O Ministério da Saúde e a indústria de alimentos e bebidas querem reduzir o uso de açúcar na produção de alimentos industrializados em 144,6 mil toneladas até 2022. O acordo foi assinado pelo ministro Gilberto Occhi e representantes das empresas. Como a quantidade total de açúcar utilizada pela indústria não foi divulgada, não é possível calcular a redução percentual de açúcar utilizado nos alimentos.
Os produtos que entraram no acordo são de 23 categorias de alimentos divididos em cinco grupos. São elas bebidas adoçadas, biscoitos recheados, bolos prontos e misturas para bolos, achocolatados em pó e produtos lácteos. A diminuição será gradual e a expectativa é que em 2022 a indústria tenha utilizado 144,6 mil toneladas de açúcar a menos.
As associações que selaram o acordo representam 68 empresas, que formam 87% do mercado desses produtos. As empresas deverão reduzir a quantidade de açúcar utilizado na fabricação de 47,8% dos produtos — o que equivale a 1.147 itens. Os alimentos que terão a maior diminuição de açúcar serão os biscoitos e produtos lácteos com a meta de retirar 62,4% e 53,9%, respectivamente. Cada uma das 23 categorias tem uma meta específica de redução.
— Nós estamos começando um processo de redução. Ele é gradativo nos próximos quatro anos. Dentro daquilo que a própria OMS recomenda, nós vamos buscar que o cidadão tenha informação — afirmou o ministro da Saúde, Gilberto Occhi. Segundo o ministro, as indústrias não poderão substituir o açúcar por adoçantes.
A fiscalização será realizada a cada dois anos a partir da assinatura do documento. O Ministério da Saúde fará a fiscalização por meio dos rótulos dos produtos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) também participará do processo, fará análises laboratoriais para medir a quantidade de cada ingrediente.
Produtos industrializados são responsáveis por 36% do consumo de açúcar da população brasileira, segundo o Ministério da Saúde. Os outros 64% são adicionados pelas pessoas no preparo de alimentos e bebidas. Com o acordo, o Brasil passa a ser um dos primeiros países do mundo a formalizar essa diminuição, afirmou Occhi.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária também participou da formulação do acordo. O diretor-presidente da agência, William Dib, acredita que o acordo também é um avanço nas relações entre o governo e o setor alimentício.
— Existem vários caminhos de melhorar os produtos sem precisar fazer regulamentação. Esse é um grande exemplo. Como está sendo o programa de redução do sódio. É fundamental para a saúde da nossa população — afirmou.
Questionado se a indústria alimentícia considera os produtos que serão modificados podem ser considerados saudáveis hoje em dia, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Wilson Mello, afirmou que a indústria trabalha em uma lógica em que os alimentos industrializados fazem parte de uma dieta mais completa.
— Não existe o conceito de alimento saudável na indústria. Na indústria, ele é pouco utilizado. O que nos interessa é uma dieta equilibrada. Há espaço para todo tipo de alimento. A indústria sempre faz investimento em inovação e tecnologia para descobrir novas fórmulas. O que nós preferimos é fazer uma redução efetiva ao longo do tempo — afirmou.
Além da Abia, o acordo foi assinado pela Associação Brasileira da Indústria de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (ABIR) e a Associação da Indústria de Lácteos (VIVA LÁCTEOS).
Consumo de açúcar
Os brasileiros consomem 50% a mais de açúcar do que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Por dia, cada brasileiro consome em média 18 colheres de chá do produto — o que corresponde a 80 gramas. O recomendado seria até 12 colheres.
O brasileiro já sente o impacto na saúde. Na última década, o diabetes cresceu 54% nos homens e 28,5% nas mulheres. A obesidade, outra doença diretamente ligada ao consumo de açúcar, cresceu mais de 60%.
Entre 2008 e 2010, um acordo entre o Ministério da Saúde e a Abia conseguiu retirar cerca de 310 mil toneladas de gordura trans dos alimentos industrializados. Já o Plano de Redução de Sódio, em curso, registrou a retirada de 17.254 toneladas até o ano passado. A meta é chegar a 28,5 mil toneladas em 2020.
*Estagiário sob supervisão de Francisco Leali
Fonte: O Globo/RJ