O setor supermercadista começa a sentir os efeitos de uma economia desacelerada e de baixo desempenho, tanto que a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) prevê rever para baixo o crescimento do setor este ano, estimado em 3%. |No ano passado, o crescimento foi de 5%. As explicações para o desempenho pífio, uma vez que o setor é considerado a força-motriz do varejo, assim como as franquias e os shoppings, deve-se ao consumidor mais endividado, indo menos ao mercado e reduzindo, ou substituindo, a cesta de compras.
Outro ponto destacado pela Abras é o desempenho menor de regiões que antes eram vistas como promissoras. O Norte e o Nordeste começam a dar sinais de enfraquecimento, o que não ajudaria uma possível recuperação do setor no segundo semestre. Nem mesmo o desempenho dos grandes players - Grupo Pão de Açúcar (GPA), Carrefour e Walmarte Cencosud - será capaz de fazer com que o ramo supermercadista opere de forma mais robusta. Cabe agora às redes de menor porte - que representam 39,2% do faturamento - se consolidarem em suas áreas de atuação para não perderem o consumidor, conforme argumentou o presidente do conselho consultivo da Abras, Sussumu Honda. "O desempenho do GPA foi excelente no primeiro trimestre, mas ele não garante o setor como um todo. O que vemos no segmento é o crescimento de redes de bairro e das redes regionais", disse.
Para Honda, quanto mais essas empresas crescem em suas regiões de atuação, mais elas chamam a atenção da indústria. "Com isso, essas empresas menores conseguem ter o mix de produtos tão bom quanto as grandes redes, pois os fornecedores querem estar onde o consumo cresce. A indústria começa a procurar por eles, sem que os empresários tenham de se abastecer nos atacados", explicou.
Outro ponto ressaltado pelo porta-voz da Abras é a questão da frequência menor do consumidor no ponto de venda. "É consenso entre os empresários do setor que a frequência nas idas aos supermercados tem caído".
Segundo o especialista, o consumidor, "que agora sabe fazer conta", tem evitado ir muitas vezes aos pontos de vendas, pois sabe que fará compras por impulso. "Eles vão uma vez ao mês fazer a aquisição de itens de cesta básica. Nas outras, eram compras por impulso que estavam comprometendo ainda mais a sua renda", falou.
Os atacarejos, mesmo tendo maior procura pelos preços mais atrativos, não impactaram o desempenho do setor. "Eles atuam em nichos muitos específicos (famílias grandes, pizzarias, bares e restaurantes), não estão pegando os clientes dos supermercados".
Na opinião do coordenador do núcleo de estudos e negócios do varejo da ESPM, Ricardo Pastore, é em momentos como esse que o segmento supermercadista deve manter o ritmo de investimento. "Temos movimentos pontuados como o Condor, que chegou em Santa Catarina com um hipermercado e investimento de R$ 40 milhões. O Zaffari também vem em um movimento de abertura de lojas. Além disso, as redes regionais que atuam no interior de São Paulo, por exemplo, também têm apresentado um movimento de expansão."
Pastore se referiu a CSD - proprietária dos Supermercados Cidade Canção e São Francisco - que comprou a rede Amigão, de Lins, no interior de São Paulo (SP), em junho deste ano. O DIA, que atua com formato de franquia, ao que tudo indica, também tem levado a melhor, pois consegue crescer de forma rápida. "O DIA tem feito um ótimo trabalho com o modelo DIA Market, com um formato menor", explicou ele.
Medidas
Para que as redes deixem de "perder" o consumidor, algumas ações são necessárias, ainda mais que os mesmos decidem pela marca do produto do ponto de venda, conforme pesquisa daBain & Company . A pesquisa identificou que ações no ponto de venda, como a disposição diferenciada dos produtos e promoções podem ajudar o consumidor a comprar. Ainda segundo a Bain & Company, promotores que fazem degustação e informam sobre os produtos também se faz uma forma efetiva de atrair o consumidor para a marca.
Setor pode ter pior ritmo desde 2006, diz Abras
Com a perspectiva de que o varejo alimentar apresente crescimento menor que 3% - patamar este estimado no início do ano -, o segmento pode apresentar o pior desempenho desde 2006, quando as redes supermercadistas tiveram queda de 1,59%.
Balanço da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) apontou que de janeiro a junho (primeiro semestre) o setor apresentou alta de 1,57% em seu volume de venda. Em junho, as vendas reais tiveram queda de 1,40% na comparação com o mês de maio. Na comparação anual, os supermercados conseguiram incremento de 1,29%.
Para o segundo semestre as perspectivas estão complicadas. Para o presidente do conselho consultivo da Abras, Sussumu Honda, o segundo semestre será complicado, ainda mais com a comparação com o mesmo período do ano passado, quando o setor apresentou incremento mensal de vendas entre 4% a 5%.
"Será muito difícil ter um segundo semestre melhor e conseguir uma recuperação. A base de comparação alta torna as coisas mais complicadas", disse Honda. Uma das medidas das redes para não perder competitividade tem sido apostar na franquia para aumentar presença de mercado. Minimercado Extra e DIA aderiram.
Veículo: DCI