Terceira safra do feijão e aumento da oferta de ração bovina devem segurar a inflação de alguns dos produtos que encareceram em 2016; para especialista, aumento de importações pode ajudar
São Paulo - Depois de seguidas altas, os preços de alimentos como feijão e leite devem desacelerar até setembro, favorecendo a estabilização do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial, em patamar mais próximo da meta.
A chegada da terceira safra do feijão, menos afetada por problemas climáticos, deve frear os preços do grão já nos próximos meses, afirmou Bruno Lucchi, superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
A mesma trajetória deve ser seguida pelo leite. Com o aumento da oferta de produtos usados como ração bovina, os custos dos produtores devem cair. "Assim, os preços recuariam a partir de setembro", disse o entrevistado.
Os dois produtos foram os principais vilões da inflação oficial de junho. Enquanto o feijão carioca encareceu 41,78%, o leite longa vida ficou 10,16% mais caro no mês.
No primeiro semestre deste ano, os preços de alimentação e bebidas subiram 7,37%, ante 6,61% em igual período de 2015. Os dados são do IPCA, divulgado na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em seis meses de 2016, o avanço dos preços do setor foi responsável por 42% da inflação do País, calculou Eulina Nunes, coordenadora dos índices de preços do IBGE. Entre janeiro e junho do ano passado, alimentação e bebidas representaram 27% do índice, completou ela.
"Ao mesmo tempo que os preços de alimentos subiram mais neste ano, os preços de outros setores, como serviços, cresceram menos. Por isso o aumento da participação no IPCA", disse Eulina.
Calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o primeiro Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) de julho também indicou avanço dos preços do grupo alimentação (de 0,07% para 0,82%). O principal responsável foi o item arroz e feijão, com alta de 21,81%.
Ainda assim, Lucchi indicou que deve ocorrer uma reversão da trajetória atual nos próximos meses. O entrevistado afirmou que a tendência meteorológica para o segundo semestre "é boa". Com a ajuda do clima, devem ser possíveis reajustes mais amenos e, inclusive, quedas de preços.
"Tivemos o El Niño no começo do ano, que causou fortes chuvas no Sul do País e secas em áreas do Sudeste, do Centro-Oeste e do Nordeste. Com a estabilização do clima, deve acontecer um aumento da produção de grande parte dos alimentos", explicou.
Exemplo disso deve acontecer com a produção de cacau, no sul da Bahia. Após forte estiagem no começo do ano, é esperada melhora no cultivo do fruto. Este incremento, aliado a preços melhores do leite, deve deixar o chocolate mais acessível. Em junho, o doce também apareceu entre as principais altas do mês, ao ficar 5,20% mais caro.
Importações
Luiz Alberto Machado, vice-diretor da faculdade de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), afirmou que o pico dos preços de alimentos costuma ser registrado na metade do ano, entre junho e agosto. "Esse movimento acontece por causa da entressafra, mas costuma ser neutralizado nos meses seguintes", comentou.
Segundo o entrevistado, uma forma de combater o avanço da inflação no setor seria facilitar a importação de produtos. "Isso poderia ser feito com alimentos em que seja registrado avanço exagerado dos preços, como o feijão", afirmou Machado
Veículo: DCI