Apesar do crescimento de 2% no primeiro semestre de 2018, o setor do varejo alimentar revisou a estimativa de avanço até o final do ano de 3% para 2,53% em função da paralisação dos caminhoneiros e da queda na confiança dos supermercadistas. Para os próximos cinco meses, o que deve segurar o faturamento das operações é a alta de preços.
“Eu diria que a greve dos caminhoneiros e os fatores do cenário político-econômico tiveram grande influência nessa redução na previsão de crescimento para o segundo semestre”, argumentou o superintendente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Márcio Milan.
De acordo com os dados publicados pela entidade ontem (31) sobre o desempenho do setor no primeiro semestre, as vendas decresceram 0,7% entre junho e maio de 2018. No ano contra ano, houve avanço de 3,37% na comercialização de itens no setor.
Ainda sobre esse montante de produtos vendidos no período, a Abras listou os itens que mais avançaram em termos de faturamento: cervejas (9,3%), salgadinhos (9%), chocolates (8,2%), suco pronto (7,3%), papel higiênico (4,9%) e refrigerante (2,4%).
“No momento em que começou a paralisação dos caminhoneiros, os consumidores correram para fazer o abastecimento de suas famílias e, ao mesmo tempo, os varejos mais abastecidos tiveram um desempenho melhor”, afirmou Milan. Além disso, o superintendente destaca que as regiões mais distantes dos polos abastecedores demoraram a sentir os efeitos da greve – tendo em vista que esses comércios trabalham naturalmente com estoques maiores.
Mau humor
A piora no cenário macroeconômico – que inclui aumento na taxa de desemprego, queda da previsão do PIB e imprevisibilidade política – não afetou apenas a perspectiva de crescimento do setor, mas também o nível de confiança do supermercadista para com o futuro dos negócios.
De acordo com um estudo realizado pela empresa de pesquisa de mercado GfK, a confiança dos varejistas no setor atingiu 46,9 pontos – o menor nível desde junho de 2017. O melhor desempenho foi registrado em fevereiro de 2018, chegando a 55,7 pontos, em uma escala que vai de 0 a 100.
No que diz respeito à alta de preços, o levantamento aponta um aumento – entre maio de junho – de 20,87% no valor no leite longa vida, 8,30% na batata, 8,13% no frango congelado, 5,81% no queijo muçarela e 4,41% na farinha de trigo.
Ainda de acordo com os dados divulgados ontem pela Abras, as maiores quedas foram verificados em produtos como: cebola (-11,59%), creme dental (-2,62%) e farinha de mandioca (-2,54%).
No território nacional, as maiores altas de preços foram registradas no Sudeste (6,7%) e Centro-Oeste (3,65%). A maior queda se deu no Norte do País (-1,59%), segundo a entidade.
“Para se ter noção, na Grande São Paulo, chegou a cima de 8% a inflação da cesta básica comercializada no mercado”, afirmou o diretor de relacionamento da GfK, Marco Aurélio.
Segundo ele, a região Sul continua como a mais cara entre as demais do Brasil e que, com o nível de consumo das famílias mais reduzido, os preços não devem subir tanto – cerca de 4% ao longo do ano.
Abertura de unidades
Para a consultora em varejo da Nielsen, Ana Szasz, existe uma tendência de fortalecimento da figura das “lojas de vizinhança” – comércio com até quatro caixas – e do modelo de cash and carry. Este último, de acordo com o levantamento da Nielsen, apresentou crescimento de 10,6% entre os anos de 2016 e 2017 – com a abertura de 36 novos negócios.
Já no que diz respeito às cadeias regionais, segundo o balanço, houve alta de 4,9% na mesma base de comparação, culminando na abertura de 57 unidades nesse formato. “O brasileiro tem um novo perfil consumidor, muito mais focado em fazer coisas dentro de casa e trazer mais saudabilidade no dia a dia. Isso traz uma vantagem para o que chamamos de varejo moderno”, diz.
Fonte: DCI