A área destinada ao cultivo de arroz no Rio Grande do Sul, maior produtor do País, pode recuar até 10% na safra 2018/2019 ante o ciclo anterior, quando foi de 1,07 milhão de hectares. Com dificuldade de acesso ao crédito e perspectiva de aumento de 20% dos custos por causa do câmbio, os orizicultores estão descapitalizados para o novo ciclo.
A projeção foi feita pelo presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, durante a Feira de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários (Expointer) em Esteio, no Rio Grande do Sul. Diante dessa perspectiva de menor área, a produção de arroz deve somar entre 7,5 milhões e 8 milhões de toneladas neste ciclo, um recuo de até 11,3% em relação à safra passada. Na temporada 2017/2018, o Estado produziu 8,4 milhões de toneladas.
Segundo Dornelles, a retração se deve à descapitalização do produtor e também ao aumento de custos de produção, que devem ser aproximadamente 20% superiores aos do ciclo passado, quando foram de R$ 7,4 mil por hectare. Grande parte dos insumos da lavoura arrozeira tem preços atrelados ao dólar e o tabelamento do frete já elevou os valores da entrega de materiais, devendo encarecer também o transporte dos grãos, além da energia elétrica mais cara.
“O produtor vê o aumento de custo de produção aliado ao atraso no preparo de solo, em decorrência das chuvas e da falta de dinheiro nessa etapa, e não quer arriscar muito mais”, afirma Dornelles. Segundo ele, a janela ideal de plantio se inicia em 20 de setembro e vai até 30 de outubro.
Na safra 2017/2018, a Federaroz já havia solicitado aos produtores que reduzissem a área de cultivo para equilibrar a oferta e a demanda do grão. “Mas o contexto deste ano é diferente e acreditamos que o produtor deva plantar, porque os atuais estoques são os mais baixos da história e devem chegar a menos de 400 mil toneladas em 28 de fevereiro – quando encerra o ano agrícola da cultura –, o que está abaixo do necessário para 15 dias de consumo no País.” O estoque habitual para o período oscila de 1 milhão e 1,5 milhão de toneladas, diz Dornelles.
Ele explica que os estoques baixos são resultado de um incremento das exportações do grão, que cresceram 137% de março a julho deste ano, para 546,4 mil toneladas, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Arroz (Abiarroz). Em setembro, a expectativa é de que os embarques somem 100 mil toneladas.
O economista do Sicredi, Pedro Ramos, destaca que a valorização do dólar também desestimula a importação de arroz do Mercosul. “Esse movimento de entrar menos produto de fora e de maior exportação faz com que o preço consiga voltar a um patamar remunerador, embora haja muita incerteza.”
Preços
Conforme Dornelles, a expectativa para o começo da safra é de preços 15% superiores aos do início do ciclo passado, em torno de R$ 40 a R$ 42 a saca de 60 quilos. No ano passado, esse valor era de R$ 34 a R$ 36 por saca. “Mas esse preço hoje, com o aumento de custos, não nos traz nenhum alento.”
Para o presidente da Comissão do Arroz da Federação da Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul (Farsul), Francisco Schardong, a safra 2018/2019 deverá ser marcada por um menor uso de tecnologia nas lavouras. “Vale mais a pena para o produtor fazer um plantio com menos inovação e colher menos, mas sobrar mais renda.” Ele não descarta a possibilidade de que essa redução impacte na produtividade no campo, entretanto, pondera que o clima tende a ser favorável. “O fator limitante para a cultura do arroz é a água e isso não vai faltar.”
Ele destaca como entrave a dificuldade de os produtores terem acesso a crédito para custear a safra. Segundo Schardong, apenas 25% das lavouras gaúchas serão financiadas por bancos. “O produtor está pagando dívidas passadas e não consegue dar as garantias necessárias para tomar novos recursos junto aos agentes financeiros”, afirma. “Nos últimos anos, a gente vem semeando esperança e colhendo problemas”, diz. /*A repórter viajou a convite do Pool de Imprensa Expointer 2018.
Fonte: DCI