Indicador mede tentativas de golpe envolvendo pessoa física no mercado
Fraudes na tomada de crédito são as mais comuns; até outubro, volume de tentativas supera R$ 5,8 bilhões
A Serasa Experian, de informações financeiras, lança hoje um índice para medir as tentativas de fraude praticadas por pessoas físicas contra empresas no Brasil.
Com o indicador, que será divulgado a cada mês, a Serasa quer alertar o mercado para os golpes mais comuns em determinado período.
"À medida que o índice subir, apontando que as tentativas de fraude estão mais ativas, as empresas poderão intensificar a segurança", diz Ricardo Loureiro, presidente da Serasa Experian.
O indicador que sai hoje, referente a outubro, mostra que as tentativas de fraude por uso indevido de dados de consumidores somaram R$ 592,2 milhões. De janeiro até o mês passado, o volume superou R$ 5,8 bilhões.
Loureiro diz que os casos reportados de golpes efetivos cresceram nos últimos 12 meses, no embalo do aquecimento econômico, o que estimulou a criação do índice.
A Experian já publica indicadores similares no exterior, em países como EUA e Reino Unido, há cinco anos.
AS MAIS COMUNS
Ainda de acordo com a Serasa, as fraudes na tomada de crédito são as mais comuns no Brasil -seja no sistema financeiro, no varejo ou em telecomunicações (com celulares, por exemplo).
E, entre elas, aparecem com maior frequência as que envolvem o uso indevido de documentos de identidade.
Assim, para se proteger, as empresas devem confirmar dados cadastrais e avaliar as "informações comportamentais" do consumidor.
"É muito comum que as companhias não separem as perdas que têm por causa de fraudes desse tipo daquelas que são resultado de inadimplência", diz Loureiro.
"E é preciso separar as coisas porque as medidas de combate em cada caso são diferentes."
O novo índice vem do cruzamento de três dados.
Primeiro, o número total das consultas de CPFs feitas mensalmente na Serasa.
Depois, a estimativa do risco de fraude envolvendo uma amostra desses CPFs, obtida por modelos de probabilidade desenvolvidos pela companhia.
E a terceira informação é o valor médio dos golpes efetivamente aplicados registrados pela Serasa.
"Nossa base de dados é muito grande. Atendemos 400 mil empresas que fazem aproximadamente 4 milhões de consultas por dia, o que nos permite chegar a um indicador consistente", afirma Loureiro.
NATAL
Até agora, o índice de golpes no ano foi mais alto em maio (chegou a R$ 662,5 milhões), mês do Dia das Mães. Essa é a segunda data mais importante do ano para o varejo brasileiro.
Mas a Serasa diz que esse recorde pode ser batido no Natal, época em que mais se vende no país.
Em 2011, a empresa deve começar a divulgar também um índice de fraudes envolvendo pessoas jurídicas.
Novas tecnologias adotadas pelo comércio reduzem golpe
Lojas que oferecem cartões próprios ("private label") para parcelamento conseguiram praticamente acabar com as fraudes nas operações adotando duas medidas simples: digitalização de documentos e registro de fotos dos consumidores.
A Acesso Digital começou a comercializar a tecnologia há dois anos, devido ao aumento do crédito entre pessoas de baixa renda.
"Muitos consumidores das classes D e E não têm conta em banco nem acesso fácil ao crédito. Por isso, as lojas oferecem cartões para alavancar as vendas. Mas o risco de fraude é maior", afirma Alex Yamamoto, consultor da Acesso Digital, empresa que vende a tecnologia.
Existem mais de 200 milhões de cartões "private label" no país, de 70 bandeiras diferentes, estima a Abecs (associação das empresas de cartões de crédito).
Segundo Yamamoto, o objetivo da fotografia é evitar autofraudes (quando alguém compra e, na hora de pagar a fatura, nega a aquisição).
Já a digitalização permite o envio instantâneo das imagens dos documentos para uma central, onde fica uma equipe especializada em detectar falsificações.
A rede Tent Beach, de moda praia, utiliza o sistema há dois anos, em 31 lojas.
Segundo Cintia Gordon, gerente da Kombai Card, administradora de cartões da Tent Beach, houve 150 casos de fraude em 2008 e apenas 4 em 2009 e 3 em 2010. A rede emite 1.500 cartões por mês.
A loja de sapatos American Shoes contratou o serviço em outubro de 2008.
Segundo Marta Sanches, gerente de crédito da American Shoes, a medida reduziu as fraudes em 90%.
A empresa já foi condenada a pagar R$ 1.500 a uma pessoa que teve seus documentos usados por um fraudador para obter cartão na loja, antes da implementação dos novos recursos.
A Acesso Digital cobra entre R$ 200 e R$ 400 por mês, dependendo da infraestrutura contratada e do volume de digitalizações.
Segundo a empresa, mais de mil lojas usam as ferramentas. Entre os clientes, estão Bradesco Cartões e a varejista gaúcha Quero-Quero.
Veículo: Folha de S.Paulo