Cenário deve favorecer também para que os dois países vizinhos se fortaleçam como exportadores no mercado global, negociando melhor suas condições perante os importadores
Buenos Aires - A convergência política e econômica entre o Brasil e a Argentina, os dois principais integrantes do Mercado Comum do Sul (Mercosul), vai ajudar a reinvenção e o relançamento do bloco regional, 25 anos após a sua criação, em março de 1991.
Esse cenário deve servir também para que esses dois países se fortaleçam como exportadores no mercado global, negociando melhor suas condições perante os importadores.
Esta é a conclusão do debate realizado na sexta-feira (14) em Buenos Aires, durante o Seminário "A nova face da América Latina", durante o 21 Meeting Internacional promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide).
"É preciso olhar para o futuro do Mercosul, reinventar o bloco regional, pois se esgotou a capacidade intrarregional, restando poucas oportunidades a serem exploradas. O mais importante é a coragem de admitir críticas e erros e relançar o Mercosul dentro de uma visão moderna", afirmou o economista e dirigente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Gianetti da Fonseca.
Segundo ele, as coincidências políticas - com o perfil liberal dos presidentes Maurício Macri (Argentina ) e Michel Temer (Brasil) - e econômicas - as duas economias se ajustando e com perspectiva de voltarem a crescer a partir de 2017 -, tornam o momento ideal para pensar em uma cooperação maior.
O presidente do BTG Pactual, Pérsio Arida, ressaltou que após a recessão e o alto custo político que está sendo enfrentado pela Argentina e pelo governo Macri, os frutos devem ser colhidos no próximo ano, quando a inflação deve cair e a expectativa é a volta do crescimento, fatores positivos para uma eventual reeleição de Macri na corrida presidencial de 2017.
No Brasil, segundo Arida, o governo Temer está vencendo a primeira batalha, que é a aprovação do teto dos gastos públicos federais. Esse processo vai continuar com as reformas da Previdência e trabalhista. "Mas já existem condições de o Banco Central começar baixar os juros na reunião do Comitê de Política Monetária [Copom] ainda neste mês, e o efeito disso vai acontecer também em 2017 e 2018", acrescentou o presidente do BTG Pactual.
'Sair da UTI'
Mas se as duas maiores economias do Mercosul vivem situações paralelas, com possibilidade de volta do crescimento nos próximos anos e, com isso, reduzir o desemprego, se esses países, "sob nova direção", restringirem-se a fazer os ajustes macroeconômicos - com equilíbrio nas contas públicas, redução da dívida e reformas estruturais -, "só vamos ficar em pé e sair da UTI", segundo o economista, diplomata e cientista social Marcos Troyjo.
Ele defende uma agenda mais agressiva entre Argentina e Brasil para harmonizar condições macroeconômicas e técnicas para competir no mercado mundial. "Qual a nossa estratégia para a ascensão da Índia e para os novos como o Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica?", questionou Troyjo.
Outro aspecto a ser encarado para uma modernização do Mercosul é uma maior abertura das economias dos integrantes do bloco, ressaltou o secretário executivo do Ministério de Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Furlan, também presente ao debate. "Enquanto o Brasil e Argentina têm grau de abertura ao redor de 20% a 30%, o resto do mundo, inclusive outros emergentes, possuem 70%. É hora de derrubar as barreiras, os protecionismos, as tarifas, esse esses são os desafios do século 21 para o Mercosul", sublinhou o representante do MDIC.
Ele ressaltou a importância dos acordos bilaterais que vêm sendo feitos entre os países, mas sobretudo do sucesso das negociações entre Mercosul e União Europeia, que na sexta-feira fizeram mais uma rodada de conversar rumo a um entendimento.
Independentemente de uma maior inserção do Mercosul como bloco regional no comércio mundial, o embaixador do Brasil na Argentina, Sergio Danese, identificou o aumento do interesse de empresários brasileiros em investir na Argentina. E vice-versa.
"O momento é ideal para um debate qualificado sobre a retomada de confiança entre os dois países", lembrando que os ajustes em andamento nas duas economias devem resultar na volta do crescimento tanto no Brasil como na Argentina, a partir de 2017.
* Viajou a Buenos Aires a convite do Grupo de Líderes Empresariais (Lide)
Fonte: DCI