A BRF, dona das marcas Perdigão e Seara, espera colher resultados de algumas das medidas em curso, como reajustes de preços e redução de estoques, já no 4º trimestre, em meio a um período de demanda mais aquecida devido às festas de final de ano.
A expectativa, contudo, é parte de um longo processo de reestruturação da companhia, que vem de um ano tumultuado com a troca de lideranças e ainda sob os impactos das operações Carne Fraca e Trapaça, de 2017.
De acordo com o vice-presidente executivo da empresa, Lourival Luz, o aumento de preços – repasse proveniente do maior custo de grãos – vem sendo colocado em prática desde abril. “Não tivemos uma captura completa desse impacto, que deve acontecer no 4º trimestre”, disse ontem em teleconferência, ao comentar os resultados do 3º trimestre.
Os preços de venda aumentaram mais de 20% de abril a outubro e a perspectiva é que os repasses continuarão a ocorrer, uma vez que na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, o valor dos grãos avançou 45%. “Tivemos uma perda de market share de 0,6% em razão desse movimento, mas nossa prioridade é a rentabilidade e o alcance de melhores margens”, disse.
No período também é esperada a continuidade da redução dos estoques de matéria-prima de produtos congelados. “Já tivemos uma diminuição relevante de quase 40%”, pontuou.
O último trimestre do ano é tradicionalmente forte para as empresas de aves e suínos, devido à venda de itens natalinos. “Os produtos comemorativos estão indo bem, com crescimento ante igual período de 2017”, avaliou Luz.
No entanto, a BRF não conta com medidas que poderiam dar mais fôlego ao negócio no curto prazo, como a retomada dos embarques para a União Europeia após embargo imposto a partir da Operação Trapaça. “Não esperamos que as vendas para a Europa recomecem no primeiro semestre do ano que vem”, destacou, ao salientar que o cenário é desafiador para esses mercados no 4º trimestre e nos primeiros três meses de 2019.
A Rússia, outro mercado importante, anunciou a retomada das compras de empresas brasileiras, mas sem incluir a companhia na lista de habilitações. “Isso nos beneficia indiretamente, pois faz com que exista uma adequação da oferta e demanda e de preços de suínos no Brasil. Teremos esse benefício nos próximos meses”, argumenta.
Prejuízo
A companhia registrou prejuízo de R$ 812 milhões no terceiro trimestre do ano, ante lucro de R$ 138 milhões no mesmo período de 2017. Só os impactos das operações Carne Fraca e Trapaça foram de R$ 102 milhões no período, enquanto a reestruturação corporativa demandou R$ 47 milhões.
“Tenho convicção que, para o futuro, não vamos ver a empresa gastar com esses itens”, projetou o diretor-presidente global da BRF, Pedro Parente. “Esses resultados necessitam de tempo”, disse, acrescentando que a empresa necessita de ajustes em diversas áreas.
Entre eles, está o plano de desinvestimentos, anunciado em junho, que prevê a monetização de R$ 5 bilhões. Conforme Luz, o cronograma está dentro do esperado.
Ele destacou que as ofertas vinculantes para a venda de ativos da companhia na Argentina, na Europa e também na Tailândia são esperadas para meados de dezembro. A venda das unidades deve render R$ 3 bilhões à companhia.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado foi de R$ 604 milhões no 3º trimestre, retração de 35,7% sobre igual período de 2017.
Fonte: DCI