São Paulo e Rio - Noite de Natal, mesa cheia, ceia farta. A melhora da economia neste segundo semestre, aliada à maior queda nos preços dos alimentos entre janeiro e novembro do Plano Real, levou os consumidores aos corredores dos supermercados neste fim de ano. Depois de dois anos seguidos de quedas, o otimismo já aparece nas previsões dos comerciantes: pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) aponta que quase 80% das redes consultadas apostam em estabilidade ou aumento das vendas neste fim de ano. Entre as populares, a estimativa é ainda melhor e chega a crescimento dois dígitos. Além de promoções, negociadas há meses com fornecedores, as facilidades de pagamento vêm dando uma ajuda extra nas vendas.
No Mundial, por exemplo, a expectativa é de alta de 10% nas vendas em relação ao ano passado. As maiores apostas da rede carioca são em artigos como bacalhau, azeite e vinho.
— Existe a cultura da mesa farta no Natal, mesmo que a situação econômica não esteja agradável, e as pessoas estejam enfrentando dificuldade. Basicamente, todo mundo mantém seus hábitos, no máximo, alterando as quantidades. Por exemplo, em vez de levar três quilos de castanhas portuguesas, o cliente compra apenas um — afirma o diretor comercial do Mundial, Sergio Leite. — Conseguimos bons preços porque começamos a negociar em agosto com os fornecedores, já projetando esse aumento na procura em dezembro.
‘Lojas estão nervosas’, diz diretor do Assaí
A situação é parecida nas lojas do Assaí, a rede de atacarejo do Grupo Pão de Açúcar, em que as perspectivas também são de aumento de dois dígitos em dezembro frente ao mesmo período de 2016. Wlamir dos Anjos, diretor comercial da rede, diz que a companhia se preparou para a alta nas vendas e que, até agora, as estimativas estão se confirmando. Na rede, as compras acima de R$ 100 de itens sazonais podem ser parceladas em até três vezes sem juros no cartão de crédito. Entre os produtos estão azeite, bacalhau, cestas de Natal, panetone, frutas secas, aves, bacalhau, pernil, além de bebidas alcoólicas (exceto cervejas) e espumantes.
— Com a deflação dos alimentos e a volta da confiança, os consumidores estão indo às compras. Na linguagem do setor, as lojas estão nervosas — disse o executivo. — Estamos muito otimistas, tanto para as vendas em dezembro, como para o ano para o Assaí. Neste ano, abrimos 21 lojas e vamos manter o ritmo em 2018.
Só de panetone, o Assaí espera vender 25% mais do que no mesmo período de 2016. As cestas de Natal e as frutas da época também devem apresentar um bom desempenho de vendas, crescendo por volta de 20%. Além disso, a rede espera altas de 15% e 10% na saída de de aves e suínos, respectivamente. A rede também aumentou as importações de pescados, especialmente o bacalhau, esperando um aumento de vendas de 20%.
Para o consultor de varejo da consultoria AGR, Rodrigo Catani, dezembro apresentará uma melhora geral nas vendas dos supermercados:
— Este Natal será melhor que o do ano passado porque o preço dos alimentos tem caído e isso terá reflexo nas compras.
Segundo o levantamento da Abras que foi divulgado ontem e teve entrevistas com 81 redes supermercadistas, a estimativa é de crescimento real de 0,27% no faturamento do setor neste Natal. De janeiro a novembro, as vendas do setor cresceram 1,10%, já descontada a inflação. Em termos nominais, a alta chega a 4,65%. De acordo com o presidente da Abras, João Sanzovo Neto, os brasileiros estão retomando as compras com a queda da inflação.
— Apesar da recuperação lenta do consumo, os brasileiros estão normalizando seus hábitos de compra — destacou Sanzovo.
Estoque reforçado de aves típicas da data
Pelos números da inflação oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os alimentos acumulam recuo de 2,40% nos preços de janeiro a novembro de 2017, frente a uma alta de 8,62% em todo o ano de 2016. É a menor variação para o período desde 1994. Em 11 meses de 2017, houve deflação em oito meses. Os preços só subiram em janeiro, março e abril.
Extra e Pão de Açúcar também apostam em crescimento de vendas de dois dígitos. No setor de pescados, a alta estimada é de 10% ante o Natal passado. Segundo a empresa, a expectativa deve-se às condições de negociação dos itens sazonais conseguidas junto aos principais fornecedores. Já dos cortes de carnes e das aves típicos da data, os estoques foram reforçados para um crescimento 7%, em média no volume, em relação ao ano passado.
O diretor comercial do Mundial, Sergio Leite, afirma que os preços das bebidas não sofreram reajuste, portanto, a expectativa é de uma alta de 15% nas vendas de espumantes em comparação ao mesmo período do ano passado.
O SuperPrix também informa que os setores de bebidas e de produtos artesanais, como panetone, são os principais responsáveis pelo aumento nas vendas. De acordo com a rede, a competitividade no setor de bebidas se deve ao fato do estabelecimento ter começado a investir na importação direta de vinhos e espumante.
Fonte: O Globo