O Walmart chegou ao Brasil em 1994 preparado para implementar um modelo de negócios já vencedor nos Estados Unidos. O que parecia ser o mais lógico encontrou entraves no meio do caminho. O catálogo de produtos, no início, continha itens fadados a ficar nas prateleiras, como botas de neve e tacos de golpe. A negociação com fornecedores e a política de promoções também não levou em conta características do mercado local. Além disso, a rede acabou não ampliando o chamado atacarejo - modelo de negócios que atualmente é responsável por grande parte do faturamento dos grupos Carrefour e Pão de Açúcar.
"Eles entraram no Brasil e desprezaram o conhecimento local. Cometeram erros de formato de loja, localização dos pontos de venda e sortimento dos produtos. Enquanto tentavam entender o Brasil, o mercado evoluía e o Walmart começou a lidar com maior competição", disse Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail.
Do ponto de vista do consumidor, o Walmart errou no sortimento de produtos, de início, e por toda a sua operação manteve a lógica do low price every day" (preço baixo todos os dias). Na visão do Walmart, fazer promoções de curto prazo de poucos produtos, dificultaria a logística. Para o consumidor, o melhor seria ter um preço menor no conjunto dos produtos. Mas isso não funcionou, já que o brasileiro tem o hábito de buscar promoções pontuais.
"Essa cultura do preço baixo todo dia só funciona onde se tem escala e relevância. Só assim para se educar o cliente. E houve ainda o choque de culturas, já que compraram redes grandes, como Bompreço, que trabalhavam de uma outra forma", explicou.
Do ponto de vista operacional, o Walmart também teve dificuldade em fazer adaptações à cultura local. Essa regionalização é feita por outras grandes redes, como o Carrefour. No Brasil, há um predomínio da "verba de introdução", que é quando a indústria paga ao varejista para ter o seu produto em um ponto de venda. O Walmart não adotava essa prática nos Estados Unidos e resolveu fazer o mesmo por aqui.
Outro ponto foi o fato do Walmart ter tentado inserir um modelo de negócios em um mercado já consoldiado e competitivo.
"Tivemos uma crise, mas sempre tivemos qualidade de ofertas nesse segmento, com grandes marcas nacionais e regionais. Aí você tem uma empresa que enfrenta uma concorrência forte e não adapta seu modelo. Ficou difícil dar certo", avaliou Eduardo Terra, consultor de varejo.
Por último, a rede americano, embora fosse dona da bandeira Maxxi Atacado, não ampliou de forma expressiva as lojas de atacarejo. No período em que o Brasil começou a dar sinais de desaceleração, foi para esse modelo de loja que o consumidor migrou. Carrefour (com a bandeira Atacadão) e o Grupo Pão de Açúcar (Assaí) perceberam essa mudança de comportamento e fizeram investimentos agressivos na expansão desse modelo.
Fonte: Época Negócios