O número de casas decimais mostra um volume exacerbado. Em apenas um ano, aproximadamente três quadrilhões de canudos plásticos seriam descartados se cada um dos 9 milhões de cearenses utilizassem uma unidade do item por dia. Quando não desprezado corretamente, eles comprometem a vida de espécies marinhas.
De suporte para a ingestão de bebidas, esses utensílios tornam-se vilões do ecossistema. Porém, como forma de reduzir os impactos ambientais, empresas e clientes estão adotando alternativas de consumo consciente com o uso de canudos sustentáveis.
Feitos com matéria-prima natural ou biodegradável, eles são comercializados em variadas opções: vidro, silicone, papel, alumínio, bambu e até comestíveis, quando são produzidos a partir de amido de milho e fibras de frutas. Conforme explica a professora de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luana Viana, os canudos ecológicos atendem aos três pilares da sustentabilidade - ambiental, social e econômico.
"Considerando o lado social, quanto mais você se aproxima da economia solidária, ou seja, aquilo que é produzido na sua região, é mais sustentável do que quando é produzido na China, por exemplo, e há uma valorização da mão de obra interna. Embora sejam econômicos, os canudos retornáveis ainda têm hoje um valor muito alto, então o acesso da maioria da população ainda é dificultado. E o ambiental tem a ver com a biodegradação do canudo".
Legislação
Se depender do Projeto de Lei Ordinária (PLO 366/2018), que está tramitando na Câmara Municipal de Fortaleza desde junho de 2018, a comercialização de canudos de plástico será proibida em estabelecimentos da Capital. Hotéis, restaurantes, bares, lanchonetes, quiosques, padarias e barracas de praia não poderão fornecer o cilindro. A mesma restrição também vale para casas de show, boates, estádios de futebol, ginásios, além do comércio atacadista, varejista e ambulantes.
Caso o PLO seja aprovado, os negócios terão 180 dias após a aprovação da lei para se readequarem à medida. Em caso de descumprimento, o projeto estabelece multa de 250 a 1.500 Ufirce (Unidade Fiscal de Referência do Estado do Ceará), que vale R$ 4,26 em 2019. Dessa forma, a pena varia de R$ 1.065 a R$ 6.390.
"Deve ser votado nesta semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). E, depois, é aguardar deliberação para plenário. Acredito que até os primeiros dias de setembro, a gente esteja votando", acrescenta o vereador Iraguassu Filho, autor do projeto.
Troca
Contudo, antes mesmo da deliberação, há quem resolva antecipar a substituição do plástico pelo sustentável. Desde junho último, o complexo de entretenimento Beach Park, no Porto das Dunas, adotou o canudo de papel em todos os seus empreendimentos. Segundo a empresa, a readequação, que faz parte da política ambiental do grupo, evitará o consumo de duas toneladas de plástico todos os anos.
"A adoção dessa troca faz parte das melhorias pautadas na redução dos impactos ao meio ambiente e nas boas práticas que devem ser estimuladas e implementadas em todos os empreendimentos que possuam uma gestão ambiental eficiente e moderna", justifica a coordenadora de Meio Ambiente do Beach Park, Raíssa Bisol.
Para o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC, Ronaldo Stefanutti, o canudo de papel é uma solução eficaz do ponto de vista sustentável, porque se degrada rapidamente no meio ambiente. "Em contato com a água, não imediatamente quando você está consumindo o suco, mas logo depois, ele acaba se diluindo rapidamente. Tem impacto, é verdade, mas de uma valorização muito pequena em relação ao plástico".
Efeitos
O desuso do utensílio provoca ainda a redução de polipropileno, um derivado de petróleo presente na composição do plástico. "Isso permite que nós tenhamos um aumento da vida útil das nossas reservas de petróleo. Embora seja um item pequeno, ele é significativo nos seus efeitos", pondera Stefanutti.
Ao mesmo tempo, o especialista aponta que outra consequência positiva da extinção desse tipo de canudo está na preservação da fauna, que é mais afetada quando o descarte do material não é feito no aterro sanitário. "A parte que não é coletada da forma correta, se perde no ambiente e é levada pela enxurrada, vai para o corpo de água e contamina o rio ou o mar. Com o item alternativo, digamos assim, as vidas marinhas não sofrem", ressalta o professor.
Foi pensando nos efeitos negativos causados pelo plástico que a empreendedora Clara Dourado, 32, aboliu o canudo tradicional pelo de alumínio. O estímulo inicial chegou junto ao vegetarianismo que a fez questionar hábitos de consumo. "Além do que eu colocava no meu prato, eu comecei a rever minhas escolhas e tomar decisões em relação a isso". A troca do item foi uma delas. "Aproveito sempre o momento da água de coco ou de um suco para dizer que não é preciso trazer o canudo", diz, a também ativista ambiental que leva sempre o objeto na bolsa.
Fonte: Diário do Nordeste