Contudo, na Paraíba e em Pernambuco, por exemplo, foram fatores sazonais que geraram saldo líquido de mais 5 mil e de 4 mil postos, respectivamente, entre os meses de julho e de agosto
São Paulo - Os estados do Nordeste (NE) foram destaque positivo na geração de vagas formais no início deste segundo semestre, enquanto as unidades federativas (UFs) do Sudeste (SE) tiveram os piores déficits.
A Paraíba (PB), por exemplo, liderou a criação líquida de postos formais de trabalho (admissões maiores que demissões) em todo o País e no NE, com um saldo de 5.808 vagas entre os meses de julho e agosto, mostram dados consolidados pelo Banco Central (BC), com base em informações do Ministério do Trabalho (MTE).
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Humano do governo do Estado da Paraíba, fatores sazonais como o início da safra da zona canavieira e a fabricação do etanol favoreceram a geração de emprego. Somente em agosto, essas duas atividades foram as principais responsáveis pela contratação de 2.921 pessoas na agropecuária, de 2.710 na indústria de transformação e de 520 no segmento de serviços. Segundo o estado, esse foi o melhor agosto em geração de vagas na PB nos últimos três anos.
Já Pernambuco (PE) foi o segundo estado do Nordeste e do País a gerar mais vagas líquidas (4.992 mil) nos meses de julho e agosto deste ano. O economista Fábio Silva, do Conselho Federal de Economia (Cofecon), avalia que a safra da cana-de-açúcar também favoreceu o estado. "Nos meses de agosto e de setembro, as atividades e colheita da cana e o refino do açúcar geram emprego na agricultura e na indústria nordestina, principalmente em Pernambuco e em Alagoas. É um efeito sazonal", esclarece Silva.
Outros estados do NE com saldo positivo em julho e em agosto foram Alagoas (2.551), Bahia (3.769), Maranhão (2.460) e Rio Grande do Norte (2.239). Já o Ceará (-4.271), Sergipe (-2.496) e Piauí (-637) foram deficitários.
Passado o efeito sazonal, Silva analisa que o cenário para o mercado de trabalho nordestino nos próximos trimestres deve ser negativo. "Os investimentos do setor público foram muito importantes para o crescimento do Nordeste na última década. Exemplo disso foi a transposição do Rio São Francisco e a obra Transnordestina [ferrovia]. Neste momento, o governo está contraindo aportes e a tendência é reduzi-los ainda mais com a aprovação da PEC 241, que limita o crescimento do gasto", diz. "No entanto, se houver avanço em parcerias público-privadas [PPP], o cenário para a região pode melhorar", acrescenta.
Sudeste
O SE liderou os piores déficits líquidos do emprego formal, com destaque para o Estado do Rio de Janeiro (-40.446), que decretou estado de calamidade pública em junho deste ano. Em segundo, está São Paulo (-18.293 mil), seguido do Espírito Santo (-9.235). Em relação à Minas Gerais, o BC só tem dados do mês de julho (-15.345 mil). O professor de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Antonio Carlos Alves dos Santos comenta que a interrupção dos investimentos da Petrobrás, em decorrência do aprofundamento das investigações da Operação Lava-Jato, ainda paralisa não só as empresas ligadas à indústria petrolífera, como as da construção civil, contraindo empregos.
Santos avalia que as mudanças na Política de Conteúdo Local (PCL) em discussão pelo governo de Michel Temer podem impactar o emprego não só no RJ como em outros estados do País. A PLC estabelece 60% de conteúdo local nas atividades ligadas ao pré-sal.
Diante da possibilidade de redução ou fim dessa política, federações de indústria de estados brasileiros, como a de SP (Fiesp) e a do RJ (Firjan), enviaram uma carta ao governo defendendo a manutenção da PLC. Segundo o comunicado, o fim dessa política pode significar a extinção de cerca de 1,5 milhões postos de trabalho.
Para Silva, a geração de emprego em todo o Brasil só deve registrar números positivos mais consistentes no final de 2017. "Isso será reflexo do leve crescimento da economia que está sendo esperado para o próximo ano", finaliza o economista do Confecon.
Fonte: DCI