Da mesma forma que a combinação entre o aumento da renda e a maior disponibilidade de crédito modificou o perfil de consumo do brasileiro nos últimos anos, ao longo de 2014, o consumidor viu sua renda ser corroída pelo aumento dos preços e seu poder de compra diminuir com o avanço dos meses. Diante desse cenário, os hábitos foram alterados mais uma vez, e medidas como corte de gastos na compra de supérfluos, redução de idas aos pontos de vendas, diversificação dos canais de compras, opção por itens mais baratos e racionamento das aquisições estão cada vez mais comuns.
Estas e outras percepções foram levantadas e avaliadas por institutos de pesquisa em parceria com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). De acordo com a Nielsen, por exemplo, as mudanças de hábitos de consumo impactaram diretamente na preferência por formatos de lojas com menos serviços e foco em preço baixo. Fato que comprova isso é que o chamado atacarejo cresceu 9% no primeiro semestre deste ano frente ao mesmo período de 2013, enquanto os supermercados e hipermercados apresentaram alta de apenas 1,48% no mesmo confronto.
Na avaliação do diretor de atendimento da Nielsen, Olegário da Cruz de Araújo, estas mudanças indicam como o setor supermercadista pode driblar estas situações adversas vividas junto aos consumidores. "As empresas precisam focar na simplicidade e na produtividade. Mais uma vez, a dinâmica regional impera diante dessa situação e faz a diferença em um setor que é extremamente competitivo. Além disso, mesmo em um momento atípico como o que vive atualmente a economia nacional, alguns fatores não se alteram, como é o caso da praticidade e da conveniência, objetivo final dos consumidores nos dias de hoje", observa.
A Kantar Worldpanel, por sua vez, constatou que a cesta de bens de alto consumo desacelerou e voltou ao patamar de 2012, com crescimento de 4,4% no acumulado dos primeiros seis meses deste exercício. Segundo a instituição, todas as classes continuam impulsionando o consumo, mas a freqüência de compra das classes mais baixas da população, que sustentou e grande parte o crescimento do consumo no Brasil nos últimos anos, caiu.
Racionalização - "Com o poder de compra corroído, há uma racionalização das compras. Assim, o consumidor está indo menos vezes aos supermercados e quando vai, concentra seus gastos. Isso também tem gerado mais concorrência, já que as pessoas priorizam canais que ofereçam mais preço e conveniência", explica a diretora da Expert Solutions Kantar, Christine Pereira.
Neste sentido, o estudo da Kantar identificou que o volume médio adquirido no decorrer dos primeiros seis meses deste ano registrou estabilidade frente a mesma época do ano passado (0,5%) - o menor índice dos últimos cinco anos. Em relação à freqüência de idas aos pontos de vendas, a entidade revelou que a média passou de sete por semestre para cinco no decorrer de janeiro a junho deste exercício, o que equivale a cerca de 350 milhões de visitas a menos em cinco anos. Além disso, as compras de despensa representaram 47% do volume da cesta e 84% dos lares optaram por três canais de compras para se abastecer.
"As compras agora estão concentradas em itens de primeira necessidade. Mesmo categorias que cresciam por estarem associadas à praticidade começaram a perder espaço para algumas substitutas. Produtos como leite fermentado, petit suisse, chá líqüido, água mineral e lanche pronto estão diminuindo a saída, enquanto cream cheese, detergente líqüido para roupa, protetor solar, suco pronto e batata congelada estão aumentando", aponta. (MB)
Veículo: Diário do Comércio - MG