Evento promovido pela ABRAS e ALAS reuniu nesta terça-feira renomados profissionais do varejo para discutir a dimensão deste grande desafio em toda a região latino-americana e caminhos para a prevenção
As perdas e desperdício de alimentos são um desafio global, que compromete o resultado das empresas e traz consigo impactos econômicos e sociais. Engajadas em fomentar a prevenção junto ao varejo alimentar, a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) e a Associação Latino-americana de Supermercados (ALAS), promoveram nesta terça-feira (26), em formato virtual, o 1º Fórum Internacional de Perdas e Desperdício de Alimentos.
Marcio Milan, vice-presidente Institucional e Administrativo da ABRAS, abriu o evento dando às boas-vindas a todos e chamando a atenção que o tema do encontro “não é específico de uma loja, de uma rede ou de um país. É um assunto que abrange todos os países do mundo todo. Vamos ter a oportunidade de debater sobre as perdas e desperdícios de alimentos”, afirmou Milan, que na sequência passou a palavra para Christian Cieplik, presidente da ALAS.
Segundo Cieplik, é importante a oportunidade da reunião de gente de vários países para compartilhar as boas práticas e também comentar sobre as ruins, para que essas últimas não se repitam. O executivo ainda comentou que a sociedade olha por muitas razões os supermercadistas, afinal, as lojas são os locais onde as famílias se abastecem, mas também é o lugar final da cadeia onde erros são vistos pelos consumidores. “Somos quem dá a cara perante o público. Sempre fomos e seguiremos sendo o ponto de venda. Hoje, temos um diferencial que está à vista de todos, pois, durante as etapas da pandemia, os únicos lugares onde a gente podia ir era o supermercado. Agora, com mais abertura, temos que seguir sendo um ponto de referência e de excelência. Quero parabenizar todo mundo pelo grande esforço feito porque trabalhamos, sem manual, afinal, não tínhamos passado por nada parecido. A gente enfrentou a situação de uma forma bem-sucedida”, disse o presidente da ABRAS.
Sobre o tema do encontro, Christian Cieplik disse que se trata de um dos assuntos mais importantes que “enfrentamos como humanidade”. Ele disse que o evento é um bom momento para discutir as melhores práticas, usando tecnologias, podendo fazer rastreabilidade do alimento, manipulá-lo da maneira correta entre outras ações benéficas para o negócio e para o consumidor. “É um tema complexo e completo também. Acho que a gente tem que pensar em trabalhar todos juntos, de forma global porque é a melhor forma de ter resultados. É isso que as pessoas esperam da gente. A pandemia veio para ensinar muitas coisas, claro, com custo, com sofrimento. Mas se a gente interpretar isso de maneira correta e colocarmos as pessoas em primeiro lugar, a pandemia ofereceu a oportunidade de olhar linha por linha, detalhe por detalhe, todo esse grande movimento que tem em cada uma das nossas lojas. Isso vai fazer que sejamos os mais eficientes possíveis”, complementou.
Após a fala de abertura de Christian Cieplik, Márcio Milan convidou João Galassi, presidente da ABRAS para falar em nome da entidade brasileira. Segundo Galassi, a realização deste fórum internacional é muito importante para a sociedade, para o Brasil, para a economia, para os empregos, para a geração de impostos, para realizar um trabalho em conjunto. “Afinal, não tem país no mundo que aceita com tranquilidade os desperdícios e as perdas. Temos que trabalhar cada dia mais nesse assunto que afeta inclusive a questão mais importante que nós temos em todo esse universo que é o social”, ressaltou o presidente da ABRAS.
Galassi comemorou e parabenizou os supermercadistas porque neste ano foi possível reduzir as perdas. “Pela primeira vez na história tivemos o menor índice de todos os tempos e nós podemos ir além, se utilizarmos as experiências e compartilharmos com os nossos pares. Hoje é um dia muito importante para ABRAS por construir essa aliança em um dos pontos mais sensíveis da sociedade que é o desperdício. É um momento extraordinário”, celebrou Galassi.
