Cristiane Finzi - Engenheira química, doutora em meio ambiente e professora da Universidade Federal de São João Del Rei
É curioso pensar que há cerca de 30 anos não havia sacolas plásticas no mundo. As pessoas iam fazer suas compras nos supermercados, feiras e sacolões com sua própria sacola retornável. Porém, com toda a comodidade e as possibilidades que as sacolinhas trouxeram, a população mundial se viciou em plástico. Não podemos desconsiderar a influencia do plástico no desenvolvimento da nossa sociedade. Esse material está presente em tudo: embalagens, garrafas, carros, utensílios domésticos, etc. Mas essa substância, que tanto ajudou no desenvolvimento da sociedade, precisou de pouco tempo para mostrar que é extremamente nociva ao meio ambiente. São 150 bilhões de sacos plásticos usados no Brasil todos os anos. Só em BH, 450 mil sacolas por dia. Todo esse material é descartado no meio ambiente e leva 400 anos, em media, para desaparecer.
Com a Lei Municipal 9.529/2008 que entrou em vigência no dia 18 de abril na capital mineira, temos a oportunidade de antecipar o que será tendência mundial, nos encontrando entre as primeiras capitais do Brasil a conscientizar sobre a importância de excluir o plástico de nossas vidas. Países europeus já utilizam o modelo adotado e mostram grande avanço na questão ambiental.
A lei determina que não sejam distribuídas sacolas plásticas que não sejam compostáveis. Muito se fala das sacolas oxibiodegradáveis e de sua suposta não agressividade ao meio ambiente. Em minhas pesquisas, só pude verificar que as oxi, de biodegradáveis, possuem somente o nome. Elas poderiam, segundo alguns pesquisadores, ser consideradas plástico em pó, afinal, o aditivo que as tornaria milagrosas apenas transforma o plástico em pequenas partículas que permitiriam, em situações muito específicas e controladas, que bactérias as biodegradassem. No meu ponto de vista, plástico em pó é pior que plástico em pedaços para o meio ambiente.
Já as compostáveis, as mais ideais, também não são mágicas e levam um tempo para se biodegradarem. Elas representam menor agressão ao meio ambiente quando degradam. Enquanto isso, poluem rios, entopem bueiros e retêm água causando risco de doenças, como a proliferação do mosquito da dengue. Contudo, as oxibiodegradáveis têm sido defendidas por muitos por custar ao consumidor o mesmo que a convencional, enquanto a compostavel é criticada por gerar gasto.
Não quero defender nem atacar os supermercadistas com relação à cobrança das sacolas, até porque consigo perceber que o setor, na verdade, não apoia nenhum tipo de sacola plástica. Os saquinhos transparentes ainda poderão ser utilizados para condicionar alimentos, mas as sacolas brancas ou recicladas, não. A campanha é voltada para que os consumidores usem as sacolas retornáveis, assim como era antigamente. Precisamos dar um passo para trás para dar dois para frente. O meio ambiente suspira em alívio e as futuras gerações vão agradecer a responsabilidade e a preocupação com o planeta.
Veículo: O Estado de Minas