Livro traz bastidores de disputas de Abilio

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                                 Trajetória do empresário, que consolidou o Pão de Açúcar e depois o vendeu para o Casino, é retratada por jornalista



Abilio Diniz já preparava seu segundo livro quando soube que a jornalista Cristiane Correa estava escrevendo sua biografia. Decidiu esperar para lançá-lo e até ajudou Correa a fazer seu trabalho.

Agora, depois de ter lido o livro, o empresário quer distância da obra, considerada por ele "uma visão da escritora" e de alguns que "tentaram reescrever a história". Mesmo assim, achou que "Abilio –Determinado, Ambicioso, Polêmico" (Editora Sextante, R$ 29,90) "não está mau".

Com uma narrativa concisa e fluente, Correa descreve, em 20 capítulos e pouco mais de 200 páginas, os principais momentos da carreira do empresário que fez da doceria Pão de Açúcar fundada pelo pai no maior grupo varejista do país.

A história começa na in- fância –Abilio nasceu em 1936–, passa pelos altos e baixos da companhia, que quase quebrou, pelo sequestro (1989) e chega à venda do controle para o Casino (2005) e a saída do comando da empresa (2013).

São fatos já conhecidos, mas que ganharam frescor com os bastidores e detalhes a partir de documentos e de 90 entrevistas realizadas pela jornalista com integrantes da família Diniz, funcionários e executivos do Pão de Açúcar, advogados, fornecedores, banqueiros, amigos, incluindo o bilionário Jorge Paulo Lehmann, um dos donos da AB Inbev e personagem de "Sonho Grande", primeiro livro da escritora.

TUTTI FRUTTI

Nem a secretária de Abilio, Claudia Stussi, escapou. Stussi, que arrumava até as malas do empresário, conta algumas manias do chefe, que não viaja sem um estoque de Trident sabor tutti frutti e balinhas de mel na mochila.

Na carteira, ele leva dois cartões de crédito (antes eram oito). Usa oito celulares, um europeu, um americano e quatro brasileiros (um de cada operadora). Tudo precisa estar sempre no mesmo lugar na mochila.

Carrega ainda três valises com medicamentos. Abilio é um estudioso da medicina e adora receitar remédio para seus funcionários. Sua fama como médico é tamanha que os amigos lhe deram um receituário com a inscrição "Prof. Dr. Abilio dos Santos Diniz, CRM SP 0001". Não viaja sem Tylenol, Benalet, Cataflan e injeções de Voltaren, que ele mesmo se aplica quando sente dores musculares após intensas atividades físicas.

O esporte ganhou espaço em sua vida como autodefesa. Na infância, Abilio era gordinho e sofria bullying na escola. Enquanto a mãe, Floripes, cuidava dos ferimentos, o pai, seu Valentim, dizia que o filho precisava aprender a se defender.

Abilio decidiu então aprender boxe e caratê. Rapidamente dominou essas lutas e vivia brigando na rua, como ele mesmo conta. Uma vez, já casado e com filhos, chegou a descer do carro e bater em um motorista que, atrás, buzinava para que lhe desce passagem na catraca do pedágio.

Com o tempo, deixou de resolver as coisas no braço, mas esse temperamento competitivo sempre o acompanhou nos negócios.

VIRADA

Sua maior briga foi travada com o sócio, o francês Jean-Charles Naouri, presidente do Casino. O grupo entrou na companhia em 1999, como minoritário. Aumentou a participação em 2005, quando fechou um contrato em que Abilio aceitou passar o comando para os franceses em junho de 2012.

Quando o dia chegou, o empresário tinha 75 anos, estava casado novamente, com dois filhos pequenos e ainda se sentia com muito fôlego para continuar.

Além disso, o contrato tinha sido fechado em um momento em que o Pão de Açúcar valia R$ 6,4 bilhões. Em 2012, quando passou o controle, a empresa estava cotada a R$ 20,5 bilhões.

Em conversas com amigos e troca de mensagens, até então inéditas, Abilio confirmou seu desejo de continuar à frente do grupo.

A reviravolta ocorreu quando um jornal francês publicou que Abilio negociava a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour no Brasil, um acordo que, se fosse adiante, impediria o Casino de assumir o controle da rede. Naouri sentiu-se traído porque não sabia das conversas e uma guerra teve início.

O livro traz a troca de e-mail entre os dois no calor daquele instante. Na mensagem inicial, Abilio tenta apaziguar o que seria um mal-entendido. "Sua atitude de guerra é inconcebível", escreveu o brasileiro.

Para Naouri, não havia volta. "Ao negociar dissimuladamente com o Carrefour, você não respeitou o espirito nem a letra dos nossos contratos", respondeu o francês. "Tenho a obrigação de tomar medidas de legítima defesa."

Depois de meses de intensa disputa e tentativas frustradas de um acordo entre eles, Geyze Marchesi, mulher de Abilio, teve a ideia de contratar William Ury, especialista em acordos de paz entre nações em conflitos. Ury foi aceito pelos franceses como intermediador.

O livro começa com os vaivéns dos cinco dias que levaram ao acordo que permitiu a saída de Abilio do Pão de Açúcar, em 6 de setembro de 2013, após R$ 500 milhões gastos com a disputa.

E termina com a nova fase do empresário, hoje com R$ 10 bilhões em investimentos. Abilio é acionista da BRF, cujo conselho preside, e tem 10% do Carrefour, de cuja gestão também participa.




Veículo: Jornal Folha de S.Paulo



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