Formato de negócio se sobressaí no Varejo de Alimentos por conta dos preços mais atraentes e a renda defasada da população
O cenário econômico mais desafiador, com inflação em alta e PIB em baixa levando o consumidor a apertar os cintos e buscar melhores preços.
Com isso, cada vez mais ganha destaque no varejo alimentar o segmento de “atacarejo”. E, se antes o atacarejo era o preferido de pequenos comerciantes, hoje ele já virou destino dos consumidores pessoa física não havendo mais obrigação de compra em grandes quantidades e sendo possível pagar com todos os cartões de crédito, enquanto as principais redes estão ampliando o número de lojas de forma acelerada.
Desta forma, ele também vem ganhando apelo na Bolsa – e chamando a atenção dos analistas de mercado para as suas ações.
No começo do mês, o Credit Suisse iniciou a cobertura para as ações das empresas do setor de varejo alimentar, ressaltando que o atacarejo (ou “cash and carry”) está posicionado para continuar ganhando participação e penetração dentro do setor varejista.
Em meio a esse segmento altamente competitivo, avaliam, o primeiro a chegar leva vantagem; assim, segundo as estimativas dos analistas, há espaço para abrir no mínimo por volta dos 420 novas lojas do gênero no país durante os próximos cinco anos. Isto é, um crescimento de 30% em relação ao nível atual.
Diante desse contexto, os analistas do banco suíço destacam preferência por Assaí (ASAI3), seguido por Grupo Mateus (GMAT3) enquanto que, fora do atacarejo, possuem recomendação neutra para o Pão de Açúcar (PCAR3).
A projeção de expansão também foi destacada em relatório pelo Itaú BBA apontando que, dentro do varejo alimentar, o setor de atacarejo ganhou destaque nos últimos anos.
“Pela primeira vez temos uma imagem clara da indústria em dois momentos diferentes, em 2019 e 2021, e observamos que, apesar das três grandes empresas – Carrefour (Atacadão), Assaí e Grupo Mateus – expandirem com retornos marginais decentes, elas foram responsáveis por apenas 26% das 370 aberturas líquidas (aberturas menos fechamentos) de atacarejo nos últimos dois anos, enquanto os regionais foram responsáveis pela maior parte das inaugurações de lojas desde 2019”, avaliam.
Assim, veem espaço para expansão das companhias e recomendam compra para os papéis das empresas.
Para os analistas do BBA, fusões e aquisições serão cada vez mais uma via de crescimento para os maiores participantesdo mercado, uma vez que encontrar boas localizações de imóveis tem se mostrado cada vez mais desafiador.
No entanto, para o curto prazo, não veem tantas movimentações neste sentido. Isso porque tanto o Carrefour quanto o Assaí conduzirão importantes processos de integração nos próximos dois anos.
O primeiro digere a aquisição do Grupo Big (anunciada em março deste ano) e o segundo absorve as antigas lojas do Extra (que foram adquiridas em outubro). Porém, uma vez que essas transações sejam devidamente integradas, Atacadão e Assaí devem direcionar suas estratégias para fusões e aquisições, avaliam em relatório assinado por Thiago Macruz e equipe de análise.
Enquanto o Credit tem preferência por Assaí ao papel do Grupo Mateus, o Itaú BBA tem como preferida as ações GMAT3.
Os analistas do BBA veem o Grupo Mateus como um competidor de alto retorno sob capital investido (ROIC), que se alavanca em uma densidade logística inigualável nas regiões Norte e Nordeste do País.
Com a negociação de ações a uma relação de preço sobre o lucro (P/L) de apenas 13 vezes ao final 2022, veem isso como um ponto de entrada muito bom para ganhar exposição a um ativo que esperam entregar um crescimento composto (CAGR) de lucro por ação (EPS) de 30% até 2024.
Além disso, o movimento recente do Assaí em direção ao Sudeste deixou menos ameaças competitivas para o Grupo Mateus no Nordeste, apontam. Desta maneira, os analistas mantêm recomendação de compra para GMAT3, com preço-alvo de R$ 9 por ação ao fim de 2022.
Sobre o Assaí, o banco voltou a recomendar compra para os ativos, mas com ressalvas.
Os analistas destacam que o ativo era a principal escolha do setor até outubro, quando a empresa anunciou a aquisição das lojas Extra.
“Desde então, rebaixamos o papel para neutro em meio à incertezas sobre o desenvolvimento do negócio. Diante disso, a ação recuou tornando a proposta de risco-retorno do ativo interessante. Neste contexto, elevamos agora a recomendação de ASAI3 para compra, com preço-alvo de R$ 21 ao fim de 2022, pois vemos a negociação do ativo em 9 vezes o P/L em 2023, o que consideram uma avaliação muito atraente”, avaliam.
Os analistas esperam que, depois da recente aquisição, o Assaí deve continuar adquirindo ativos – provavelmente os líderes regionais de estados específicos – após 2023.
Já o Carrefour também conta com recomendação de compra, mesmo não sendo um player de atacarejo puro. Os analistas veem que o papel está sendo negociado a um valor extremamente barato, de 10 vezes o preço em relação ao lucro (P/L) para 2022, o que justifica a recomendação de compra para CRFB3, com preço-alvo de R$ 24 ao fim de 2022.
“Embora 25% do negócio do grupo ainda venha da divisão de varejo, que conta com uma combinação de hipermercados e outras operações, como e-commerce e marketplace, negócios que têm uma dinâmica competitiva extremamente complexa e que tende a diluir o interesse dos investidores, ressaltamos que o Atacadão é o único ‘atacarejista’ no âmbito nacional. Isso significa que almejar o segundo ou terceiro maior competidor regional em um determinado estado pode ser uma via de crescimento interessante para a empresa”, avaliam.
