Depois de um ciclo de produção recorde, a safra brasileira 2019/2020 de café deve ser cheia, apesar de ser menor que a anterior devido ao impacto da bienalidade negativa da variedade arábica. Nesse cenário, os preços do grão devem se manter pressionados.
“As condições climáticas estão favoráveis até o momento, o que pode fazer com que o próximo ciclo não seja tão mais baixo que o anterior”, afirma o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Renato Ribeiro.
A produção na safra 2018/2019, colhida neste ano, foi calculada em 59,9 milhões de sacas de 60 quilos, alta de 33% em relação ao ciclo anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em seu último relatório divulgado em setembro. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) indica a colheita de 63,4 milhões de sacas de 60 quilos.
O crescimento na produção se deve à bienalidade positiva do café arábica e também à recuperação da produção nas áreas de conilon depois da quebra registrada em safras anteriores.
“Como nos últimos dois anos os preços estavam bons para as duas variedades, especialmente a arábica, os produtores fizeram investimento na renovação das lavouras e os novos pés estão entrando em produção”, diz.
Para 2019/2020, que será colhida no ano que vem, a perspectiva é de uma safra “cheia”, ainda que inferior ao ciclo 2017/2018, em razão da bienalidade negativa do arábica.
“Essa bienalidade, porém, tem apresentado efeitos menores do que os registrados em temporadas anteriores com a renovação e a entrada em produção de novos pés de café e um maior número de produtores trabalhando com áreas alternadas, para reduzir o impacto na produção”, pondera o analista da consultoria Safras & Mercado, Gil Barabach.
Volatilidade
Com esse aumento de oferta no Brasil, os preços da commodity recuaram. No caso do arábica de R$ 452 a saca de 60 quilos na média de outubro de 2017 para R$ 441 por saca na média do mesmo mês deste ano, considerando-se os valores nominais. “Essa quebra já vinha precificada desde meados do ano”, acrescenta Ribeiro, do Cepea.
Caso se confirme a perspectiva de uma boa safra no Brasil em 2019/2020, os estoques de café mundiais estarão ainda maiores em um cenário que Vietnã e Colômbia colhem produções elevadas. “Isso deva fazer com que as compras continuem a acontecer da mão para a boca no ano que vem”, observa Barabach.
Esse cenário só deve ser alterado se houver algum problema na produção que traga um risco de quebra para a safra de algum dos países que está com projeções positivas (Brasil, Colômbia e Vietnã).
Ele pondera que, se a cotação do dólar cair mais e se consolidar a perspectiva de uma safra farta, os preços do café devem continuar baixos.
Segundo ele, o que vem dando ritmo ao mercado é o câmbio e a oscilação do mercado externo, como a guerra comercial entre China e Estados Unidos que afeta de forma indireta os preços do grão. “O produtor deve ficar atento a isso, pois essa volatilidade pode gerar oportunidades de venda a preços mais atrativos.”
Barabach alerta, porém, que com o aumento da oferta, cresce também o armazenamento de grãos na propriedade. Desta forma, o ônus do frete, o custo de armazenagem e de depreciação do produto é do cafeicultor. “O produtor terá que comercializar a safra com mais atenção, uma vez que terá margens mais estreitas, o que dá mais espaço para erros”, pondera o analista da Safras & Mercado.
Nesse cenário, as exportações devem seguir em ritmo crescente, projeta o analista.
De acordo com o último levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), divulgado no começo deste mês, no acumulado do ano civil, o Brasil exportou 27,5 milhões de sacas de 60 quilos, um crescimento de 10,3% na comparação com igual período do ano passado. A receita cambial nessa mesma base de comparação recuou 4,9%, alcançando US$ 4 bilhões.
Fonte: DCI