Diante de uma renda familiar restrita e da ascensão dos novos formatos de atacarejo, o setor de supermercados obteve crescimento modesto de 0,3% no volume de vendas em junho deste ano ante igual período de 2017. Sem sinais claros de evolução no curto prazo, um incremento mais contundente deve se dar apenas em 2019.
“O resultado real acumulado mostra uma desaceleração no ritmo das vendas do setor. A recuperação da economia ainda é lenta, embora a taxa de desemprego esteja em queda, ainda atinge cerca de 13 milhões de brasileiros economicamente ativos, o que impacta diretamente no poder de compra das pessoas”, afirmou o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto.
De acordo com o levantamento da entidade, na comparação entre junho e julho, as vendas do setor apresentaram avanço de 1,12%. No acumulado do ano, o volume de comercialização cresceu em torno de 5,34%.
Em relação aos produtos que compõem a cesta “Abrasmercado”, os itens apresentaram variação no preço – entre junho e julho – de 1,55%, chegando a R$ 464. Na mesma base de comparação, as maiores altas foram verificadas em mercadorias como massa sêmola de espaguete (14,58%), farinha de mandioca (11,59%), Leite Longa Vida e sabão em pó (5,74%). No que diz respeito às regiões que apresentaram maior oscilação no valor da Cesta Abras, o Norte foi o destaque (+6,65%), atingindo R$ 522. Já a menor variação ocorreu no Centro-Oeste (0,35%), chegando a R$ 420,46.
E foi diante da alta nos preços que o consumidor brasileiro precisou buscar alternativas compatíveis ao orçamento familiar. Isso é o que diz o sócio-fundador da consultoria de mercado Inteligência360, Olegário Araújo. “Se juntarmos o nível de desemprego com o número de famílias que se encontram endividadas, podemos perceber um movimento de consumidores em direção aos formatos alternativos de varejo, como por exemplo os atacarejos”, afirmou ao DCI o executivo, ressaltando também o fato de que a ascensão dos canais digitais tem contribuído para um cenário “bem mais competitivo”.
Questionado sobre o impacto no faturamento das redes diante do aumento da inflação aguardada para o segundo semestre, Araújo destaca que, com o acirramento da disputa entre as redes supermercadistas, existe uma onda de promoções e mega descontos, o que acaba por absorver os efeitos da alta de preços sobre os produtos nas gôndolas.
O especialista lembra que historicamente, em virtude do período de datas comemorativas, o segundo semestre é mais forte em termos de venda para o varejo do que o primeiro.
Apesar desta estimativa mais otimista, ele ressalta que os consumidores devem ir às compras de Natal já no período da Black Friday, em um esforço para garantir melhores preços e condições de pagamentos. Para Neto, da Abras, outro fator que pode ajudar nos próximos meses é a antecipação da primeira parcela do 13º para os aposentados e a liberação do PIS/Pasep.
Cenário eleitoral frágil
Para o sócio-líder do setor de bens de consumo e produtos industriais da consultoria Deloitte, Reynaldo Saad, mesmo com a expectativa de aumento de vendas com as datas comemorativas do segundo semestre, a imprevisibilidade no cenário eleitoral brasileiro pode também atravancar o desempenho do setor.
“Acredito que a eleição presidencial será um termômetro muito sobre o que podemos esperar das vendas da Black Friday e Natal”, comenta.
Fonte: DCI