Investidores de olho no segmento
Na mesma linha, a XP ressalta preferência pelo atacarejo entre as empresas de varejo alimentar, que também é corroborada em dezenas de reuniões com investidores locais nas últimas semanas para discutir o setor de varejo. “Atacarejo é o formato preferido no varejo alimentar, embora não exista um consenso quanto ao posicionamento dento do segmento – alguns estão posicionados em ASAI e GMAT com horizonte de 2023”, ressaltam os analistas.
A equipe de análise da XP, dentro do setor de varejo alimentar, possui preferência para o Assaí, assim como o Credit, mas recentemente reduziu o preço-alvo para ASAI3 de R$ 23 para R$ 21, dado o cenário macro mais desafiador.
Os analistas continuam construtivos com a companhia, pois (i) veem perspectivas de um crescimento sólido à frente (crescimento médio anual de lucro esperado em 30% entre 2021-24) com a recuperação do B2B, inflação estável e andamento do plano de expansão; (ii) apontaram preferirem estar expostos ao formato de atacarejo no varejo alimentar devido a sua proposta de custo/benefício atrativa; e (iii) veem a empresa como um nome de alta qualidade para se ter, dado seu sólido histórico.
Ainda em destaque, os analistas destacam: “recomendamos o foco em segmentos mais resilientes e nomes de alta qualidade, consistência de execução e com maior volume negociado em bolsa”. No setor varejista, os analistas também possuem recomendação para RD (RADL3), Grupo Soma (SOMA3), Arezzo (ARZZ3) e, em small caps, Vulcabras (VULC3).
O Credit tem preço-alvo de R$ 20 para o Assaí, avaliando que a companhia representa uma tese de investimentos simples, pautada em grande potencial de crescimento, que agrada muitos investidores. Para os analistas, a empresa tem um histórico de crescimento comprovado e está bem-posicionada para ‘surfar a onda’ do atacarejo, sendo o único player “puro” do segmento listado na B3. Desde 2011, Assaí vem ganhando participação, superando seus competidores em termos de crescimento, com o maior índice de produtividade.
Além disso, para os analistas, com a transação das lojas Extra Hiper, Assaí volta a competir pela liderança no mercado, mirando alcançar R$ 100 bilhões em vendas brutas até 2024.
“Nós estimamos que Assaí será capaz de quase duplicar seu investimento em 10 anos, com uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 19% (comparado a 9% se a empresa fosse abrir lojas de forma orgânica durante o mesmo período)”, avaliam.
Sobre o Grupo Mateus, o Credit Suisse aponta que gosta da ação e de sua estratégia logística, que não apenas reduz o risco de execução do plano de expansão, como também representa uma vantagem competitiva, especialmente em cidades menores onde players locais não possuem tamanho nem escala para operar no mesmo nível.
Focado em expandir operações para áreas subpenetradas, Grupo Mateus aumentou seu guidance de abertura de novas lojas para 50 por ano (antes 40). Além disso, a empresa deve se beneficiar do benefício fiscal recentemente aprovado no estado de Pernambuco, que deve se tornar outro ponto de distribuição. Portanto, assumindo a continuação de uma alíquota efetiva de IR baixa junto com o plano de expansão da empresa, a estimativa é de uma taxa de crescimento anual composta (CAGR, na sigla em inglês) esperada entre 2021 e 2024 de 28%.
Em meio a um cenário altamente competitivo no atacarejo e outros formatos no Norte e Nordeste, os analistas acreditam que o Grupo Mateus está à frente da concorrência dado: (i) seu histórico em áreas carentes, (ii) foco em crescer em áreas subpenetradas, onde o cenário competitivo continua favorável, sem a forte presença de players nacionais como Assaí e Atacadão, e (iii) sinergias do modelo de lojas multi-formato ajudam a gerar conhecimento da marca e estimulam cross-selling.
Fora do atacarejo, mais cautela com Pão de Açúcar
Enquanto possuem visão positiva tanto para ASAI3 quanto para GMAT3, os analistas do Credit possuem recomendação neutra com preço-alvo de R$ 29 para o Pão de Açúcar, de varejo alimentar, destacando que não é um case de investimento facilmente adequado para todos perfis de investidor.
“Mesmo que sua saída do segmento de hipermercados tenha sido um passo essencial, incertezas acerca da governança corporativa, outros potenciais desinvestimentos e resultados operacionais podem continuar impedindo geração de valor. Portanto, GPA precisa entregar resultados operacionais sólidos e consistentes para diminuir o ceticismo de investidores”, avaliam.
O GPA Brasil é caracterizado por um histórico de baixo crescimento e margens que nunca voltaram ao patamar de antes.
Após descontinuar o segmento de hipermercados, a empresa espera voltar aos R$ 30 bilhões de venda bruta até 2024. Porém, para alcançar esse nível de vendas em três anos, a empresa teria que acelerar as vendas nas mesmas lojas para a faixa entre 13% e 19% por ano, uma premissa vista como um tanto agressiva na visão dos analistas.
Cabe destacar que uma outra atacadista pode entrar na Bolsa. Em dezembro, a Tambasa – que se apresenta como a terceira maior do segmento no Brasil – pediu registro para uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
Contudo, vale destacar, ela não atua no segmento alimentar, com o foco em itens para reforma, construção e lar, e insumos para agropecuárias do interior do Brasil. A companhia também vende peças para carros e motos e artigos pet e veterinários.
Fonte: Lara Rizério, InfoMeney