2021 começou meio esquisito. A venda de ovos de Páscoa começou mais cedo neste ano. Na segunda quinzena de janeiro já era possível encontrar itens de Páscoa à venda nos supermercados. Normalmente, esse tipo de produto só chega às prateleiras do varejo depois da Quarta-feira de Cinzas. Era tradição do comércio esperar o Carnaval acabar para só falar de Páscoa.
“Adiantamos porque não vai ter Carnaval”, diz João Rafael Alterio, dono da Montevérgine, tradicional fabricante de ovos e coelhinhos de chocolate. Este ano, a Pascoa será comemorada no dia 4 de abril.
No ano passado, fabricantes e varejistas foram pegos de surpresa pela quarentena, que fechou o comércio de rua no fim de março. “A expectativa de 2020 era vender 20% mais em volume do que em 2019. Mas mais da metade dos ovos não foram vendidos”, diz Alterio.
E quem comprou ovo no ano passado resolveu gastar menos, segundo a Horus, empresa de inteligência de mercado. O consumidor da categoria, segundo um levantamento feito pela companhia, gastou 10% menos em relação a 2019.
Por isso, a indústria quer tentar reverter o prejuízo do ano passado aumentando o período de vendas em 2021. “Já mandamos carretas em janeiro para supermercados em Salvador, Recife, para o sul do país e para o sudeste”, diz Alterio.
E os supermercados?
“Quando a Ferrero Rocher, dona da marca Kinder, sugeriu antecipar a Páscoa, nós topamos. Achamos que era uma boa ideia. O surpreendente é que já está vendendo. E vendendo ovo grande, não é só coisinha pequena”, diz Renato Carvalho, gerente comercial da rede de supermercados Enxuto, que atua na região de Campinas, com 13 lojas.
No Paraná, a antecipação foi bem recebida pelo presidente da Apras (Associação Paranaense de Supermercados), Carlos Beal. “Após um ano convivendo com o vírus, os consumidores já estão mais conscientes da necessidade de programar suas compras para evitar aglomerações.”
E o calor?
Com as temperaturas passando da casa dos 30 graus em boa parte do país neste começo de ano, a chance de os chocolates derreterem é grande. Por isso, os fabricantes estão dando preferência para lojas com bom sistema de refrigeração.
“Se o chocolate derrete, por falha do varejista, o prejuízo fica com ele”, explica o industrial da Montevérgine. “Mas se o volume entregue não é vendido, as perdas ficam com a indústria. Os ovos são devolvidos. Ano passado, por exemplo, doamos tudo o que não vendeu, conta Alterio.
Páscoa x Carnaval
O varejo de alimentos está ressentido pelo cancelamento do Carnaval, o que movimentava bem as vendas de cerveja. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, o segmento vendeu cerca de 1,3 bilhão de litros durante o feriado em 2019. Isso representa 10% do valor que se vende o ano inteiro. A Folia de Momo também movimenta a venda de carnes e itens para churrasco.
“Acreditamos que na semana do Carnaval as pessoas vão comprar mais bebida e carnes para um churrasquinho em casa. Mas não vai ser como nos anos anteriores”, diz Carvalho, do Enxuto.
Antecipar a Páscoa compensa essas perdas?
“Vai ajudar. Começar a vender um mês antes pode auxiliar a igualar o resultado da Páscoa de 2019”, estima o gerente.
Mas é bom explicar que, para os lojistas, a venda dos ovos funciona como em um esquema de consignação. A indústria entrega os produtos e os supermercados só pagam depois da Páscoa. Então, é um bom meio de fazer caixa e trazer mais pessoas para loja.
“Mesmo que a pessoa não compre agora, só de saber que já temos ovos, quando ela quiser comprar, vai lembrar”, afirma o gerente.
E o preço?
Esse está mais amarguinho por conta do dólar. Como o cacau é uma commodity, um produto cujo preço é cotado no mercado internacional na moeda americana, os preços estão, em media de 4 a 5 % mais altos. Em alguns casos, chegam a custar 10% mais, segundo fabricantes e lojistas.
Por isso, na Montevérgine, a expectativa, mesmo com a antecipação, é vender 20% menos que em 2019”, diz Alterio. Mas só de não ter o prejuízo de 2020, é um alívio. “Normalmente, vendemos metade do que produzimos na última semana antes da Páscoa. Nas semanas anteriores, vende-se mais itens menores, como coelhinhos, ovinhos”, diz ele.
Mas o comportamento está diferente em 2020. “Não armamos as parreiras ainda. Vamos fazer isso só na Quarta de Cinzas. Mas só de colocar os ovos numa prateleira, perto da entrada da loja, dá para ver a cara de surpresa e alegria dos consumidores. E estamos vendendo bem: acima do que esperávamos, algo em torno de dez a 15 unidades por dia”, diz Carvalho.
O fato é que, numa pandemia, as datas comemorativas ganham outro peso. Com o isolamento social e o distanciamento dos amigos, de parte da família, poder abrir um ovo de Páscoa para as crianças em casa (ou para comer sozinho mesmo) ganha um sabor especial.
Fonte: Newtrade