O fundador e presidente do grupo Cencosud, Horst Paulmann, não descartou ontem a possibilidade de a empresa trazer novas cadeias de varejo ao Brasil. No início do ano, o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, antecipou que a empresa estuda expansão no Brasil com a abertura de lojas de varejo de construção, com a bandeira Easy. O grupo também opera, no exterior, a loja de departamentos Paris. "Tudo é possível. Depende de análises que nossa equipe está fazendo", afirmou ele, durante convenção anual da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em Atibaia (SP).
Com apenas uma loja aberta neste ano no país, até junho, a empresa atua no setor de supermercados e hipermercados no Brasil desde 2007, mas registra expansão orgânica lenta em relação a redes como Grupo Pão de Açúcar. São 222 lojas e cerca de R$ 10 bilhões em vendas brutas em 2013 com as redes G.Barbosa, Perini, Prezunic, Bretas e Mercantil Rodrigues (atacado).
O empresário disse, numa rara aparição pública no país, que a companhia está "de olhos abertos" em possíveis aquisições, mas ressaltou que o momento é de "melhorar" as operações já existentes, que estão em fase de reformulação no país há pelo menos dois anos, para tentar ganhar maior eficiência e obter ganhos de sinergia. Este é o principal foco da companhia hoje.
Essa reestruturação levou a mudanças em cargos de chefia das redes adquiridas, com troca de executivos, alteração da sede no ano passado (de Salvador para São Paulo) e também ajustes nos sistemas na área de gestão das redes varejistas controladas. Sobre o tema, Paulmann disse que a união das redes adquiridas, que envolve mudança de cultura dessas companhias, só pode ser feita se ele, o CEO do grupo, puder delegar poder.
"Tem que descentralizar, delegar funções, e temos uma excelente equipe aqui [no país]", disse, ao ressaltar que é preciso ter executivos brasileiros no comando das cadeias. Paulmann, alemão naturalizado chileno, de 79 anos, é conhecido no setor pela fama de centralizador, que gosta que decisões estratégicas e operacionais passem por ele.
A empresa tem alguns dos piores indicadores entre as varejistas líderes do setor no país. As vendas líquidas tiveram queda de 0,7% de abril a junho, para R$ 2,15 bilhões, e a margem bruta encolheu quase 3 pontos, para 19,2%. "Nós somos uma rede de sete anos [que entrou no país em 2007]. Walmart tem quase 20 anos [no país], O Carrefour tem quase 40 e o Pão de Açúcar ainda mais do que isso [...]. Então esse país é um continente, um país de oportunidades, mas é difícil entender o Brasil", afirmou Paulmann, sem entrar em detalhes sobre resultados.
"O que precisamos, então, é entender o país e trabalhar melhor", acrescentou. Isso inclui ajustes na determinação de preços para cada praça de atuação da rede, trabalho que já teria sido feito internamente. Aprimoramento dos sistemas de tecnologia das redes adquiridas também tem sido trabalhado, o que geralmente acaba criando alguns ruídos na operação de empresas do setor.
"Quero conhecer a cultura e estar no Brasil nos próximos 30 anos. Tenho que dedicar mais tempo ao Brasil, sei disso", disse o empresário. Há alguns meses especula-se no setor que Paulmann poderia mudar para o Brasil por um período, para acompanhar as operações mais de perto. A empresa nega.
Veículo: Valor Econômico