A falta de competitividade da indústria têxtil pode comprometer o avanço do setor diante da perspectiva de retomada do consumo. Neste cenário, fabricantes locais devem continuar enfrentando a concorrência dos importados.
“Existe demanda dos grandes varejistas, a dificuldade está na produtividade das confecções”, aponta o coordenador de serviços da consultoria do Senai CETIQT, Rodrigo Kurek.
Após dois anos no terreno negativo, o setor têxtil voltou a crescer em 2017. A produção de vestuário fechou o ano com aumento de 3,5% e, a total, 4,2%. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, projeta continuidade do crescimento para 2018, mas demonstra preocupação com o aumento contínuo das importações de vestuário no País.
“Houve um crescimento de 45% [das importações] e muitas com indícios de irregularidades. Se isso não tivesse ocorrido, teríamos crescido na casa de 28% no ano passado, bem acima do varejo”, destaca.
Em 2015 e 2016, as importações também haviam diminuído em virtude da alta do dólar, volatilidade do câmbio e queda do consumo em meio à crise econômica. O diretor do IEMI Inteligência de Mercado, Marcelo Prado, explica que o cenário mudou no final de 2016. “O câmbio está estável, em um patamar razoável há cerca de um ano e meio. Com o consumo em recuperação, as indústrias voltaram a se preocupar com as importações.”
O diretor de mercado da Texneo, Johnny Francis Gaulke, acredita que a queda das importações entre 2015 e 2016 fortaleceu o mercado interno. “O País teve que se reindustrializar. A cadeia têxtil brasileira é completa e tem um potencial muito grande de produção.”
Pimentel garante que não há oposição a importações lícitas, mas contra condições desiguais de concorrência. “Temos uma agenda de futuro, de combate a importações irregulares e de criar condições de competitividade. O Brasil é a maior indústria têxtil integrada do Ocidente. Esse parque produtivo está criando porosidade ao abrir espaço para concorrentes internacionais.”
Prado crê que as importações podem ser benéficas e trazer competitividade para o mercado, desde que ocorram dentro da legalidade. “Existem importadores oportunistas que trazem produtos a qualquer preço. Mas importações regulares trazem exigência de maior qualidade e inovação”.
O presidente da Pelican, Alberto Kunath, aponta que a principal matéria-prima da empresa, que atua na produção de pelúcia, não é fabricada no Brasil. “Temos que importar fibra de poliéster e fibra acrílica e 70% do custo de nossa matéria-prima é em dólar.”
Kunath conta que a empresa investe para enfrentar a concorrência externa. “Hoje, com gestão, pesquisa e tecnologia, conseguimos ser competitivos contra a desvalorização do câmbio e o mercado chinês. Nós temos pronta-entrega; quem compra da China tem que esperar seis meses.”
Demanda do varejo
Gaulke vê com otimismo a retomada do consumo, especialmente entre os grandes varejistas. “O varejo está bastante aquecido desde o ano passado. As previsões de crescimento de nossos clientes vão de 15% a 20%. As confecções também estão bem otimistas.” A empresa produz malhas para os segmentos de esporte e praia e acredita que a Copa do Mundo deve resultar em uma boa movimentação neste ano.
Rodrigo Kurek explica que um dos principais focos de sua consultoria a confecções é melhorar a eficiência para atender à demanda do varejo. “Mostramos que a capacidade da indústria não está esgotada. É possível produzir o mesmo gastando menos.”
Marcelo Prado aponta que cabe ao varejista ter um planejamento adequado para atender à demanda sem correr risco de excessos. “O pequeno e médio varejo têm a prática rotineira de errar o cálculo de estoque e acaba tendo que queimá-lo. Virou quase uma indústria do desconto. Com o consumo em alta, não causava grandes problemas, mas na crise é preciso lidar melhor com essa situação.”
Fonte: DCI