Avanço de indicador que projeta futuro do mercado de trabalho foi acompanhado por previsão favorável de especialista: indústria poderia puxar geração de vagas já no último trimestre de 2016
São Paulo - Um alívio no desemprego deve ser visto nos próximos meses com o avanço de vagas temporárias e informais, apontaram indicador econômico e especialista entrevistada pelo DCI.
"As contratações devem ganhar força neste ano, mas ainda não devem ser formais. Por isso, o impacto sobre as taxas de desemprego ainda não deve ser sentido", afirmou Denise Delboni, professora de economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
"Ainda que o cenário atual não seja muito bom, essa leve melhora deve acontecer no próximo trimestre", indicou ela, ao ser perguntada sobre o atual avanço do desemprego no País.
A expansão das vagas formais, por outro lado, vai depender de uma retomada mais consistente da economia, disse Denise. Ela adiantou que esse itinerário poderá ser visto já em janeiro do ano que vem.
"Até lá, é possível que tenhamos maior estabilidade em relação ao ambiente político, à situação fiscal e ao câmbio, além da possível redução da taxa de juros", explicou a especialista em mercado de trabalho.
Denise ponderou que a volta da taxa de desemprego no País aos níveis de 2013 será "praticamente impossível" se uma reforma trabalhista não for aprovada.
"As empresas não têm mais condições de arcar com a quantidade de encargos que são pagos atualmente. Por isso, não vão ampliar tanto os postos", justificou ela.
Projeções
Sinal de que o mercado de trabalho deve melhorar veio com o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), medido pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). Divulgado ontem, o cálculo subiu 6,9 pontos em julho e chegou a 89,1 pontos.
Segundo nota apresentada pelo Ibre, o aumento sinaliza uma "aceleração da tendência de atenuação do ritmo de queda do total de pessoal ocupado na economia brasileira nos próximos meses".
O pesquisador Fernando Barbosa Holanda Filho, pesquisador do Ibre da Fundação Getulio Vargas (FGV), explicou que a alta do IAEmp foi causada pela expectativa de uma melhora nos quadros político e econômico brasileiro.
Segundo o entrevistado, a confiança de que as crises fiscal e política perderão força com a provável efetivação de Michel Temer ajudou o indicador. Esse movimento foi notado especialmente nas projeções da indústria para o segundo semestre deste ano e para o início de 2017.
"Caso esse setor realmente comece a se recuperar, a melhora [no mercado de trabalho] aconteceria em um horizonte de seis meses", complementou Holanda Filho.
As perspectivas dos outros ramos econômicos, seguiu ele, não inspiram o mesmo otimismo. "Os demais setores estão mais parados. Em serviços, por exemplo, também há visão positiva, mas não como a da indústria", afirmou.
O quinto aumento consecutivo do indicador que antecipa as tendências para emprego levou o IAEmp ao melhor patamar desde março de 2014. Naquele mês, o cálculo estava em 89,2 pontos.
Cenário atual
Já o Indicador Coincidente de Desemprego (ICD) diminuiu 0,8 ponto no mês passado e caiu para 96,8 pontos. Ainda assim, o IBRE ponderou que a tendência para o número "mantém-se ascendente".
Ao analisar os resultados de julho, Holanda destacou que a manutenção do indicador em um patamar elevado mostra que a recuperação do mercado de trabalho nacional "ainda não está acontecendo".
O levantamento, que é divido por classes de renda familiar, indicou que os consumidores mais ricos colaboraram para o arrefecimento do ICD.
Em resposta sobre a dificuldade para conseguir emprego, os consultados com rendimentos mensais entre R$ 4.800 e R$ 9.600 marcaram número 3 pontos abaixo daquele escolhido em junho.
Quanto menor o patamar do ICD, melhor a percepção do entrevistado. Também puxaram o indicador para baixo os perguntados com renda superior a R$ 9.600. Em julho, o número marcado pelos entrevistados mais ricos recuou 1,8 ponto ante junho.
Ainda em descompasso com as projeções, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) mensal mostra avanço do desemprego no País. A taxa medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) chegou a 11,3% em junho e não para de crescer desde 2014.
Fonte: DCI