango com batata doce, que sai por R$ 14,90. Embalados a vácuo, os produtos chegam aos clientes com validade de até três meses.
Autosserviço mudou
Além dos pequenos empreendedores como Possacos, grandes players do varejo já se deram conta da demanda a ser suprida com a venda de alimentos mais saudáveis.
O Pão de Açúcar, por exemplo, tem uma marca própria para atender esse público: a Taeq.
Fabricantes como Superbom, Gomes da Costa,Forno de Minas, Piracanjuba, entre outras, também estão investindo mais para oferecer esses tipos de itens para os varejistas.
Entre os produtos estão queijos veganos, sucos sem açúcar, biscoitos integrais, cream cheese e leites sem lactose.
Em 2015, por exemplo, os leites de baixa lactose cresceram 78% em vendas, enquanto o leite comum (UHT) caiu 2%, de acordo com estudo apresentado pela Kantar Worldpanel.
Ação semelhante aconteceu com o pão integral, que ganhou sete pontos percentuais em volume de venda, no que o pão industrializado recuou 3,5%.
"Hoje, ao entrar em um supermercado, você já vê uma enormidade de produtos com maior qualidade em relação à saúde. Eles estão atentos a isso. O único impasse ainda é o preço, que é mais alto", lembra a diretora do Grupo Bittencourt.
Para ela, é provável que em alguns anos os custos dos produtos saudáveis se equivalham aos de itens industrializados comuns. "Eles ainda não são produzidos em larga escala, são mais artesanais. Assim que o consumo crescer mais, provavelmente os preços podem ser semelhantes", comenta.
Suplementos
Dentre os itens que ajudam a levar uma vida saudável estão os suplementos, que também crescem na preferência do consumidor a cada ano.
Atualmente com 30 lojas espalhadas pelo País, a Dr. Shape é uma franquia que comercializa itens e suplementos para o público fitness.
"Só entre abril do ano passado e abril deste ano, crescemos exatamente 106% em faturamento. É um número bastante considerável se pensarmos no momento da nossa economia", conta o sócio-franqueador da Dr. Shape, Roberto Kalaes.
O próximo passo, segundo o empresário, é inaugurar outras 23 lojas até o final deste ano.
Veículo: Jornal DCI