Investir em recursos renováveis e no desenvolvimento de produtos menos impactantes à natureza não é exclusividade das gigantes ou multinacionais
São Paulo - A sigla P&D, de pesquisa e desenvolvimento, costuma ser associada a grandes empresas, que destinam parte do faturamento a essa área. Mas pequenas e médias da indústria nacional provam que a prática não se restringe às gigantes e, em muitos casos, traz ganhos ambientais significativos.
Prova disso é a Bondmann Química, de São Paulo, que criou o Fluid B90, composto de biopolímero de fonte renovável que, em contato com a água, se torna um biolubrificante. Essa é uma propriedade antes impensável na indústria, que utiliza óleo de base mineral ou vegetal. O produto tem as mesmas características, como lubricidade e refrigeração, fundamentais para o processo de usinagem.
Além do ganho ecológico, por ser biodegradável e poluir 35% menos que o semissintético, o Fluid B90 gera impacto positivo em outras questões relacionadas à produção. "Não prejudica a saúde do operador, pois não é cancerígeno e tóxico. E a empresa obtém ganho econômico, uma vez que o ponto de refrigeração dele é maior, desgastando menos a peça", afirma o sócio-fundador William Bond.
Há mais de 20 anos no mercado, a Bondmann investe 5% do faturamento anual em P&D. Assim, conquistou o título de primeira empresa brasileira a desenvolver um fluido livre de óleos, adquiriu a patente verde e entrou com requerimento de patente internacional. A partir do Fluid B90, desenvolveu linha completa isenta de óleos para a indústria metalúrgica.
"Eles já são comercializados para 1.200 empresas e o mercado externo é um grande cliente potencial", diz Bond. Segundo ele, o uso dos produtos na usinagem melhora em 30% a 40% a rentabilidade das operações e seus clientes tiveram ganhos de produtividade de até 300% nas peças com apenas uma ferramenta.
Arroz e borracha
Outra indústria que alia inovação e sustentabilidade é a gaúcha Marina Borrachas. Fundada há 11 anos, investe 8% de seu faturamento em P&D e encontrou uma solução ecológica para reaproveitar a cinza da casca do arroz, rica em sílica. O Rio Grande do Sul é responsável por 54% da produção nacional do cereal. Os resíduos da casca emitem gás metano e o descarte acarreta problemas ambientais.
"Como forma de resolver o grande volume de casca gerado no estado e resolver as questões ambientais provocadas pelo seu descarte, as termelétricas passaram a queimar essa matéria-prima para utilizá-la como fonte energética, obtendo no final do processo a cinza, que ficava sem destinação", explica Diego Petkowicz, técnico de P&D da Marina Borrachas.
Após estudos, a fabricante conseguiu aplicar essa cinza na composição da borracha, com a substituição de 10% das matérias-primas convencionais, como a sílica precipitada e o negro de fumo.
"Fizemos parcerias com as termelétricas para ter a garantia dessa matéria-prima e formamos uma área de P&D para trabalhar esse material e fazer as modificações químicas e físicas necessárias para validar o processo", diz a fundadora e diretora da empresa, Diana Finkler.
Fibra alimentar
Com seis anos de existência, a companhia Limpgás conseguiu apoio da Federação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para criar uma máquina de reaproveitamento de resíduos orgânicos, com pedido de patente. O processo não passa pela pirólise nem pela gaseificação, métodos convencionais da compostagem. O projeto da máquina contempla as etapas de trituração, desidratação, sanitização e empacotamento.
Com o método será possível obter a fibra da parte sólida dos resíduos, que poderá ser destinada à nutrição animal. "Estamos em teste para ver se será possível viabilizar comercialmente essa fibra, já que ela não é padronizada", diz o sócio Guilherme Gonçalves. O líquido material será extraído e destinado a outro compartimento da máquina, passará por processo para extração dos nutrientes e a destinação final será água de reúso.
Veículo: Jornal DCI