Indicadores de eficiência do varejo na América Latina
Dando continuidade às apresentações do evento, Márcio Milan informou que na sequência seriam compartilhados os indicadores de eficiência do supermercado referentes à prevenção de perdas e desperdícios. Para abrir o Bloco 1, intitulado Indicadores de eficiência do varejo na América Latina e apresentar o tema Evolução dos indicadores que impactam nos resultados das operações no varejo, Milan passou a palavra para Romualdo Teixeira, executivo de varejo. Teixeira compartilhou os resultados de uma pesquisa realizada com supermercadistas de vários países para identificar alguns percentuais de perdas.
Segundo Teixeira, na Argentina as pesquisas sinalizaram 1,70% de perdas; no Brasil, 1,79%; no Chile, 1,70%; na Colômbia, 1,73% e no México, 1,43%. “O objetivo aqui não é analisar ou identificar quem está melhor ou quem está pior. Na verdade, a gente quis contextualizar quais são os indicadores existentes para que possamos mensurar as oportunidades”, complementou Teixeira.
Na sequência Roberto Butragueño, diretor de varejo Nielsen IQ, expôs o tema Comportamento do consumo nos países latino-americanos e diferenças de mix dos produtos. Butragueño revelou que os consumidores latino-americanos passaram a comprar mais produtos saudáveis e as vendas de perecíveis aumentaram. Segundo executivo da Nielsen IQ, o Brasil, por exemplo, é um país que se destaca acima da média com a participação dos perecíveis frescos com crescimento em torno 10%. “Na América Latina, o autosserviço está vendendo 17 bilhões de dólares, o que seria quase 100 bilhões de reais de produtos perecíveis frescos. Um produto ligado a perdas e desperdício. Então, claramente, é uma oportunidade e um volume muito importante. É uma cesta que o consumidor está consumindo cada vez mais”, explicou Butragueño
Encerrando o Bloco 1, Ricardo Gil Ochoa, vice-presidente de Negócios e Serviços Afiliados Fenalco, abordou sobre Indicadores e resultados em supermercados da Colômbia, impactos e evolução.
Debate de alto nível
Luís Rangel, secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura (MAPA), fez sua apresentação Formação do grupo de trabalho para proposição de melhorias no âmbito da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Agronegócio (CDSA). Ele chamou atenção que do ponto de vista de comunicação, todos os públicos precisam estar conectados com o enfretamento de perdas. Por exemplo, ele comentou de revisar campanhas exitosas no passado que possam retomar a sensibilização da sociedade civil em várias esferas, como os supermercadistas, nutricionistas, educadores, atacadistas, consumidores etc.
“A questão regulatória é fundamental para que nós tenhamos segurança jurídica. Nós sabemos que diversos países do mundo já avançaram bem nesta questão. Há preocupação das próprias empresas e com o consumidor em relação a segurança desses alimentos. São práticas reconhecidas como as melhores do mundo e a América Latina precisa se inspirar nesses modelos e avançar”, completou Rangel.
Neste Bloco 2 ainda trouxeram suas contribuições: João Dornellas, presidente da ABIA (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) com o tema Best Before: Proposições para o tratamento de alimentos com validade vencida, e Ana Paula Maniero, gerente de desenvolvimento setorial GS1 Brasil, com a apresentação Como a tecnologia 2D contribuirá com o controle da validade vencida. Na ala dos varejistas fizeram explanações Santiago Diaz Arbealaez, diretor legal PriceSmart Colômbia, abordando o tema Evolução dos indicadores por validade vencida na Colômbia; Patrick Barra, gerente de controles internos do Supermercado Carone, com a palestra A construção de um aplicativo próprio na rede para controle dos produtos por validade vencida, e Marie Tarrisse, gerente de sustentabilidade do Carrefour Brasil, que trouxe o case: Boas práticas na operação com alimentos, da venda à compostagem.
A última sessão da noite foi a do debate com o tema Resultados, maturidade e desafios da prevenção de perdas latino-americana, que contou com a moderação deRomualdo Teixeira. Participaram da mesa: Jerome Mairet, diretor de risco do Carrefour Brasil; Gernaldo Gomes, coordenador do Comitê de Prevenção de Perdas e Desperdício da Alimentos da ABRAS; Leonardo López, diretor de investigação de mercado; Mauricio Arce, diretor de operações Hipermaxi e Alberto Sborovsky, presidente CAPASU.
A cobertura completa do 1º Fórum Internacional de Perdas e Desperdício de Alimentos será publicada na edição de novembro da Revista SuperHiper.
Redação SuperHiper