São Paulo - A economia brasileira deve ter saído da recessão no primeiro trimestre deste ano quase que exclusivamente com o agronegócio, o que levará o crescimento mais consistente e disseminado ocorrer só mais à frente, de acordo com economistas consultados pela Reuters.
Na projeção de bancos e consultorias, o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer de 0,1% a 0,3% entre janeiro e março quando comparado com o quarto trimestre de 2016, com o salto que pode chegar a 8% da agropecuária pela supersafra que o País registrou no período.
“Projetamos expansão bastante significativa, de 8%, para a agropecuária. Se não fosse essa contribuição, a variação do PIB seria negativa”, resumiu o economista do banco Santander Rodolfo Margato, para quem o PIB terá expansão de 0,3% no primeiro trimestre.
Tradicionalmente, os números da agropecuária são mais positivos no começo do ano. Agora, o setor - que no cálculo global do PIB responde diretamente por apenas 5% - deve contribuir com desempenho melhor por causa da supersafra, sobretudo da soja, um dos principais produtos de exportação do Brasil. A fraca base de comparação com 2016 também ajuda no cálculo.
“A nossa projeção é de alta de 6,8% para o PIB da agropecuária, mas não descartamos avanço ainda maior”, afirmou a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), Silvia Matos, para quem o PIB do País deve ter expansão de 0,3% no primeiro trimestre.
Para o diretor da Agroconsult, André Pessôa, a agropecuária como um todo deve contribuir com 0,40 ponto percentual do crescimento do PIB em 2017. Só a soja deve ajudar com 0,24 ponto.
No ano passado, a economia brasileira aprofundou a crise ao encolher 3,6%, marcando a mais longa recessão da história. Para este ano, segundo pesquisa Focus do Banco Central, que ouve uma centena de economistas todas as semanas, a projeção é de tímido crescimento, pouco inferior a 0,5%.
Somente o PIB do agronegócio deve crescer 5,77% em 2017, enquanto o da indústria deve ter aumento de 0,84% e o de serviços, leve queda de 0,08%.
Dúvida - Os especialistas ouvidos pela Reuters entendem que, a partir de abril, a recuperação econômica vai se dar de forma mais disseminada entre os demais setores que compõem o PIB. No caso da indústria, o caminho parece mais fácil, com estimativas de estabilidade na margem, com alguns até projetando avanço tímido no primeiro trimestre.
“O crescimento da indústria no segundo trimestre deve vir sobretudo puxado pela parte extrativa, por causa do minério”, disse a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro, que calcula retração de 0,3% da indústria no primeiro trimestre e crescimento de 1,1% no segundo.
A principal dúvida para a consolidação do crescimento brasileiro paira sobre o setor de serviços, que responde por quase 70% do PIB nacional pela ótica da produção e sente mais diretamente os impactos do elevado desemprego e da pouca disposição das famílias em consumir.
Os primeiros números do ano corroboram esse cenário: em janeiro, o setor recuou 2,2% na comparação com dezembro, pior resultado mensal da série histórica.
Por ora, a expectativa é que o setor de serviços esboce crescimento gradual ao longo dos próximos trimestres, puxado pela melhora do comércio, que deve se beneficiar da queda da inflação e da taxa de juros. O setor também pode sentir os efeitos positivos dos recursos que devem ser injetados na economia com a liberação dos saques de contas inativas do FGTS.
Fonte: Reuters