Embora o comércio não possa mais, desde o início de agosto, repassar ao consumidor os custos com a sacola plástica compostável, as únicas permitidas pela atual legislação e em média cinco vezes mais caras que as comuns, segundo a Associação Mineira de Supermercados (Amis), o comércio da capital mineira não deixou de oferecer a embalagem ao cliente. Algumas empresas estimam que, caso as sacolas deixem de ser fornecidas de vez, as vendas poderiam cair até 10%, uma vez que muitos compradores nem sempre se lembram de levar a sacola retornável e se recusam a transportar as mercadorias nas mãos.
Segundo a gerente comercial da Cash Box, Maria do Rosário Rameh, com 14 lojas espalhadas pela Capital, 90% dos clientes ainda solicitam a embalagem ao adquirir um produto. De acordo com ela, o alto percentual deve ser atribuído ao fato de que o consumidor, muitas vezes, é atraído por um produto exposto na vitrine, o que resulta em uma compra sem planejamento. "Como se trata de uma compra pontual, o cliente, neste caso, não leva a sacola retornável. Por isso, acreditamos que seria muito inconveniente obrigá-lo a carregar a compra na mão", justifica.
Em contrapartida, ela ressalta que a Cash Box se certificou de que a sacola do fornecedor atende a todas as exigências da legislação vigente. Além disso, visando estimular práticas sustentáveis, a rede comercializa três diferentes modelos de sacola retornável, que podem ser adquiridas a valores que variam entre R$ 4 e R$ 9,95.
Apesar de garantir que 70% dos clientes já levam as sacolas retornáveis ao ir às compras, a loja de guloseimas Chocobel, no hipercentro, distribui gratuitamente a sacola plástica compostável ao consumidor, mas apenas quando ele a solicita. Conforme a gerente Silvania Moura Neres, as vendas poderiam cair até 10%, caso o estabelecimento se recusasse a oferecer a embalagem. "Muitos compradores preferem deixar de comprar a passar pelo transtorno de não ter como transportar a mercadoria", explica.
Demanda - Quem compartilha a mesma opinião é a proprietária da Drogaria Saúde e Vida, Iêda Maria Pereira, instalada também no hipercentro. Embora acredite que a iniciativa seja válida no que se refere à proteção do meio ambiente, ela diz que grande parte da sua clientela ainda demanda a sacolinha. "Temo que a falta da embalagem reduziria minha venda em torno de 5% a 10%", estima. No entanto, a empresária enfatiza que cumprir a lei custa caro. Isso porque, o milheiro da compostável que, segundo ela, "mal dá para um mês", custa em torno de R$ 140, contra R$ 13 da comum.
Na Feira Shop, com 19 unidades espalhadas por Belo Horizonte, a distribuição da sacola plástica compostável também continua. Porém, a gerente de Marketing da rede, Ana Paula Oliveira, revela que a empresa pretende colocar a sacola de papel em breve em circulação. A atitude, por sua vez, não significa, necessariamente, que as sacolas plásticas vão ser definitivamente extintas. "Tudo vai depender da aceitação dos lojistas e clientes", adianta.
Em contrapartida, alguns estabelecimentos se mantêm irredutíveis em relação à utilização da sacola plástica, uma vez que, devido à falta de usinas de compostagem no Estado, não é possível comprovar que a compostável realmente reduz os danos ao meio ambiente.
A papelaria Mix Pel, na região Centro-Sul, passou a oferecer apenas o saco de papel. Em épocas nas quais o volume de compras tende a crescer, como janeiro e julho, meses que antecede a volta às aulas, o estabelecimento passou a oferecer as caixas de papelão, capazes de abrigar livros, cadernos e outros materiais.
Supermercado testa comportamento
O esforço da Associação Mineira de Supermercados (Amis), para manter as sacolas inacessíveis aos clientes, surte o efeito esperado. Conforme a entidade, entre as grandes redes, somente os Supermercados BH, com 44 lojas espalhadas pela Capital, voltou a distribuir, em agosto, a embalagem gratuitamente aos seus clientes.
A rede informou que a estratégia foi utilizada com o objetivo de analisar o comportamento do consumidor. Contudo, os clientes, em sua maioria, se mantiveram conscientes quanto ao apelo ambiental, muitas vezes dispensando as sacolas plásticas e preferindo as retornáveis ou as caixas de papelão. Assim, a rede afirma que vai manter a distribuição gratuita ao longo dos próximos meses, embora, sem citar números, afirme que se trata de uma ação bastante dispendiosa.
Enquanto isso, outros supermercados recorrem à criatividade para evitar que o cliente sinta falta da sacola plástica. O 2B, no bairro Prado, na região Oeste, implantou em agosto o vale sacola retornável. A estratégia funciona da seguinte maneira: o estabelecimento empresta uma sacola retornável a aquele cliente que for às compras despreparado. "Como se trata de um supermercado de bairro, os resultados têm sido positivos, pois as pessoas normalmente se lembram de devolver a sacola, ao retornar ao estabelecimento", revela o proprietário, Gilson Lopes.
Já os Supermercados Horta, com lojas na região Nordeste e Norte de Belo Horizonte, conseguiu negociar com fornecedores sacolas retornáveis a um valor simbólico de R$ 0,50. "Nas compras acima de R$ 50, elas saem de graça. Agora, não tenho sacolas plásticas nem para dar e nem para vender", informa o proprietário, Gumercindo Horta. Ele acrescenta que ainda mantém caixas de papelão à disposição da clientela. (NA)
Veículo: Diário do Comércio - MG