Indústria revê processos para ampliar agenda ESG

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Segmentos distintos da economia focam em produção sustentável, atendendo à investidores e clientes

 

Na indústria, a escalada da pauta ESG — de impacto ambiental, social e de governança corporativa, na sigla em inglês — vem acelerando a expansão e implementação de projetos e soluções de preservação e redução do desperdício de água, a reboque do olhar criterioso de investidores.

 

Os pilares do ESG se tornaram tradução da qualidade da liderança de uma empresa. Na questão da água, reduzir consumo, reaproveitar, tudo isso é o básico. E tem de continuar a ser feito. É preciso subir o nível de soluções desenhadas. Não há cidade viável sem projeto de gestão de recursos hídricos robusto — afirma Nelmara Arbex, sócia de consultoria em ESG da KPMG.

 

A Unilever, multinacional britânica dona de marcas como Knorr e OMO, bateu em 2018, dois anos antes do previsto, a meta de reduzir em 40% a extração de água em suas fábricas globalmente. Em 2020, esse corte chegou a 49% do consumo de água por tonelada produzida.

 

No Brasil, o resultado foi superior, com recuo de 54% em dez anos. Agora, a companhia persegue as metas traçadas para 2030.

 

— As metas relativas à água visam transformar as fórmulas dos produtos para que sejam 100% biodegradáveis e ter em suas fábricas um aumento de 25% nacircularidade de água, o que significa reaproveitar a água das estações de tratamento de efluentes e não descartá-la em corpos hídricos — diz Marina Yoko, gerente de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente da Unilever Brasil.

 

Redução de custos

 

A formulação dos produtos foi revisada com o mesmo foco, explica ela, que cita como exemplo a redução de 39% no volume de água usada para produzir a nova fórmula do OMO. Marina ressalta que a água que volta para a natureza retorna mais limpa que a captada para produção. Além de sustentabilidade e impacto positivo ao meio ambiente, isso traz redução de custo.

 

— Temos um problema de longa data de infraestrutura, já que alguns estudos mostram que se perde, em boa medida por vazamentos, de 30% a 40% da água que é tratada. Isso significa desperdício não só de água, mas da energia no processo de tratamento e distribuição — sublinha Setter, do Insper Metricis. 

 

Avanço em outros setores da economia

 

O tema ESG também é pauta de Conselhos de outros segmentos da economia. O Grupo Boticário, por exemplo, com sede no Paraná, estabeleceu um conjunto de 16 compromissos em sustentabilidade a serem cumpridos até 2030, sendo quatro deles relacionados a água. O primeiro é zerar o balanço hídrico das duas fábricas, localizadas em São José dos Pinhais (PR) e em Camaçari (BA).

 

Isso significa fazer com que toda a água captada seja usada e reutilizada dentro do grupo. Hoje, um quarto da água que entra nessas instalações recircula em áreas como limpeza, jardins e outras. Os efluentes passam por tratamento.

 

Outra meta é que os fornecedores integrem o compromisso, tendo 50% do volume de água que captam em suas empresas sem gerar efluentes até 2030.

 

— Não adianta sermos ecoeficientes se não incluirmos nossos fornecedores. O Boticário é um grande player. Qualquer política adotada por nós tem um grande efeito, e queremos levar os fornecedores junto — destaca Guilherme Karam, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário.

 

Os ajustes estão também na fábrica. Os produtos enxaguáveis estão sendo ajustados para zerarem o impacto ao meio ambiente, havendo mapeamento para substituição de insumos desses itens.

 

Revitalização de bacias

 

A Engie, empresa privada do setor de energia, mantém um programa de conservação de nascentes há 12 anos, tendo colaborado para a proteção de 2.100 nascentes localizadas na área de influência de 14 usinas operadas pela companhia. Em 2021, ingressou no Programa Águas Brasileiras, criado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional.

 

O projeto busca revitalizar bacias hidrográficas como as dos rios São Francisco, Parnaíba e Tocantins-Araguaia para aumentar a quantidade e a qualidade da água ofertada ao setor produtivo e para consumo em geral.

 

José Geraldo Setter, professor e coordenador executivo do Insper Metricis, chama atenção para a indissociabilidade entre água e geração de energia no país:

 

— Uma racionalização no uso da água já traria como reflexo a redução no consumo de energia. Novas tecnologias têm sempre o papel de desenvolver processos mais eficientes no uso de ambos os recursos.

 

Na Engie, que já atua em geração de energia e persegue a meta de reduzir em 35% o consumo de água até 2030, há ações também do lado social para água. Em uma delas, no baixo Madeira, em Porto Velho, onde fica a Hidrelétrica de Jirau, a empresa trabalhou em parceria com a estatal de água e esgoto de Rondônia (Caerd) para implementar a rede de distribuição de água, beneficiando mais de 300 famílias.

 

— É um processo de transformação que garante perenidade sustentável, resiliência e gestão dos riscos sociais, ambientais e de governança. Queremos garantir que nossas atividades também potencializem ganhos ao meio ambiente — diz Gil Maranhão, diretor de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa da Engie Brasil, em relação ao ESG.

 

Fonte: O Globo


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