As vendas supermercadistas com preços atualizados pela inflação caíram 1,9% no ano passado na comparação com 2014, na primeira retração desde 2006 (-1,6%), divulgou ontem a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Em valores nominais houve alta de 6,9%, conforme o Índice Nacional de Vendas da entidade. Além da variação de preços na casa dos dois dígitos em 2015, o aumento do desemprego e a adaptação dos hábitos do consumidor são apontados como causas para a retração, mesmo em um setor considerado de primeira necessidade.
De acordo com a Abras, a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 10,7% em 2015, mas o IPCA Alimentos ficou em 12,0%. Fatores climáticos que prejudicaram a produção de produtos in natura, o aumento do custo de produção pelo salto de 42% na cotação do dólar, segundo o Banco Central, e os altos reajustes de preços administrados, como eletricidade e combustíveis, ajudaram a elevar o valor dos alimentos.
Em dezembro, houve alta de 24,2% sobre novembro, em valores corrigidos pela inflação. Entretanto, a comparação com o último mês de 2014 aponta para retração de 4,4%. "Apesar de todos os esforços do setor supermercadista e da indústria, o resultado negativo de vendas no ano passado é reflexo do aumento do desemprego e da diminuição da massa salarial, ocorridos principalmente no segundo semestre de 2015", diz o vice-presidente da Abras, Márcio Milan, em nota.
Os resultados negativos e a tendência de queda dos últimos meses fazem com que a expectativa na entidade para este ano continue em baixa, com queda de 1,8%. "Mas 2016 está apenas começando e o setor supermercadista continuará a trabalhar diversas oportunidades para incentivar as vendas e impulsionar o consumo, junto a nossos parceiros da indústria e da distribuição", completa Milan.
CENÁRIO RUIM
Diretor executivo do Instituto Datacenso em Curitiba, o economista Claudio Shimoyama afirma que o desempenho negativo do setor, que é de primeira necessidade por incluir alimentos e higiene, acaba por ficar entre os melhores do varejo de forma geral. "O consumidor troca de marca, mas não deixa de comprar, então o tíquete médio diminui. Mas, claro, também há casos de compras em volume menor."
Outra diferença apontada por ele é que, com menor poder de compra diante da alta inflação, o consumidor sai menos vezes às compras, compra pacotes maiores e busca economizar em supérfluos. Porém, mesmo com a manutenção da clientela, Shimoyama considera que há risco para os supermercados. "Existe uma queda no faturamento que pode levar a demissões ou a fechamentos, como ocorreu com algumas unidades ligadas ao Walmart", conta, ao lembrar das 30 lojas fechadas pelo grupo no País.
Para o delegado em Londrina do Conselho Regional de Economia (Corecon) do Paraná, Laércio Rodrigues de Oliveira, a crise econômica mexe com a confiança de empresários e de consumidores. "Esse pessimismo faz com que as famílias segurem os gastos e pessoas que até vinham esbanjando em compras no mercado passam a se preocupar mais."
Oliveira não acredita que a alta de preços de alimentos volte a puxar para cima a inflação média como em 2015, mas não enxerga um cenário tranquilo. "Se o clima e a maior oferta de produtos podem ajudar a baixar os preços, temos pressões como a da taxa de juros, que dificulta o custo do capital, e a cotação do dólar, que interfere em custos de insumos e em preços de commodities, como o trigo do pãozinho, que é importado."
Veículo: Site Folha Web