O mercado de sementes para hortaliças deve encerrar 2018 com receita inferior a do ano passado, com as empresas segurando repasses de preços – que subiram com a valorização do dólar – e os produtores descapitalizados após a greve dos caminhoneiros.
De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (Abcsem), Marcelo Pacotte, as vendas de sementes para hortaliças vinham crescendo em torno de 10% ao ano até 2016, quando a crise econômica reduziu o poder de compra dos consumidores e os preços ao produtor começaram a recuar. A receita do segmento em 2017 caiu 4%, para R$ 446 milhões. “O setor sofreu muito neste ano e esperamos uma nova queda”, diz o dirigente, sem determinar, porém, de quanto será o recuo.
Ele afirma que a falta de crédito para investimento e a greve dos caminhoneiros agravaram a situação dos produtores de legumes e verduras. “Muitos perderam a produção e tiveram uma ruptura no fluxo de caixa.”
As empresas, por outro lado, têm segurado repasses no custo das sementes, que em sua maioria é importada, diante da valorização do dólar frente ao real. “As indústrias estão cortando custos e reduzindo as margens”, diz.
Pacotte acredita, contudo, que em 2019 pode haver uma retomada no setor. “Com a definição política e econômica, há uma possibilidade de melhora, já que este é um mercado que responde rápido.” O tempo médio de produção é de 40 dias.
O diretor de operações da Agristar, Silvio Valente, concorda com a visão. As sementes de hortaliças para plantio em larga escala como cebola, tomate, alface e coentro representam 85% da receita e 60% do volume de produção da empresa. “Esperamos que 2019 seja um ano mais estável, sem influência de eventos como Copa do Mundo e eleições.”
Para este ano, Valente projeta aumento de até 5% no faturamento sobre 2017, abaixo da expectativa inicial da empresa. A Agristar produz 1,7 tonelada de sementes por dia e investiu R$ 10 milhões em infraestrutura, o que permitirá o aumento da capacidade de armazenagem e fabricação em 2019.
Uso domiciliar
Embora incipiente, o mercado de sementes de hortaliças para uso domiciliar se destaca neste cenário. “Mais pessoas estão cozinhando em casa, por conta da crise e, ao mesmo tempo, há maior interesse em temperos e condimentos para pratos gourmet”, afirma Pacotte.
Este mercado movimentou R$ 172 milhões com a venda de 80 milhões de sachês em 2017. “O segmento veio para ficar”, diz o diretor da Abcsem.
A gaúcha Isla Sementes, por exemplo, planeja crescer 15% em 2018 amparada neste mercado, que representou metade do faturamento da empresa no ano passado, que alcançou R$ 40 milhões. Segundo o diretor de planejamento da Isla, Andrei Santos, o brasileiro utiliza, em média, meio pacote de sementes ao ano para plantio em casa, metade da média de países desenvolvidos. Cada sachê de até 10 gramas é vendido por R$ 1 a R$ 1,50. “O segmento é atrativo pelo potencial de crescimento e já percebemos mudanças no consumidor.”
Fonte: DCI