Em 2005, o produtor rural Luiz Castelo assinou um termo de ajustamento de conduta com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso. "Foi voluntário, eu queria resolver meu passivo ambiental", diz o pecuarista, dono da Fazenda Bang Bang, em São José do Xingu, no noroeste do Mato Grosso. "Tenho 350 hectares de área para recuperar", conta. Gastou R$ 140 mil na empreitada. "Não é investimento, é obrigação legal", reforça.
Castelo é pioneiro na região em se preocupar com a mata ciliar dos córregos de sua propriedade (que compõem a bacia do rio Xingu) ou em refazer a reserva legal de floresta nativa que foi desmatada. Tem 10 mil cabeças de gado em 13.500 hectares de terras. O fazendeiro parece ter tomado gosto pelo olhar ambiental nos negócios.
Ontem, ele circulava em Cuiabá, entre representantes de povos indígenas de cocar, pequenos agricultores, pesquisadores e ambientalistas no seminário "As mudanças no clima e a agricultura de Mato Grosso: impactos e oportunidades", que reúne 170 pessoas. "Não tinha conhecimento ou tecnologia para isso e busquei o ISA", conta, citando a parceria com o Instituto Socioambiental, ONG com trajetória de atuação junto a povos indígenas e que há 4 anos lançou a campanha Y Ikatu Xingu, em defesa das cabeceiras do rio.
O primeiro contato, evidentemente, teve constrangimentos de ambas as partes. "Lembro da hora de pagar a conta do primeiro almoço entre a gente. Quatro pessoas, quatro cartões de crédito na mesa. Ninguém queria ser convidado do outro", diz Castelo.
Técnicos do ISA têm ajudado na escolha das espécies para plantar, em como e quando semear, e até onde buscar as sementes. "Por que onde se compram sementes de pequi e baru? Na loja da esquina não tem", diz Marcio Santili, coordenador do programa de mudanças climáticas do ISA. A ONG desencadeou o processo de coleta das sementes junto aos indígenas, por exemplo, ou anunciando o interesse em rádio locais.
"Estou me estruturando para começar a exportar", diz Castelo. Na iniciativa, teve o apoio do grupo Pão de Açúcar, para quem venderá a carne. A rede varejista incluiu o fazendeiro no Projeto Tear (Tecendo Redes Sustentáveis), que tem por objetivo estabelecer práticas de responsabilidade social, coordenado pelo Instituto Ethos.
A experiência de Castelo ainda é pouco comum em um Estado que apenas recentemente começa a se preocupar com o tema ambiental e costuma competir com o Pará no ranking dos campeões de desmatamento da Amazônia Legal. O Mato Grosso, segundo maior produtor de grãos do Brasil, tem poucas estações meteorológicas, lembrou Giampaolo Pellegrino, da Embrapa Informática Agropecuária - o que dificulta estudar as mudanças do clima. O secretário do Meio Ambiente, Luis Henrique Daldegan disse que o Mato Grosso vem fazendo a sua parte. "A redução do desmatamento no Estado é sensível e visível, embora algumas pessoas não queiram enxergar", afirmou. "O céu está azul", disse, olhando para fora. Por aqui, céu sem fumaça em setembro pode ser sinal de que o plano de combate às queimadas está surtindo efeito.
Veículo: Valor Econômico