Por Flávio Tayra*
A inflação, grande flagelo da economia brasileira nos anos 80 e parte dos 90, continua preocupando. Segundo dados do IBGE divulgados hoje, o IPCA acumula 6,59%, 0,09 pontos percentuais acima do teto da meta da inflação. Em março, a inflação oficial do país foi de 0,47%, abaixo do verificado fevereiro, 0,6%. Apesar do estouro da meta, a taxa de março mostrou recuo e é o menor resultado desde agosto de 2012 quando a taxa tinha ficado em 0,41%.
A inflação de alimentos continua pressionando o índice, tendo avançado 13,48% no período de 12 meses e 1,14% no mês (mais do que o dobro do IPCA cheio). E alta desses produtos pesa mais no bolso das famílias de baixa renda, para quem os mais alimentos significam muito mais no orçamento, em termos proporcionais. Em Belém e em Salvador, os preços dos alimentos subiram mais de 18% em 12 meses.
O momento é de pressão de demanda sobre tais produtos e por isso, já se especula a alta dos juros para que o Banco Central consiga trazer o IPCA de volta para dentro dos horizontes da meta de inflação. Mas o Brasil já está crescendo pouco e o remédio contra a inflação poderia prejudicar ainda mais o desempenho da economia. Esse deverá ser o dilema do Banco Central nas próximas semanas.
Impactos da desoneração - A desoneração de PIS/Cofins sobre os itens da cesta básica em vigor desde meados de março contribuiu para que a inflação não fosse ainda maior no mês. O impacto total da desoneração ainda não pôde ser verificada, pois apesar de ter sido anunciada no dia 8/3, os supermercados só puderam mesmo aplicar na prática uma semana depois, ou seja, após o início do período de apuração dos preços de março.
Entre os produtos alimentícios que se destacaram como as principais quedas no IPCA de março estão itens beneficiados pela medida do governo: açúcar cristal (de -1,76% em fevereiro para -1,91% em março), carnes (de -0,13% para -1,63%), óleo de soja (de -0,84% para -1,53%) e açúcar refinado (-2,82% para -1,06%). No total nacional, a cesta dos produtos desonerados apresentou queda de -0,83% em março, tendo sido a maior queda registrada em Curitiba (PR), com redução de -1,43%. Pelos motivos já comentados, a expectativa é de que em abril, os efeitos da desoneração venham se aprofundar ainda mais, contribuindo para a redução do IPCA deste mês. A Abras continua em campanha permanente para que a desoneração chegue a todos os supermercados do País.
*Gerente do Departamento de Economia e Pesquisa da Abras.