Maior empresa de alimentos e bebidas do mundo, a Nestlé está operando com capacidade total em todas as suas fábricas localizadas em oito estados do país para garantir o abastecimento nos supermercados. Marcelo Melchior, presidente da companhia no Brasil, diz que, no primeiro fim de semana da quarentena, houve uma forte corrida aos mercados, mas as compras já estão se normalizando.
Como está a produção da Nestlé neste momento em que praticamente só as cadeias de alimentos e medicamentos seguem em plena operação?
Estamos muito focados em abastecer o mercado, com duas preocupações fundamentais neste momento extraordinário. Não podemos parar. As pessoas já estão emocionalmente muito estressadas. E podem ficar ainda mais nervosas se procurarem um produto que consomem regularmente e não encontrarem. Não há necessidade de se sobrestocar, acreditamos que a cadeia está garantida. A segunda preocupação é com a segurança dos nossos colaboradores. Implementamos todos os protocolos de higiene, com controle de entrada e de temperatura em todas as fábricas e centros de distribuição. Qualquer pessoa que não estiver se sentindo bem, com febre, será isolada.
E a rotina nas fábricas?
Estamos trabalhando com máxima capacidade. Como as fábricas são bem automatizadas, não foi preciso fazer grandes adaptações. Mas incluímos muita rotina de limpeza, distância social de 1,5 metro e todos os equipamentos necessários para que as pessoas se sintam protegidas nas suas funções. Nos refeitórios tem sempre uma cadeira vazia entre as pessoas, nas filas também tem que manter distância. Práticas novas que temos que adaptar. E também home office.
E como está a cadeia de fornecimento? Algum produto ou insumo faltou?
Não tivemos nenhuma interrupção, pois todos os players do mercado, desde o princípio, entenderam que não podíamos interromper abastecimento de alimentos e bebidas nos lares brasileiros. Há risco de produtos e insumos importados, mas já estamos fazendo um trabalho com receitas alternativas se algo vier a faltar. Mas por enquanto temos estoques, e a cadeia de alimentos está funcionando.
Não há falta de embalagem ou outros insumos?
A cadeia é muito extensa, mas todos estão funcionando. Já há um entendimento de que se a empresa de material plástico parar, a de alimentos também para.
Muitas pessoas correram para os mercados para estocar alimentos. Como tem sido a demanda? Chegou a faltar algum produto?
Tivemos alguns dias de demanda muito alta, como no fim de semana passado. Mas as pessoas estão vendo que os produtos estão sendo repostos e parece que a compra está voltando à normalidade. Quando as pessoas se sentem mais seguras, não ficam na ânsia de ter que comprar só para deixar em casa.
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Vocês estão presentes em 190 países. Pela experiência global, quanto tempo acredita que a quarentena poderá durar?
Não sei responder. É tudo muito novo e com muita incerteza. Nunca vimos nada igual. É muito diferente da greve dos caminhoneiros. Mas nós estamos preparados para manter o abastecimento, não importa quanto tempo durar. Tenho certeza de que não vamos voltar ao que era antes da crise mundial. Vai mudar a forma de operar. Talvez as pessoas não vão mais dar beijo para se cumprimentar. Ainda não sabemos os impactos nem em países que já passaram pelo pior da crise.
Tem alguma pressão de preços em alguma parte da cadeia? Houve algum reajuste?
Trabalhamos com os preços estáveis desde o início do ano. O momento é de trabalharmos juntos para que o abastecimento da população seja mantido com regularidade.
Fonte: O Globo