Bebidas: Valor da venda da segunda maior cervejaria do país pode alcançar entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões
Os maiores grupos cervejeiros do mundo estão em conversas com a Schincariol numa tentativa de adquirir seu controle. O banco BTG Pactual vinha trabalhando para preparar uma oferta pública inicial de ações da Schincariol, fabricante de cervejas com sede em Itu, no interior de São Paulo. Mas, paralelamente, a companhia começou a ser abordada por grupos interessados no atrativo mercado brasileiro de bebidas. A sul-africana SABMiller, a holandesa Heineken e a dinamarquesa Carlsberg são alguns dos nomes que têm mantido conversas com os controladores da Schin, apurou o Valor.
O que está em jogo é uma fatia de cerca de 10% do emergente mercado de cervejas do país e o controle de uma das poucas empresas do setor com tamanho representativo e atuação independente, ou seja, não ligada a uma multinacional do ramo.
Todo o processo, entretanto, é ainda preliminar. O resultado tanto pode ser a venda a um investidor estratégico quanto a abertura de capital. A companhia, aliás, vem procurando melhorar sua governança e formalizar seus processos como preparação para estrear na bolsa.
Adriano Schincariol e seu irmão, Alexandre, são os controladores da empresa, com cerca de 51% do seu capital. Seus primos detêm os demais 49%, porém, como não existe acordo de acionistas, esse ramo da família é minoritário na companhia e teria contratado o banco Morgan Stanley para tratar dos seus interesses separadamente. Um dos primos de Adriano e Alexandre, Gilberto Schincariol Junior, ocupa uma vice-presidência da empresa.
Nas contas de um grupo interessado na Schincariol, a companhia poderia valer entre R$ 5 bilhões e R$ 7 bilhões. Mas os controladores da Schin têm sinalizado ambicionar um valor bem maior, algo superior a R$ 10 bilhões. As contas são baseadas nos números da Ambev, que é negociada na bolsa a um múltiplo de 12 a 13 vezes o seu ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização).
No ano passado, o ebitda da Schincariol ficou em R$ 434 milhões. O faturamento da cervejaria chegou a R$ 5,7 bilhões, com alta de 12% sobre 2009. A receita líquida cresceu 9,5%, atingindo R$ 2,9 bilhões. A dívida da empresa é pequena, inferior a uma vez o ebitda. A empresa é dona de 12 fábricas em 11 Estados.
Segundo um executivo, os interessados estão na expectativa de que a Schincariol abra o chamado "data room" com as informações da companhia para uma auditoria preliminar. Nada de concreto deve acontecer nas próximas três a quatro semanas, avalia uma pessoa a par das conversas, assegurando que tudo ainda está em fase inicial.
Segundo um executivo de uma fabricante de cerveja, a Heineken já foi convidada para avaliar o conjunto de números da cervejaria brasileira.
Não é de hoje que os grupos tentam fazer negócio com a Schin. Os dois ramos da família Schincariol, que detêm 100% do seu capital, já estão na segunda geração. São jovens na faixa dos 30 aos 35 anos, sem problemas sucessórios pela frente e, aparentemente, livres das incômodas disputas familiares.
Na última quinta-feira, quando perguntado pelo Valor sobre o futuro da Schincariol, se havia possibilidade de uma abertura de capital na bolsa ou se a companhia deveria continuar de controle familiar, seu presidente, Adriano Schincariol, respondeu, rindo: "A única coisa que está à venda na companhia é uma Schin bem gelada no balcão".
Objetivo é criar a "Coca-Cola das cervejas"
Criar "a Coca-Cola das cervejas" é a grande tacada que os maiores competidores mundiais da bebida desejam dar. Ainda não existe uma marca global de cervejas que seja tão popular quanto o famoso refrigerante de cola. O Brasil pode fazer toda a diferença nessa disputa, já que é um dos quatro maiores mercados mundiais de cerveja em volume, ao lado de China, Estados Unidos e Alemanha.
Não por acaso, a líder de mercado Ambev - dona de Skol, Brahma e Antarctica, as três cervejas mais vendidas do país, que juntas somam 61,8% de participação em volume - anunciou a chegada da Bud ao Brasil. A ideia é que a marca já esteja distribuída nos bares e restaurantes até o início do verão deste ano, como parte da estratégia de tornar a Bud um nome global.
A Heineken se esforça no mesmo sentido. No ano passado, a empresa deu um grande passo no mercado brasileiro ao comprar as operações de cerveja da Femsa, o que envolve as marcas Kaiser e Sol. Mas ainda não tem a distribuição direta do produto, uma atividade essencial no setor cervejeiro. Hoje, as bebidas da Heineken são distribuídas pela Coca-Cola. Com a compra da Schin, a Heineken ganharia um canal de distribuição direto em bares e varejo em geral.
Se adquirir a Schincariol, além de ter seu peso no varejo nacional ampliado consideravelmente - de 8% para quase 19% -, a Heineken passaria a contar com uma rede de 600 mil revendedores.
Já para a SAB Miller, é fundamental marcar posição nos grandes mercados globais para não correr o risco de se tornar alvo de aquisição. "Na América Latina, a empresa está no Peru, na Colômbia e no Equador, mas são mercados muito pouco representativos", diz o consultor Adalberto Viviane.
Para se ter uma ideia, afirma, o mercado peruano equivale a quanto cresceu o brasileiro, algo como R$ 1,5 bilhão. Em 2010, o setor faturou R$ 14,6 bilhões, com crescimento de 12%. Este ano, a previsão é de um aumento de 10%.
A Schin, por sua vez, estaria enfraquecida e prestes a ser ultrapassada pela Petrópolis, dona das marcas Itaipava e Crystal. A diferença entre ambas é de 0,17 ponto percentual - uma briga de 10,97% contra 10,8%, de acordo com a última leitura Nielsen, de fevereiro.
Mas enquanto a Petrópolis tem apenas quatro marcas, trabalhando no Sudeste e Centro-Oeste do país, a Schincariol tem 12 fábricas espalhadas em 11 Estados do país e marcas como Devassa e Baden Baden no portfólio. Mas essa estrutura não tem se mostrado suficiente para ganhar participação, diz um especialista. "O seu principal produto, a Schin, continua vinculado a preço, não se tornou uma marca de desejo do consumidor", afirma. Seja quem for o possível novo dono da Schincariol, terá a hercúlea missão de fazer frente à Ambev, dona de mais de dois terços do mercado nacional (68,2%).
Veículo: Valor Econômico