O governo cedeu às pressões do PSDB e resolveu encaminhar a proposta de reforma da Previdência até o fim deste mês. A decisão contraria parte da base aliada, especialmente o PMDB, que defendia o envio da proposta após as eleições municipais. O grande receio é o desgaste que uma proposta, considerada impopular, poderia trazer aos candidatos da base aliada. “Não é hora de ficarmos pensando em projetos políticos. Temos de fazer algo para recolocar o país nos trilhos”, afirmou o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.
Geddel afirmou que conversou ontem, pessoalmente, com o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG) e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tinham visões distintas sobre o assunto. Por ser uma medida impopular, o PSDB afirma que, quanto mais tempo para o debate, melhor. Maia era um dos defensores do envio após as eleições. “É uma questão de estratégia parlamentar. Se mandássemos amanhã a proposta, de nada adiantaria, porque os deputados ainda estão concentrados nas eleições municipais”, explicou Geddel.
O ministro afirmou que o presidente mantém a disposição de fazer campanhas de esclarecimento utilizando os meios de comunicação e organizar encontros com as bancadas partidárias para justificar a necessidade da reforma. “Não é possível que pessoas que trabalham o ano inteiro, quando se aposentarem, não terem direitos aos benefícios porque não há dinheiro. Precisamos consertar o estrago herdado da gestão anterior”, completou.
Na avaliação de especialistas, se Temer deixar para depois das eleições o envio da reforma da Previdência e a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do teto dos gastos, a PEC 241, ele corre o risco de perder, de imediato, o voto de confiança que o mercado deu a ele durante o período de interinidade. “À medida que o ajuste fiscal for postergado, volta a passar a cena que se viu quando o (Joaquim) Levy (ex-ministro da Fazenda em 2015), assumiu, que foi perdendo credibilidade quando as propostas foram esgarçadas e enfraquecidas pelos obstáculos políticos”, explicou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.
“O governo Temer tem uma certa fragilidade desde o fatiamento da votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A base não é coesa. E isso, sem dúvida, pode refletir uma desconfiança crescente no mercado. E, se isso ocorrer, o prêmio de risco (dos títulos soberanos) vai subir, a taxa de câmbio vai se desvalorizar e o Banco Central vai ter mais dificuldade para reduzir os juros ainda este ano”, alertou o economista.
Veículo: Diário de Pernambuco