Como acontece de tempos em tempos, os veículos de comunicação noticiaram há alguns dias um tema muito conhecido pelos produtores rurais, especialmente os pecuaristas: sua associação com o desmatamento e a legislação trabalhista, principalmente no Bioma Amazônico.
O fato novo na mais recente divulgação é que os supermercados começaram a se mexer, exigir a lista de fornecedores de bois para os frigoríficos que, por sua vez, atendem a demanda de carne dos varejistas. Desta vez a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) entra em ação para ampliar as restrições àquela pequena parcela de pecuaristas que insiste em trabalhar infringindo as regras socioambientais e fundiárias.
Um termo de cooperação técnica assinado entre o Ministério Público Federal e a Abras promete combater internamente o consumo de carne bovina originária de propriedades no Bioma Amazônico que desrespeitam a legislação, incentivando a divulgação da procedência dos produtos.
Nesse sentido, as informações sobre tais propriedades serão cruzadas nos diferentes órgãos públicos ligados ao meio ambiente e ao trabalho. Simultaneamente, nos 82 mil estabelecimentos associados à Abras em todo o país será informada a relação de frigoríficos e propriedades produtoras que participam de programas de boas práticas e gestão ambiental organizadas pelo Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama).
Essa atitude é sinal claro pela busca da credibilidade dos alimentos consumidos no Brasil. Nosso país emergente, que já há bom tempo está no foco das atenções internacionais e peca ela desorganização e desempenho aquém do esperado, caminha para a busca da qualidade.
Não foi o primeiro passo. Em 2009, os grandes frigoríficos iniciaram um trabalho para rastrear a carne para exportação, conhecendo a origem dos animais para abate, a fim de que esses não sejam provenientes de áreas embargadas pelo Ibama ou que constem da lista de trabalho escravo do Ministério do Trabalho e Emprego.
Eles anunciaram a moratória a bovinos originários do Bioma Amazônico. As empresas se comprometeram a não adquirir, abater ou comercializar animais das áreas deste ecossistema que tenham sido desmatadas irregularmente.
Os produtores rurais que, como nós e milhares de outros, se enquadram numa classe que trabalha com seriedade, esperam que esta condição de responsabilidade seja reconhecida e que nossos produtos sejam valorizados.
É por isso que iniciativas como essa da Abras renovam o ânimo dos pecuaristas sérios que, aliás, representam a maioria do mercado.
Como pecuarista, apoio todas as iniciativas dos órgãos públicos, imprensa, indústria, varejo e consumidor, viáveis e coerentes que estimulem, monitorem e reconheçam a produção responsável, seguindo leis e normas ambientais, trabalhistas e que consideram o bem-estar dos animais.
Que os produtores que trabalham segundo as leis socioambientais façam parte do plano de ação dos supermercados, sejam reconhecidos e tenham os seus produtos valorizados, para estímulo e continuidade da pecuária sustentável e correta.
IAN HILL*
* Diretor-geral da Agropecuária Jacarezinho
Veículo: Diário do Comércio - MG