O momento é de crise para o vinho brasileiro. Impostos, lei seca e a concorrência dos importados fizeram que o vinho nacional perdesse terreno nos últimos anos. Nossa produção ronda os 253 milhões de litros de vinho ao ano, que podem ser divididos em dois segmentos - os vinhos finos, ou de uvas viníferas, que representam 13% da produção, e os vinhos "comuns" ou "de garrafão", elaborados com uvas não-viníferas, os restantes 87%.
No mercado de vinhos finos, que sofre a competição dos importados, o vinho brasileiro viu nos últimos cinco anos sua participação de mercado despencar. Em 2002 os brasileiros degustaram cerca de 58,5 milhões de litros de vinhos finos, sendo 50,5% do produto nacional, contra 49,5% do importado. De lá para cá o mercado cresceu, ultrapassando em 2007 os 97 milhões de litros, com uma mudança radical na fatia de importados, com 65,8%, deixando apenas 34,2% para os nacionais.
Fica claro que o consumidor fez sua opção pelo vinho importado. A pergunta então é compulsória: o vinho brasileiro tem qualidade? Neste caso a resposta não pode ser tão genérica quanto a pergunta - há vários vinhos brasileiros de qualidade, obviamente não todos. Quais? Foi o que fui buscar em uma recente viagem ao Rio Grande do Sul, onde visitei produtores, degustei dezenas de vinhos, complementando a prova com vinhos de outras regiões e beirando uma centena de vinhos testados. O resultado foi animador. Mostro hoje e semana que vem o que provei de melhor, com algumas descobertas surpreendentes! Além dos vinhos em destaque, merecem atenção:
Talento 2005, Salton, Tuyuti-RS-Brasil (R$ 40, 84/100). Elaborado com Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat, com um ano em barricas francesas. Rubi escuro com reflexos violáceos. Aroma muito fino e muito fresco, ainda um pouco fechados (precisa de 30 min no decanter), frutas negras, toques vegetais de musgo, madeira de qualidade. Paladar de médio corpo, taninos finos, acidez correta.
Arinarnoa Identidade 2006, Casa Valduga, Serra Gaúcha-RS-Brasil (R$ 55, 83/100). Seis meses em madeira francesa. Roxo na cor. Nariz concentrado, chocolate, ameixas, cravo, canela. Paladar tânico, precisa de tempo de garrafa. No conjunto, é um bom vinho. A única ressalva é que a Arinarnoa é uma uva que proporciona concentração, mas carece de elegância.
Cabernet Franc Premium 2005, Casa Valduga, Serra Gaúcha-RS-Brasil (R$ 27, 81/100). Cor violácea muito escura. Aroma de frutas frescas, amoras, especiarias. boa tipicidade da casta. Paladar seco, bons taninos, secos e presentes, boa acidez, estilo mais para velho mundo que novo mundo. Bom vinho, uma ótima compra nesta faixa de preço.
Alicante Bouschet 2004, Pizzato, Serra Gaúcha-RS-Brasil (R$ 28, 86/100). Roxo na cor. Aromas ainda fechados, fruta madura, toque de menta, especiarias. Paladar volumoso, taninos ainda duros - melhor guardar a garrafa um par de anos mais e decantar ao menos uma hora antes de beber. Uma novidade da Pizzato, com "um dedo" do enólogo australiano, "quase alentejano" David Baverstock.
Cabernet Sauvignon 2006, Suzin, São Joaquim-SC-Brasil (R$ 40, 79/100). Vermelho rubi claro, com reflexos granada. Aroma focado nas frutas vermelhas, toque de doçura e frescor. Paladar leve, macio, taninos finos, prontos. Simples e muito agradável, bom frescor e bem acabado, 14% de álcool, sem arestas. Outra boa surpresa.
Veículo: Gazeta Mercantil